Estados Unidos e China se sentaram nesta quinta-feira (10) em Washington para abordar o fim de sua guerra comercial, mas as negociações parecem ter chegado a um beco sem saída.

O presidente Donald Trump disse no Twitter que planeja se reunir nesta sexta-feira com o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, chefe dos negociadores de Pequim, quando as esperanças de que alcance um grande acordo imediatamente são quase nulas.

O anúncio de Trump fez as ações dispararem em Wall Street, acalmando os temores provocados por um relatório da imprensa indicando que a China poderia se retirar mais cedo das negociações, dado o escasso progresso nos diálogos preliminares.

Mas o clima parecia mudar quando as deliberações de alto nível foram abertas. Liu mostrou um sorriso largo quando cumprimentou os principais negociadores americanos, o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, na abertura das deliberações.

Na noite de quarta-feira, Liu disse em Washington que sua delegação veio falar “com grande sinceridade” e que espera alcançar um patamar comum com os americanos, segundo a imprensa chinesa.

As negociações serão realizadas na quinta-feira à noite, mas não está confirmado se elas serão estendidas até sexta.

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As tarifas americanas sobre US$ 250 bilhões em importações chinesas aumentarão em cinco dias, e nesta semana não foi possível ocultar a acentuada deterioração das relações entre os dois países.

Trump, que lançou várias ofensivas comerciais contra China, Europa e outros aliados no ano passado, reiterou nesta quinta-feira que o resultado dependia dele. “Grande dia de negociações com a China. Eles querem fazer um acordo, mas eu quero?”, escreveu o presidente no Twitter.

Desde segunda-feira, Washington impôs restrições de visto a altas autoridades chinesas e colocou mais de 20 empresas chinesas em uma lista suja, acusando-as de perseguir muçulmanos na região chinesa de Xinjiang.

Essas medidas irritaram Pequim e o processo afetou grandes empresas do setor de inteligência artificial – no qual China e Estados Unidos são grandes concorrentes.

Mas a atitude de Trump está sujeita a mudanças repentinas, dados os sérios problemas que lhe rondam.

O presidente enfrenta o ataque da oposição democrata para submetê-lo a um processo de impeachment. Ele também está no centro das críticas por ter tolerado o ataque militar da Turquia aos curdos, apoiados pelos EUA, depois de afastado da fronteira as forças que o Pentágono tinha enviado para o norte da Síria.

Nas últimas 24 horas, os mercados receberam com esperança alguns artigos de imprensa que sugeriam que Pequim iria propor aos Estados Unidos um acordo parcial para evitar o aumento do conflito que eles atravessam há um ano e meio.

A China quer comprar mais produtos agrícolas americanos e fazer outras concessões, mas ainda está longe de atender às principais preocupações de Trump, disseram a agência Bloomberg e o jornal The Financial Times.

Em troca, Pequim espera que Trump interrompa sua programação de aumento de tarifas.

No início desta semana, Peter Navarro, ex-consultor comercial da Casa Branca, disse que Trump não quer meias medidas.

– Sem acordo parcial –


“Ou é um grande acordo, ou não há acordo”, disse ele e acrescentou que seria um “erro de cálculo” a China quer pechinchar.

Washington acusa a China de tentar dominar a indústria mundial por meio de intervenções estatais gigantescas no mercado, roubo de propriedade intelectual, pirataria e subsídios inadequados. Essas acusações são compartilhadas pela Europa e pelo Japão.

Mas Clete Williams, ex-consultor comercial de Trump, disse na quarta-feira que um acordo parcial seria a melhor jogada para o presidente.

“Não acho que o governo deva temer um acordo parcial”, disse ele à rede de TV CNBC. Ele acredita que um acordo que inclui reformas estruturais da economia chinesa poderia dar a Trump uma boa margem para continuar buscando novas reformas.

As compras chinesas de soja americana, vitais para a agricultura americana, aumentaram em setembro, depois de meses de estagnação. Mas os sinais de alerta sobre as perspectivas de menor crescimento econômico global se multiplicaram nas últimas semanas e aumentaram a pressão para que a China e os Estados Unidos alcançassem um acordo.


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