Estados Unidos e União Europeia (UE) estabeleceram nesta terça-feira (15) uma extensão de cinco anos da trégua no conflito interminável entre os grupos Boeing e Airbus, durante uma reunião do presidente Joe Biden com os principais líderes das instituições europeias.

A divergência se arrasta desde 2017, com pesadas tarifas punitivas dos dois lados, mas as partes decidiram tomar um prazo de até cinco anos sem sanções, ou tarifas recíprocas, para encontrar uma solução definitiva.

“Isto realmente abre um novo capítulo em nossa relação, porque passamos da disputa para a cooperação aeronáutica”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A representante americana do Comércio (USTR), Katherine Tai, disse que o acordo “resolve um longo fator de irritação na relação entre Estados Unidos e Europa”.

Em março, a UE e o governo americano decidiram suspender a aplicação das tarifas recíprocas até 11 de julho, e agora se preparam para uma trégua de vários anos.

O anúncio sobre a extensão da trégua deve ser formalizado ao final da reunião desta terça-feira entre Biden, Ursula von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

“É muito importante para os interesses dos Estados Unidos ter uma grande relação com a Otan e com a UE”, disse Biden ao ser recebido por Michel e Von der Leyen.

“Os Estados Unidos estão de volta”, completou.

– Conversa com “amigos” –

Pouco antes da chegada de Biden, Von der Leyen disse à imprensa que tinha “confiança de que vamos alcançar um acordo sobre o caso Airbus e Boeing, na conversa com nossos amigos americanos”.

“Não podemos subestimar isto. É a disputa mais longa na história da Organização Mundial do Comércio, de forma que é nosso interesse comum resolver”, completou, ao ser questionada sobre a iminência do anúncio do acordo.

A reunião entre Biden, Michel e Von der Leyen representa a retomada de uma relação que enfrentou momentos difíceis em anos recentes, devido ao acúmulo de disputas comerciais.

De acordo com fontes diplomáticas, uma declaração final posterior à reunião de cúpula mencionará todas as divergências comerciais. Os negociadores trabalhavam de maneira intensa em busca da linguagem adequada para mostrar boas intenções, mas sem ceder muito terreno.

Além da controvérsia entre Boeing e Airbus, um dos temas mais importantes é encontrar uma solução para a grave disputa comercial que começou em 2018 quando Trump adotou tarifas elevadas para a importação de aço e alumínio europeus.

A UE respondeu com a adoção de tarifas a produtos americanos que alcançaram 2,8 bilhões de euros.

– Gestos, não discursos –

Desde a chegada de Biden à Casa Branca, as partes deram sinais de interesse em uma solução, mas agora os europeus esperam gestos concretos, e não apenas discursos.

Os países da UE adiaram uma decisão sobre o aumento das tarifas e aguardam o próximo passo de Washington.

Mais de 100 entidades americanas e europeias de setores como o vinho, bebidas alcoólicas ou motocicletas divulgaram um comunicado, no qual pedem a eliminação “permanente” das taxas a seus produtos.

UE e Estados Unidos também estão em lados opostos da mesa por causa da decisão europeia de forçar os gigantes digitais a pagar mais impostos. A França deu o primeiro passo nesta iniciativa, ao anunciar multas a Google e Facebook.

Washington reagiu com medidas de resposta, mas o governo Biden decidiu suspendê-las para aguardar uma solução global sobre impostos às grandes empresas.

O governo americano também já expressou oposição a um acordo ambicioso anunciado pela União Europeia com a China sobre proteção a investimentos. O pacto permitiria às empresas europeias um acesso maior ao mercado chinês.

O acordo está virtualmente paralisado, porém, devido às sanções que a China adotou contra cidadãos europeus, uma represália às medidas restritivas da UE.