EUA confirmam implosão e morte de passageiros de submarino

Guarda Costeira americana diz que destroços encontrados são do submersível Titan, que implodiu de forma "catastrófica" perto do Titanic, sem deixar sobreviventes. Veículo havia desaparecido no domingo, com cinco a bordo.A Guarda Costeira dos Estados Unidos confirmou que destroços encontrados nesta quinta-feira (22/06) no fundo do oceano por um veículo operado remotamente pertencem ao submersível Titan, que havia desaparecido no domingo com cinco pessoas a bordo.

O órgão americano informou que o pequeno submarino, que levava turistas aos destroços do Titanic, implodiu perto do navio naufragado, no fundo do Oceano Atlântico, sem deixar sobreviventes.

"Os destroços são consistentes com a perda catastrófica da câmara de pressão", disse o contra-almirante John Mauger, da Guarda Costeira dos EUA. "A manifestação de apoio nessa operação de busca altamente complexa foi muito apreciada. Nossas mais sinceras condolências vão para os amigos e entes queridos da tripulação."

Pouco antes, um comunicado da empresa americana OceanGate Expeditions, que operava o Titan, já havia informado que os cinco passageiros foram "tristemente perdidos".

A bordo estavam o bilionário empresário britânico Hamish Harding, de 58 anos; o empresário paquistanês Shahzada Dawood, de 48 anos, e o filho dele, Suleman, de 19 anos; o presidente da OceanGate, Stockton Rush, de 61 anos; e o operador de submarino francês Paul-Henri Nargeolet, apelidado de "Sr. Titanic" devido a seus frequentes mergulhos no local.

Segundo a Guarda Costeira dos EUA, os destroços encontrados nesta quinta correspondem à parte externa do submersível e estavam localizados a cerca de 488 metros do naufragado Titanic.

Ainda não está claro se a implosão ocorreu no domingo ou nos dias seguintes. A Guarda Costeira informou, contudo, que "sonares não detectaram eventos catastróficos nas últimas 72h", sugerindo que a implosão teria acontecido antes do início das buscas.

O órgão americano garantiu que as operações continuarão no fundo do mar em busca dos demais destroços do Titan, bem como dos restos mortais das cinco vítimas.

As buscas

A busca desesperada pelo Titan atingiu um estágio crítico na manhã desta quinta-feira, quando se estimava que o suprimento de oxigênio dentro do submersível teria se esgotado.

A viagem do submersível começou na sexta-feira passada, partindo do Canadá, a bordo do navio quebra-gelo Polar Prince. No domingo, o Polar Prince chegou à área onde o Titanic afundou, a cerca de 600 quilômetros da costa canadense.

O Titan iniciou seu mergulho logo em seguida, mas acabou perdendo contato com seu navio de apoio cerca de 1 hora e 45 minutos depois, o que desencadeou uma operação internacional de buscas.

O submersível havia partido com 96 horas de oxigênio disponíveis a bordo, segundo a OceanGate Expeditions, o que significa que o prazo para o fim dos estoques teria terminado na manhã desta quinta – isso supondo que o Titan ainda estivesse intacto.

Em meio à corrida contra o tempo, mais dois robôs teleguiados foram deslocados nesta quinta-feira à procura do submersível. As buscas, que também incluíram aviões militares americanos e canadenses e navios da guarda costeira, ocorreram em uma vasta faixa do Atlântico Norte, desde a superfície do oceano até uma profundidade de quase quatro quilômetros.

Na quarta-feira, a Guarda Costeira americana informou que sons subaquáticos haviam sido detectados. As equipes passaram então a concentrar seus esforços na área próxima aos "estrondos", os quais aumentaram a esperança de que os passageiros ainda estivessem vivos – embora os especialistas não tenham conseguido confirmar a origem dos sons.

Já nesta quinta, a Guarda Costeira informou que destroços haviam sido encontrados na área onde se realizavam as buscas. Horas depois, veio a confirmação de que se tratava do Titan.

A expedição ao Titanic: tragédia anunciada?

A OceanGate Expeditions cobra de seus clientes até 250 mil dólares (cerca de R$ 1,1 milhão) por uma expedição de oito dias e sete noites que inclui um lugar a bordo de seu submersível para ver o famoso naufrágio.

O mergulho até os destroços, incluindo ida e volta, dura em torno de oito horas: são cerca de duas horas de ida, duas de volta e mais o tempo para observar o Titanic, que afundou após bater em um iceberg em 14 de abril de 1912.

Apesar de se tratar de uma expedição de centenas de milhares de dólares, a tragédia com o submersível Titan foi precedida por uma série de falhas e condutas imprudentes por parte da OceanGate Expeditions.

O jornalista David Pogue, da emissora americana CBS News, que participou do mergulho com o Titan no ano passado, afirmou que o submersível não possui GPS e é conduzido por meio de mensagens de texto enviadas de sua embarcação de apoio na superfície.

Na reportagem, Pogue também contou que muitas das peças do pequeno submarino são improvisadas. "Por exemplo, você pilota com um controle de videogame", revelou o repórter.

O joystick em questão é do modelo Logitech F710, que foi lançado em 2011 e é usado principalmente para jogar no computador. Segundo a imprensa brasileira, o controle pode ser encontrado facilmente no mercado nacional, por preços de ao menos R$ 275.

No submersível Titan, o joystick parece ter sido modificado para facilitar o comando de um veículo subaquático, tendo seus botões alongados, segundo mostrou a reportagem da CBS.

Outro problema envolvendo o submersível seria sua janela de visualização, que, segundo um ex-funcionário da OceanGate, tinha certificação para aguentar pressões de até 1.300 metros – sendo que os destroços do Titanic estão localizados a uma profundidade de 3.800 metros.

Em 2018, uma carta assinada por 38 empresários, exploradores e oceanógrafos já havia alertado para "os potenciais perigos para os passageiros do Titan quando o submersível atingisse profundidades extremas".

O documento, enviado ao presidente da OceanGate, Stockton Rush, que agora morreu no submarino, expressava "preocupação unânime" com a "abordagem 'experimental' adotada", podendo levar a "resultados negativos (de menores a catastróficos) com sérias consequências para todos".

ek (AFP, Reuters, AP, Lusa, ots)