Joe Biden recebeu, nesta sexta-feira (18), os líderes do Japão e da Coreia do Sul em Camp David, perto de Washington, para uma cúpula que ele descreveu como “histórica” e na qual enviou uma mensagem de união em relação à China.

O presidente dos Estados Unidos, seu contraparte sul-coreano, Yoon Suk Yeol, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, anunciaram em uma coletiva de imprensa que os três países irão se consultar mutuamente de forma sistemática e “rápida” no futuro caso sejam alvo de “ameaças”.

“Temos a intenção de compartilhar informações e coordenar nossas mensagens e respostas”, declararam em um comunicado conjunto.

Biden elogiou a “coragem política” de seus convidados, que têm trabalhado para aproximar as posições de seus países apesar do passado doloroso da colonização da Coreia do Sul pelo Japão.

A escolha de Camp David tem um forte simbolismo, já que esta residência campestre está profundamente ligada à história da diplomacia dos Estados Unidos e às negociações de paz no Oriente Médio.

– “Perigoso” –

“Não estamos falando de um dia, uma semana ou um mês”, mas sim “de décadas” de cooperação, disse Biden sobre esse diálogo, amplamente criticado pela China.

Em uma declaração conjunta publicada nesta sexta-feira, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul condenaram o “comportamento perigoso e agressivo” e as reivindicações marítimas “ilegais” da China na região do Indo-Pacífico, em meio a tensões entre Pequim e Filipinas sobre um atol disputado.

“Nos opomos firmemente a qualquer tentativa unilateral de mudar o status quo nas águas do Indo-Pacífico”, declararam os líderes dos três países em um comunicado conjunto durante a cúpula em Camp David.

“Reiteramos a importância da paz e da estabilidade através do Estreito de Taiwan como um elemento indispensável para a segurança e prosperidade na comunidade internacional”, disse Biden.

“Há nenhuma mudança em nossas posições básicas sobre Taiwan e pedimos uma solução pacífica para os problemas no estreito”, acrescentou.

Eles também pediram à Coreia do Norte que “abandone seus programas nucleares e de mísseis balísticos”.

Os três países iniciarão um programa de exercícios militares conjuntos ao longo de vários anos.

No entanto, de acordo com o principal conselheiro de segurança da Casa Branca, Jake Sullivan, essa cooperação reforçada “não é uma Otan para o Pacífico”, que é uma aliança de defesa mútua.

Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul também se comprometeram a realizar uma cúpula desse tipo a cada ano, além de estabelecer um canal de comunicação de emergência de alto nível, uma espécie de “linha direta” em uma região que enfrenta a ameaça do programa nuclear da Coreia do Norte e teme uma invasão de Taiwan pela China.

Como era de se esperar, Pequim se opõe a esse novo diálogo. O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, deixou isso claro recentemente.

“Não importa o quanto você pinte seu cabelo de loiro ou quanto afinou seu nariz, você nunca pode se tornar europeu ou americano, nunca pode se tornar ocidental”, declarou, referindo-se a Seul e Tóquio em um vídeo compartilhado pela mídia oficial. “Devemos saber onde estão nossas raízes”, disse ele.

Ele instou a China, Coreia do Sul e Japão a “trabalharem juntos”.

A Casa Branca sabe que não há unanimidade na opinião pública coreana ou japonesa sobre a necessidade desse aproximação, apesar dos interesses estratégicos compartilhados.

Yoon, um conservador, rapidamente se tornou um aliado próximo dos Estados Unidos, e Biden o recebeu em uma visita de Estado na qual o líder sul-coreano encantou a plateia cantando “American Pie”.

No entanto, Yoon só pode cumprir um mandato que termina em 2027, explicou Scott Snyder, especialista em Coreia do Council on Foreign Relations. Essa é a razão, ele explicou, pela qual os sul-coreanos desejam institucionalizar o relacionamento “para se protegerem contra o risco de reversão” caso um presidente com ideias semelhantes não o suceda.

aue-sct/erl/ll/dga/am