EUA avaliam uso de bomba antibunker contra o Irã

EUA avaliam uso de bomba antibunker contra o Irã

"BombaArmamento poderia romper proteção antiaérea de instalação nuclear de Fordo. Possível envio de aparato militar alimenta especulações de que os EUA consideram se juntar à ofensiva israelense.Assim que Israel iniciou sua ofensiva contra o Irã, na última sexta-feira (13/06), os Estados Unidos correram para negar envolvimento nos ataques, que miraram instalações nucleares e militares da república islâmica. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou no mesmo dia que Israel tomou medidas "unilaterais", e o presidente Donald Trump defendeu uma saída diplomática.

Em menos de uma semana, contudo, essa postura mudou. Nesta quarta-feira (18/06), os EUA ventilaram abertamente a possibilidade de fornecer a Israel uma bomba antibunker de alto impacto, que poderia ser capaz de atingir o núcleo da instalação nuclear de Fordo.

Situada no interior de uma montanha, debaixo da terra e protegida de ataques aéreos, Fordo produz urânio altamente enriquecido.

O armamento capaz de destruí-la foi mencionado pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, em audiência no Congresso americano. Segundo ele, o Pentágono forneceu opções a Trump sobre os próximos passos a serem tomados em relação ao Irã, incluindo a disponibilidade do explosivo.

"Nosso trabalho no Departamento de Defesa é estarmos a postos e preparados com opções. E é exatamente isso que estamos fazendo", disse Hegseth nesta quarta.

Chamado de GBU-57, a bomba guiada com precisão pesa pouco menos de 14 toneladas e foi projetada para atingir alvos subterrâneos profundos.

Seu uso, porém, exigiria uma participação mais ativa dos EUA no conflito, já que o armamento precisa ser lançado por aviões bombardeiros furtivos B-2, provavelmente pilotado por militares americanos.

EUA emitem sinais de possível entrada no conflito Irã-Israel

Durante a sabatina no Senado, Hegseth ainda afirmou que as tropas americanas na região estão sob "proteção máxima", e que cabe a Trump decidir se os EUA entrarão no conflito – um caminho que parece cada vez mais provável, a julgar pelas falas do republicano.

Nesta quarta-feira, o presidente se recusou a dizer se ordenará um ataque americano, mas deixou a possibilidade em aberto.

"Talvez eu faça, talvez não", declarou a jornalistas na Casa Branca. "Quero dizer, ninguém sabe o que vou fazer."

O embaixador dos EUA, Mike Huckabee, afirmou que o país já organiza uma evacuação de seus cidadãos de Israel, inclusive por via marítima.

Segundo ele, a embaixada americana em Jerusalém está coordenando os esforços. A mesma decisão foi tomada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que disse desaconselhar "fortemente qualquer viagem a esses dois países [Israel e Irã]".

Trump diz que Ali Khamenei é "alvo fácil"

Na terça-feira, Trump foi mais incisivo. Em sua rede social, escreveu que os EUA sabem a localização exata do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. "Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá – não vamos tirá-lo de lá (matá-lo!), pelo menos não por enquanto", ameaçou.

Em um discurso lido por apresentadores da TV estatatal, Khamenei respondeu, afirmando que qualquer ataque dos Estados Unidos ao território iraniano resultará em "danos irreparáveis", e que o país não cederá à pressão.

"Desejo boa sorte a ele", respondeu o presidente americano, em tom irônico, ao ser questionado sobre a recusa do líder supremo iraniano.

Especulações sobre participação americana crescem

As especulações sobre uma intervenção americana no conflito cresceram na segunda, quando Trump deixou abruptamente a cúpula do G7, no Canadá, para discutir o conflito com o Conselho de Segurança Nacional americano. "Não estou com muita vontade de negociar com o Irã", disse aos repórteres a bordo do Air Force One.

De volta a Washington, o presidente postou mensagem em que exigia "rendição incondicional" do Irã.

Israel tem pressionado Trump para que se envolva mais ativamente em sua campanha para desmantelar as instalações nucleares do Irã, muitas delas construídas no subsolo. Segundo autoridades envolvidas nas negociações, Israel conta com armas e aviões americanos para atingir esses alvos de difícil acesso.

Na terça, o vice-presidente americano, J.D. Vance, deu um dos sinais mais claros até o momento de que Trump considera o chamado de Israel. Ele postou no X que o presidente "pode decidir que precisa tomar medidas adicionais para acabar com o enriquecimento de urânio do Irã". "Essa decisão, em última instância, pertence ao presidente", complementou.

Segundo apuração do The New York Times, além das bombas antibunker, Trump também poderia enviar aviões-tanque para permitir que os caças israelenses realizem missões de longo alcance.

Esmail Baghaei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, alertou que qualquer intervenção americana seria "uma receita para uma guerra total na região", em entrevista ao site em inglês da Al Jazeera. Ele também sugeriu que o Irã permanece aberto a uma solução negociada. "A diplomacia nunca acaba."

Sinais de cooperação

Membros do governo americano insistem que não tomaram decisão sobre qualquer intervenção, que as forças armadas não participaram ativamente do embate até o momento, e que os ataques realizados foram defensivos, para derrubar mísseis iranianos e proteger Israel e as bases americanas.

Mas o governo americano demonstrou sua disposição em atuar do lado de Israel desde que as tensões entre os dois rivais se acirraram. Os EUA determinaram o redirecionamento do porta-aviões USS Nimitz, que estava no Mar da China Meridional, para o Oriente Médio. A previsão é que ele chegue até o fim do mês.

Enquanto isso, o porta-aviões USS Carl Vinson está no Mar da Arábia com mais quatro navios de guerra, como parte da defesa de Israel, posicionados para fornecer segurança às tropas e bases dos EUA ao longo do Golfo de Omã e do Golfo Pérsico.

Aeronaves americanas também foram deslocadas para a região. "Agora temos controle total e completo dos céus do Irã", escreveu Trump em sua rede social. "O Irã tinha bons rastreadores de céu e outros equipamentos defensivos, muitos deles, mas não se comparam às 'coisas' feitas, concebidas e fabricadas pelos americanos. Ninguém faz isso melhor do que o bom e velho EUA."

A Aurora Intel, grupo que analisa informações de sites públicos de rastreamento de aviões, informou que a Força Aérea dos EUA posicionou mais aeronaves de reabastecimento e caças em locais estratégicos na Europa, incluindo Inglaterra, Espanha, Alemanha e Grécia.

Os militares americanos na região estão em alerta máximo, com precauções adicionais de segurança. Há cerca de 40 mil soldados americanos baseados no Oriente Médio – esse número chegou a 43 mil em outubro, em resposta ao aumento das tensões entre Israel e Irã e aos contínuos ataques a navios comerciais no Mar Vermelho pelos houtis, apoiados pelo Irã no Iêmen.

Conflito se intensifica

A mídia iraniana relatou várias explosões na terça-feira na cidade central de Isfahan, que abriga instalações nucleares.

Áreas residenciais de ambos os países sofreram ataques mortais desde o início dos combates. Israel alega que seus ataques mataram o comandante iraniano Ali Shadmani e seu antecessor, Gholam Ali Rashid, entre outros generais e cientistas envolvidos no programa nuclear.

O conflito inviabilizou as negociações nucleares entre Teerã e Washington, com o Irã dizendo que não negociaria mais com os Estados Unidos enquanto estivesse sob ataque.

Emmanuel Macron disse que Trump tinha um papel fundamental a desempenhar no reinício da diplomacia com o Irã, onde as tentativas de mudança de regime trariam o "caos".

Os ataques contra o Irã foram deflagrados por Israel sob a justificativa de impedir que a República Islâmica desenvolva armas nucleares – pretensão que o Irã nega ter. Teerã, que é signatário do Tratado Internacional de Não Proliferação, que veta armas nucleares, alega desenvolver a tecnologia somente para fins civis.

Israel, que não é signatária desse tratado, é o único país do Oriente Médio que, acredita-se, dispõe de tais armas – algo que Tel Aviv não nega nem confirma.

Antes de ser bombardeado por Israel, porém, o Irã foi censurado pela AIEA, órgão de fiscalização nuclear da ONU, por descumprir obrigações previstas no tratado pela primeira vez em 20 anos.

Desde sexta-feira, pelo menos 24 pessoas foram mortas em Israel e centenas ficaram feridas, de acordo com o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O Irã disse no domingo que os ataques israelenses mataram pelo menos 224 pessoas, incluindo comandantes militares, cientistas nucleares e civis.

sf/gq/ra (AFP, AP, Lusa, ots)