Mais de 200 pessoas presas nos EUA em meio à tensão racial

Mais de 200 pessoas presas nos EUA em meio à tensão racial

As autoridades policiais dos Estados Unidos prenderam mais de 200 pessoas em várias cidades do país durante manifestações no sábado à noite (9), em meio à forte tensão entre cidadãos afro-americanos e a Polícia.

As detenções acontecem 48 horas depois que Micah Johnson, um veterano de guerra negro de 25 anos, atirou contra policiais brancos em Dallas, no Texas, matando cinco deles.

O presidente Barack Obama, que está na Espanha, irá a Dallas na próxima terça (12) e discursará na cerimônia em homenagem aos agentes mortos na quinta passada (7), conforme anúncio feito pela Casa Branca neste domingo.

A maioria das manifestações de ontem – organizadas para lembrar das vítimas da violência policial, sobretudo, as duas mais recentes – transcorreu de forma pacífica.

Alton Sterling e Philando Castile foram abatidos por policiais nesta última semana, em Louisianna e Minnesota, respectivamente, e suas mortes foram filmadas. As imagens se espalharam rapidamente pelas redes sociais e comoveram os Estados Unidos.

O mais recente episódio da violência policial ocorreu ontem à noite, em Houston, principal cidade do Texas. Um homem negro morreu ao ser baleado por policiais. Alva Braziel levava uma arma de fogo, que se negou a soltar, garantiu a Polícia, citada pela imprensa local.

Manifestações e detenções

Uma multidão foi às ruas em Nova York, Los Angeles e São Francisco.

As autoridades informaram que houve confronto em Saint Paul, cidade de Minnesota onde Castile foi morto. Ao todo, 21 agentes que acompanhavam o ato na noite de sábado ficaram feridos, quando alguns manifestantes começaram a jogar pedras e se negaram a liberar uma via. A confusão terminou com 102 detidos.

“Isso não tem nada a ver com o luto, não tem nada a ver com uma manifestação. Isso se chama perturbação da ordem, se chama violência”, declarou o prefeito de Saint Paul, Chris Coleman.

“Não vamos tolerar esse tipo de violência inqualificável”, avisou.

“Ontem à noite, os manifestantes se transformaram em delinquentes. Estou (…) enojado com as ações de alguns deles. Não vamos aceitar isso”, advertiu o chefe da Polícia local, Todd Axtell.

Outra manifestação tensa aconteceu em Baton Rouge, em Louisianna, cidade onde Sterling, um vendedor ambulante também negro, foi jogado no chão por dois policiais e abatido à queima-roupa. Lá, mais de 100 pessoas foram detidas, segundo a imprensa local, citando fontes oficiais.

Durante a passeata, o ativista do movimento Black Lives Matter (BLM) DeRay McKesson filmava e transmitia ao vivo sua própria detenção, pelo aplicativo Periscope.

“A polícia nos provocou durante toda a noite”, afirma em um vídeo divulgado em sua conta @deray.

“Nós não bloqueamos a rua, ou qualquer outra coisa”, completa.

Subitamente, a imagem é interrompida e é possível ouvir uma voz: “Polícia da cidade. Você está preso, não resista”.

Outro ativista pega o telefone celular e retoma o vídeo ao questionar o policial sobre o motivo da detenção de McKesson, que é levado com as mãos nas costas, segundo imagens divulgadas nas redes sociais.

McKesson foi solto horas mais tarde, depois de pagar multa de US$ 500 por obstruir uma autoestrada.

Bahamas emite advertência de viagem aos EUA

De Madri, Obama pediu calma.

“Quando aqueles de nós que estão preocupados com a imparcialidade do Sistema Judiciário atacam oficiais da polícia estão prestando um desserviço à causa”, declarou.

“Antes de mais nada, qualquer ato de violência contra a polícia é um crime repreensível e deve ser processado”, afirmou Obama.

“Até mesmo de maneira retórica, se generalizamos e não reconhecemos que a grande maioria dos oficiais de polícia está fazendo um bom trabalho e busca proteger a população (…) perderemos aliados para uma reforma”, destacou Obama.

O presidente decidiu encurtar sua visita à Espanha para retornar o mais rápido possível aos EUA após o ataque em Dallas.

Diante dessa crescente tensão, o governo das Bahamas, um país com população majoritariamente negra, pediu a seus cidadãos que tenham cuidado ao viajar para os Estados Unidos.

“Não seja polêmico e coopere” ao tratar com policiais, recomendou o Ministério das Relações Exteriores, dirigindo-se em particular aos homens jovens de seu país.