Pioneiro do colunismo social televisivo no Brasil e no ar há mais de 40 anos ininterruptos, Amaury Jr., de 68 anos, vai dar uma pausa. No mês passado, ele decidiu não renovar o contrato com a TV Band porque se tornou sócio de um canal em Orlando, na Flórida. O objetivo do comunicador é ser um divulgador do Brasil na cidade americana. Entre um café e outro e baforadas em um cigarro importado, ele recebeu a reportagem de ISTOÉ em sua produtora, na Zona Oeste da capital paulista e disse que está tentando parar de fumar. Além de revelar que votou em Jair Bolsonaro para presidente, Amaury reclamou da sensação de insegurança no Brasil e divagou sobre a relação dos famosos com as mídias sociais. “Eu não quero mais ver mulher pelada. As pessoas se perderam. Elas postam foto até sentadas na privada. O nu que ninguém pediu é o pior do mundo. Acho vulgar”, diz.

O senhor deixou de renovar o contrato de seu programa semanal com a Band e está se mudando para Orlando, nos Estados Unidos. Por quê?

Conheci um empresário muito sério de Orlando chamado Claudio Costa, com quem eu tive uma afinidade instantânea. O negócio principal dele é uma das maiores agências de turismo da Flórida. Ele é apaixonado por televisão e acabou se juntando a um grupo de pessoas para montar um canal, chamado CBTV — Canal Brasil de Televisão. É o único canal de TV brasileiro em português para o mundo. Quando eu estava na RedeTV, meu programa diário era exibido lá, com uma repercussão impressionante. Uma aeromoça parisiense chegou a me parar no aeroporto falando que via meu programa pela CBTV. Acabo de me tornar sócio do canal. Fiquei com 50% e tenho a obrigação de lotar a programação.

Você está deixando o Brasil definitivamente?

Não vou abandonar o Brasil, nem quero isso. Posso muito bem me dividir entre São Paulo e Orlando quando o projeto na televisão estiver implantado, andando sozinho. Eu tenho uma casa em Orlando há 22 anos. E não precisava ter um olhar privilegiado para perceber desde o início que a cidade se transformaria no mais importante centro de entretenimento do mundo. Meu sócio é muito ativo, muito produtivo e estamos pensando em outros nomes importantes para se ligar ao canal. Quero tentar conversar com o governo Bolsonaro, pois pode ser um investimento pequeno com grande efeito na divulgação do Brasil lá fora como destino turístico. Com esse canal vou ser uma espécie de embaixador do Brasil para o mundo. Precisamos mostrar nosso país, com documentários sobre nossa cultura, nosso povo, nossa culinária. E as nossas festas, claro, se sobrar alguma.

As festas, que foram o seu ambiente de trabalho durante 40 anos de carreira, estão acabando?

Sim. Esse é um dos motivos pelos quais eu não aceitei quando a Band falou em renovar meu contrato com um programa diário, num horário que não me convinha, de madrugada. O Brasil não tem mais conteúdo para abastecer uma atração diária cujo DNA são eventos, festas e notícias extraídas desses eventos. Não tem mais, porque o mundo mudou. Não ocorrem mais festas importantes todos os dias, como antes. Hoje são duas ou três por mês. E mesmo assim são eventos com objetivos comerciais. Antes, as pessoas tinham o prazer de “ostentar”. Quem não tinha dinheiro, gostava de dizer que tinha. E quem tinha, gostava de dizer que tinha muito mais. Hoje é o contrário. O mundo mudou e você precisa se adaptar.

Os brasileiros ricos e influentes não querem mais se tornar celebridades?

Eu gosto de usar o termo “celebutante”, que é o debutante de celebridade. Quando eu apareci na televisão, ninguém falava de celebridade, só eu. Hoje, qualquer televisão, em qualquer horário, tem um programa dedicado a isso. A Larissa Manoela, por exemplo, é importante. Ela é uma atriz de sucesso, mas não podemos só ficar nela e em gente de TV. Não podemos abandonar a essência da coluna social, que também é mostrar as pessoas que fazem o Brasil crescer ou que executam trabalhos incríveis, como a Milu Villela (presidente do Itaú Cultural). Em vez disso, as pessoas preferem dar audiência para a Anitta. Por outro lado, muita gente importante não quer mais se expor. Eu sou convidado para jantares, eventos e festas, mas sem câmera, como amigo. O Brasil ficou perigoso para a exposição, desde quando começaram os grandes sequestros. As pessoas morrem de medo.

A sensação de insegurança é um dos motivos que está levando o senhor a mudar-se para Orlando?

Claro que eu me sinto muito melhor lá do que aqui. Quem não se sente. Mas isso não significa que eu vou abandonar minhas raízes. O Brasil foi se estragando de tal forma, principalmente na área de segurança. A vida noturna sofreu muito e continua sofrendo. Hoje, para sair à noite, é preciso fazer uma verdadeira operação de guerra. Levantei e meu chuveiro não me matou eletrocutado, ótimo. Vou sair para a rua, espero que não leve um tiro, e assim vai indo. Não quero viver assim, não.

Além da questão da segurança, o que mais o senhor teme?

Eu tenho medo todo dia. Medo do próximo lance. Sou um cara assumidamente ansioso. Minhas emoções são um problema. Já tive depressão durante um ano. Tomo remédio até hoje: ansiolíticos para me segurar, calmantes.

Como mantém a aparência?

Alguns botoxzinhos de vez em quando, se bem que faz tempo que não faço. Uma vez eu fiz um procedimento para tirar o papo, para ficar melhor na televisão, mas já voltou tudo. Tomo muito antioxidante. Eu sou um pouco hipocondríaco. Mas não é isso. Eu sou, na verdade, um grande pesquisador de antioxidantes e tomo 50 vitaminas por dia.

Sua fama de bom moço é justificada?

Se alguém me sacaneia, é melhor sair do meu perímetro de destruição. Não sou só o bom menino que todo mundo acha. Às vezes preciso me defender.

Colunismo social é uma profissão solitária?

Totalmente, você conta nos dedos as pessoas com quem pode contar na hora do bode, ou seja, os verdadeiros amigos. Pode ser uma sensação minha, mas eu tenho pouquíssimos amigos, que são aqueles para quem eu ligo nas horas mais difíceis. Eu cometeria erros se eu os nomeasse aqui, mas são de outras áreas. Quando uma pessoa adquire notoriedade no que faz, se não tiver um equilíbrio muito bom, acaba confundindo o que ela é com o que ela representa. O holofote nos ilumina, mas também nos queima, destrói. Eu acredito que consegui um bom lugar ao longo desse meu período trabalhando. Fiz muitas inimizades durante esses anos, mas nunca recebi uma recusa para uma entrevista. Não sem uma boa desculpa ou sem que eu conseguisse numa segunda tentativa.

O senhor gosta de trabalhar com muito humor. Como lida com o politicamente correto dos dias de hoje?

Não dá mais para fazer humor. Antes não tinha internet e nada viralizava. Hoje, para escrever alguma coisa, é preciso pensar três vezes antes. Porque agora isso ou aquilo pode dar problema, toda aquela encheção. Mudou tudo. Se Dercy Gonçalves ressuscitasse, era capaz de ser fuzilada. Ela falava coisas geniais.

Como a internet impacta no seu trabalho?

Está muito complicado. Antes, nós, colunistas sociais, éramos os alto-falantes dos famosos. Hoje cada um reverbera o que quiser no seu canal em redes sociais e tchau para os colunistas. Ficou muito mais difícil. A rapidez engole a nossa lentidão circunstancial. Os grandes bailes e as festas, atualmente, como o da Vogue e o do Copa, se você não colocar ao vivo, no dia seguinte os filminhos dos famosos já estão sendo noticia e você fica para trás. As pessoas preferem ver 10 segundos da festa no celular a 30 minutos na TV. Mudou tudo e estamos tentando dançar de acordo com a nova música e o novo ritmo. É preciso ir ao encontro do que a nova geração quer. Se bem que os jovens estão muito contaminados pela internet. Trata-se de um recurso maravilhoso, mas eu desconfio até do Google. Quando quero confirmar uma informação, vou buscar na antiga enciclopédia do meu pai.

Falta informação confiável nas postagens das celebridades?

O que eu não gosto muito, mas é o que o público mais gosta, é dessa vulgaridade pueril. “Ah, eu estou fazendo isso, estou fazendo aquilo.” Não tem notícia. Se você fizer uma pesquisa no meu Instagram, por outro lado, todas as legendas tem alguma informação nova. Foi assim que eu sobrevivi por 40 anos na televisão, fazendo festas, participando do frufru, vendo dietas e vestidos, mas sempre com uma informação por trás. Já revelei a antecipação da alíquota do imposto de renda durante uma festa, por exemplo. Eu queria sempre entrevistar as pessoas que fazem acontecer. Eu tinha certeza que na desconcentração da festa, principalmente depois do primeiro drink, elas ficariam mais maleáveis, soltinhas e falariam o que habitualmente não diriam em uma entrevista mais formal, com luzes acesas. Sempre foi assim.

O senhor se arrepende de ter feito alguma entrevista?

Várias. Com João de Deus, por exemplo. Eu fiz a última entrevista dele para a televisão. Com reverência. Eu o achava o máximo, só escutava coisas maravilhosas dele. Fico imaginando a quantidade de pessoas que levei para Abadiânia com essa entrevista. Isso me deixou com a consciência pesada. Roger Abdelmassih também. Eu o colocava de forma recorrente no meu programa. Eu frequentava a casa dele, jantava com ele. Eu nunca poderia acreditar e imaginar nas coisas que ele fazia. Foi uma surpresa para mim. Também entrevistei metade dos envolvidos na Operação Lava Jato. Como eu iria saber? Eu lá, falando sobre outros assuntos sem saber que o cara é o maior ladrão. Você fala: “Meu Deus, onde eu fui cair.” As pessoas são importantes naquele momento e depois mostram a sua outra face. Todos esses furúnculos passaram pelo meu programa. Eu me arrependo porque eu sou muito sensível. Às vezes, pequenas coisas se transformam em grandes problemas para mim.

E uma pergunta que gostaria de ter feito e não fez?

Eu sempre respeitei minhas fontes. Não há motivo para eu acabar com a vida ou a carreira de uma pessoa por conta de uma frase dita em hora errada. Com isso, meu programa ficou reconhecido como um espaço onde se toca em assuntos importantes e sensíveis, mas com elegância. Foi o que aconteceu quando entrevistei o ex-presidente Michel Temer, por exemplo, no Palácio da Alvorada, no começo do ano passado. Eu fui o primeiro a entrevistá-lo depois que ele virou presidente. Eu queria ter tocado no assunto do casamento dele com a Marcela. Queria falar sobre a diferença de idade entre eles, como havíamos feito uma vez antes de ele assumir a presidência. Mas ele me pediu que não tocasse no assunto. Foi categórico. Ele já tinha aberto sua casa para mim, se disponibilizou a andar pelo palácio e a tomar café da manhã comigo. Por que eu teria de tocar naquele assunto? Não toquei, óbvio. Acredito que, com isso, as pessoas confiem em mim e eu, nelas.

O senhor está otimista com o novo governo?

Eu o vejo com ótimos olhos. Eu votei no Bolsonaro. Acredito que é uma mudança que o Brasil precisava experimentar. Sergio Moro no Ministério da Justiça, para mim, é o máximo. Pode não dar certo, mas eu tenho que pensar positivo.