Estar ao lado dos melhores pilotos do mundo e correr o campeonato mais competitivo do automobilismo mundial é o que mais fará falta para o piloto brasileiro Felipe Massa. Aos 36 anos, ele anunciou que irá se retirar da categoria após o final desta temporada, que termina em Abu Dhabi, dia 26. “Chegou a hora de parar”, afirma ele. Foram 15 anos na F1, oito deles na Ferrari, a equipe dos seus sonhos. Na categoria, Massa conquistou 11 vitórias, o que o coloca como o quarto melhor piloto brasileiro de todos os tempos, ao lado de Rubens Barrichello e atrás de Ayrton Senna (41), Nelson Piquet (23) e Emerson Fittipaldi (14). Não foi campeão, embora tenha chegado bem perto com o vice-campeonato em 2008. O que ele fará em 2018? A única certeza que o piloto tem agora é que sobrará mais tempo para curtir a família, cuidar da vida pessoal — e do dinheiro.

Esta já é a segunda vez que você anuncia sua saída da F1. Agora é definitivo?

(Risos) Sim, agora é. Estou saindo mesmo da F1. Mas isso não significa que eu vá parar de pilotar, que é uma das coisas que mais gosto de fazer. Encerro aqui o ciclo de piloto de F1. Mas vou procurar alguma outra categoria que me dê prazer e onde eu possa me divertir também. Por enquanto, a única coisa certa é que 2018 será um ano tranquilo e vou poder ficar mais tempo em casa e com a família.

Está preparado para desacelerar sua rotina?

Vai ser uma grande mudança, sem dúvida. Não terei mais 21 viagens para fazer no ano. Mas vou ter que me acostumar. Faz parte da vida. O lado bom de tudo isso é que terei mais tempo para fazer outras coisas também.

Já tem alguma categoria em vista?

Uma categoria que me interessa é a Fórmula E, com carros elétricos, que vem crescendo muito aqui na Europa. É um fórmula também, mas bem menor e, claro, muito mais lento que um F1. As corridas são em circuito de rua e todas as marcas estão lá: Mercedes, Audi, Renault, Ford… O brasileiro Lucas Di Grassi corre nela e foi o campeão deste ano. É uma das possibilidades. Mas se rolar é só para o final de 2018, porque o campeonato começa agora em dezembro e ainda estou envolvido com a F1. É uma categoria que pode fazer parte do meu futuro.

Seu filho Felipinho encantou os brasileiros ao dizer que estava orgulhoso de você e que vai apoiá-lo em qualquer escolha que fizer. Como é sua relação com ele?

Ele adora esporte. Minha vida ao lado dele tem esporte o tempo todo. Patinete, futebol, kart, corrida… não paramos. Acho isso ótimo porque acredito que o esporte seja importante para o desenvolvimento de qualquer pessoa. E prefiro ele praticando esportes físicos que conectado o tempo todo, também algo que faz parte da geração dele. Mas quando jogamos F1 no videogame tenho que escolher outro piloto porque ele sempre escolhe ser eu.

Ele já disse que vai querer pilotar?

Ele ainda é muito pequeno. Mas não é impossível que queira ser piloto. O exemplo ele já tem. E gosta muito, até porque está sempre comigo nos autódromos. Eu não vou interferir na escolha dele. Terá que partir dele esse desejo. Competitivo ele é, e muito. Se escolher, certamente vou apoiar. Tinha a idade dele quando comecei a correr.

O que mais marcou na F1?

Muitas coisas. Mas um dos momentos inesquecíveis foi ter sido companheiro de equipe de Michael Schumacher no meu primeiro ano na Ferrari (2006). Ele era minha maior inspiração como piloto, um ídolo assim como o Senna, e foi como um professor para mim. Sou muito feliz e honrado de ter tido a oportunidade de conviver tão de perto. Foi difícil? Claro que foi. Mas foi importante também. Outro momento marcante, que dá a sensação de sonho realizado, foi vencer em Interlagos em 2006 e em 2008.

Do que mais deve sentir falta?

Acho que da competição em si e de estar ali ao lado dos melhores pilotos do automobilismo mundial.

Você fez amigos nas pistas?

A F1 é um ambiente muito competitivo e as relações ali são difíceis. Mas fiz dois grandes amigos. Meu empresário, o Nicolas Todt (filho de Jean Todt), e Rob Smedley, que foi meu engenheiro na época da Ferrari e hoje está na Williams como chefe dos engenheiros. Crescemos juntos na F1 e até hoje somos amigos. Entre os pilotos sou muito amigo do Rubinho e tenho uma relação bem próxima com o Daniel Ricciardo. Eu não tenho problema com ninguém. Boa relação, tenho com a maioria.

“Ter corrido na Ferrari foi como realizar um sonho. Ali vivi momentos incríveis, e outros nem tanto” (Crédito:Mark Thompson)

Você sofreu um grave acidente em 2009. Dali em diante não voltou mais a vencer. O acidente deixou alguma sequela emocional?

Fiz todos os exames possíveis e nada foi detectado. Fisicamente não tive nenhuma sequela, então é difícil dizer se fez alguma diferença no meu comportamento como piloto. Algumas pessoas acham que sim. Mas eu não sei dizer. Fui competitivo muitas outras vezes depois do acidente. Mas não tive mais um carro tão competitivo como aquele de 2008. Alonso (Fernando, companheiro de equipe) chegou mais perto (foi vice-campeão), mas nem ele nem eu tínhamos carro para ser campeão do mundo. Não venci mais, isso é fato. Mas também não tive mais um carro vencedor. Agora ter passado por um acidente tão grave como foi aquele me fez perceber como a vida é frágil e dar mais valor a ela.

O que acha que faltou para conquistar um título?

Talvez em 2008 tenha faltado um pouco de sorte. A temporada que fiz naquele ano foi perfeita, mas não conquistei o título por algumas circunstâncias da corrida. Isso também me ajudou a aceitar o fato de não ter conquistado o título.

Deu para fazer um bom pé de meia nesses 15 anos?

Muito mais do que eu imaginava. Não tenho do que reclamar.

Você ficou quase uma década na Ferrari. Tem quantas na garagem?

Tenho quatro. Ter corrido na Ferrari foi a realização de um sonho. Para mim é a principal marca de carro esportivo.

A F1 está ficando inacessível para os brasileiros?

Não. O automobilismo sempre foi um esporte caro. Eu passei a maior parte da minha carreira correndo atrás de patrocínio para chegar lá.

Sabe o que fará em 2018?

(Risos) Ainda não. Como disse, passar mais tempo com família e criar novas atividades, novos trabalhos. Participar mais de eventos, cuidar do meu dinheiro, dos meus investimentos…