Montadora virou alvo de manifestantes, que criticam atuação de Elon Musk no governo americano. Na Alemanha, veículos foram incendiados.Multidões se reuniram neste sábado (29/03) do lado de fora de concessionárias da Tesla, nos EUA, para protestar contra a atuação do bilionário Elon Musk, dono da empresa automotiva, na chefia do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge), da presidência de Donald Trump.
No cargo, Musk obteve acesso a dados sigilosos e fechou agências inteiras enquanto busca cortar gastos do governo. A maior parte de sua fortuna, estimada em 340 bilhões de dólares (R$ 1,9 trilhão), vem das ações que ele possui na empresa de veículos elétricos, que continua dirigindo ao mesmo tempo em que trabalha na Casa Branca.
Protestos anteriores foram esporádicos, mas o sábado marcou a primeira tentativa de cercar todas as 277 lojas e centros de serviço da Tesla nos EUA, com a esperança de impulsionar a recente queda nas vendas da empresa.
No início da tarde, multidões que variavam de algumas dezenas a centenas de manifestantes já haviam se reunido em locais da Tesla em Nova Jersey, Massachusetts, Connecticut, Nova York, Maryland, Minnesota e no estado natal da montadora, o Texas. Fotos publicadas nas redes sociais mostravam pessoas segurando cartazes com frases como "Buzine se odeia Elon" e "Queime a Tesla, salve a democracia".
Veículos incendiados na Alemanha
O movimento apelidado de Tesla Takedown também esperava mobilizar protestos em mais de 230 locais da montadora ao redor do mundo. Embora as manifestações na Europa não tenham sido tão grandes quanto nos EUA, o sentimento anti-Musk era semelhante.
Cerca de duas dúzias de manifestantes seguravam cartazes criticando Musk em frente a uma concessionária da Tesla em Londres, enquanto carros e caminhões que passavam buzinavam em apoio.
Um dos cartazes no protesto de Londres exibia uma foto de Musk ao lado de uma imagem de Adolf Hitler fazendo a saudação nazista – um gesto que Musk foi acusado de repetir logo após a posse de Trump em 20 de janeiro. Uma pessoa vestida com uma fantasia de tiranossauro rex segurava outro cartaz com uma foto do gesto de Musk, que dizia: "Você achava que os nazistas estavam extintos".
"Queremos apenas fazer barulho, chamar atenção e conscientizar as pessoas sobre os problemas que estamos enfrentando", disse Cam Whitten, um americano que participou do protesto em Londres.
Na Alemanha, protestos menores foram organizados em Berlim e em outras cidades. Sete carros elétricos da empresa foram incendiados nas primeiras horas da manhã em uma concessionária de automóveis em Ottersberg, no norte do país, como preâmbulo de protestos que tiveram pouca adesão.
Cerca de dez pessoas, por exemplo, ficaram do lado de fora de uma loja da Tesla no distrito de Reinickendorf, ao norte da capital, e estenderam uma faixa com os dizeres: "Desligue a Tesla". Em um shopping center no distrito central de Berlin-Mitte, vários manifestantes abriram guarda-chuvas laranja no showroom da Tesla e se deitaram no chão. Ações semelhantes ocorreram em Munique e Nuremberg.
Nos EUA, o Tesla Takedown foi organizado por um grupo de apoiadores que incluía proprietários dos veículos da Tesla, celebridades como o ator John Cusack e pelo menos uma legisladora do Partido Democrata, a deputada Jasmine Crockett, de Dallas.
Crockett e outros apoiadores do Tesla Takedown têm enfatizado a importância de manter os protestos pacíficos.
Porém, também nos EUA, algumas pessoas contrárias a Musk incendiaram veículos da Tesla, além de cometer outros atos de vandalismo que a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, classificou como terrorismo doméstico.
Musk prevê recorde de vendas
Musk demonstrou perplexidade com os ataques durante uma reunião da empresa em 20 de março e disse que os vândalos deveriam "parar de agir como psicopatas".
Um número crescente de consumidores que compraram veículos da Tesla antes de Musk assumir o Doge tem tentado vender ou trocar seus carros. Outros colam adesivos nos para-choques tentando se distanciar dos esforços do bilionário para reduzir ou fechar agências governamentais.
Mas Musk não pareceu preocupado com a queda prolongada nas vendas de carros novos da Tesla em seu discurso aos funcionários no dia 20 de março. Ele tranquilizou os trabalhadores dizendo que o Model Y, que está passando por uma reformulação, continuaria sendo "o carro mais vendido do mundo novamente este ano". Ele também previu que a Tesla venderia mais de 10 milhões de carros em todo o mundo até o próximo ano.
"Há momentos turbulentos, momentos de tempestade, mas o que estou aqui para dizer é que o futuro é incrivelmente brilhante e empolgante", disse Musk.
Após a eleição de Trump em novembro passado, os investidores inicialmente viam a aliança de Musk com o presidente como um desenvolvimento positivo para a Tesla e seus esforços de longa data para lançar uma rede de carros autônomos.
Esse otimismo ajudou a elevar as ações da Tesla em 70% no período entre a eleição de Trump, em 5 de novembro, e sua posse, em 20 de janeiro. Mas praticamente todos esses ganhos evaporaram devido às preocupações dos investidores com a reação negativa contra a Tesla, a queda nas vendas nos EUA, Europa e China e o tempo que Musk tem dedicado à administração do Doge.
gq (DW, AP)