EUA insiste em que plano para acabar com invasão russa da Ucrânia é bom para ambos

Os Estados Unidos insistiram, nesta quinta-feira (20), em que o plano para acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia, apoiado pelo presidente Donald Trump, é benéfico para ambas as partes, ao desconsiderar as preocupações de que o projeto acolhe muitas exigências de Moscou.

Horas antes, a Presidência ucraniana confirmou que havia recebido um “projeto de plano” dos Estados Unidos para encerrar a guerra e que o país estava pronto para trabalhar sobre seu conteúdo.

Kiev não revelou os distintos pontos do projeto, mas um alto funcionário familiarizado com o assunto disse à AFP que o esquema supostamente inclui demandas importantes da Rússia que a Ucrânia já rejeitou no passado e equiparou a uma capitulação.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, revelou que o enviado especial americano Steve Witkoff e o secretário de Estado Marco Rubio tinham trabalhado “discretamente” no projeto durante um mês.

“Está em processo de negociação e ainda está em revisão, mas o presidente apoia este plano. É um bom plano tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, e acreditamos que deveria ser aceitável para ambas as partes”, declarou.

A declaração de Leavitt representa a primeira confirmação oficial da Casa Branca sobre o rascunho do plano, depois que o veículo de informação americano Axios publicou uma notícia segundo a qual Washington e Moscou trabalhavam em sigilo em um plano para a Ucrânia.

O gabinete do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou que esperava discutir seu conteúdo com Trump nos próximos dias.

Esses anúncios coincidiram com a tomada de Kupyansk reivindicada pela Rússia na frente oriental da Ucrânia.

O Exército de Kiev negou ter perdido essa localidade-chave, que já tinha perdido para Moscou no início da invasão em 2022, e que depois recuperou.

A seguir, o que se sabe sobre a proposta apoiada por Trump.

– Território –

Uma fonte familiarizada com assunto compartilhou com a AFP alguns aspectos do plano que supostamente, tem 28 pontos. Ao que parece, contém demandas importantes da Rússia que a Ucrânia já rejeitou no passado. E, ao mesmo tempo, não deixa claro quais compromissos a Rússia assumiria em troca.

O plano, de acordo com a fonte, estabelece o “reconhecimento da Crimeia e de outras regiões que os russos tomaram”.

Em 2022, o Kremlin reivindicou a anexação de quatro regiões administrativas da Ucrânia — Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson –, embora não as controle na totalidade.

A Rússia também anexou a península da Crimeia em 2014, um território que está sob domínio absoluto de Moscou.

A Rússia havia exigido anteriormente que a Ucrânia se retirasse completamente de Donetsk e Luhansk, no leste, em troca de congelar a linha de frente nas regiões de Zaporizhzhia e Kherson, situadas mais ao sul.

Apesar de as autoridades ucranianas terem afirmado diversas vezes que nunca reconheceriam o controle russo sobre seu território, admitiram que poderiam ser forçadas a isso.

– Tropas e armamento –

O plano também inclui uma redução do Exército ucraniano para 400.000 efetivos, inferior à metade de seu tamanho atual, disse a fonte.

Além disso, Kiev deveria renunciar a seu armamento de longo alcance.

Outros meios informaram que estaria completamente proibido o destacamento de tropas ocidentais na Ucrânia.

Essas condições encaixam com as demandas russas, que incluem reduzir as forças armadas ucranianas, proibir novos recrutamentos e paralisar o envio de armas ocidentais.

A Ucrânia quer garantias de segurança dos países ocidentais, entre elas uma força de paz europeia, para prevenir novos ataques russos. A proposta supostamente inclui disposições desse tipo.

– De quem é o plano? –

O site Axios disse que o plano foi elaborado em conversas secretas entre o governo de Donald Trump e as autoridades russas.

“Parece que os russos propuseram isto aos americanos e eles aceitaram”, afirmou o alto funcionário à AFP.

“Um matiz importante é que não entendemos se isso é uma coisa de Trump” ou de “seu entorno”, acrescentou.

O responsável pela diplomacia americana, Marco Rubio, afirmou que “uma paz duradoura vai requerer que ambas as partes aceitem concessões difíceis, mas necessárias”.

Desde que voltou à Casa Branca, a postura do presidente americano sobre a guerra na Ucrânia tem oscilado drasticamente.

– Impulso à diplomacia? –

A Ucrânia confirmou na quinta-feira que recebeu o plano e disse que, segundo a análise de Estados Unidos, “poderia dar novo impulso à diplomacia”.

Zelensky se reuniu com oficiais do Exército americano em Kiev.

Mas o encontro acontece um dia depois de o enviado de Trump, Witkoff, faltar a uma reunião com Zelensky na Turquia.

A ausência de Washington supôs um duro golpe para Kiev, que esperava convencer Washington a pressionar a Rússia para deter sua invasão.

O Kremlin não quis fazer comentários ao ser questionado a respeito.

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