Imagine levar horas para ser atendido em uma rede de fast food? Isso é o que tem acontecido em diversas empresas norte-americanas devido à falta de mão de obra. O movimento conhecido por lá como “The Great Resignation” ou “A Grande Onda de Demissões”, em tradução livre, ganha adeptos em diversas áreas, principalmente em logística, hotelaria, bares e restaurantes. Afinal, o que está acontecendo com a população dos EUA? Com a inflação alta e maior demanda por melhores salários, planos de saúde e assistência psicológica, trabalhadores estão desistindo de trabalhar em companhias que oferecem apenas o salário mínimo e longas jornadas, muitas vezes sem folgas fixas ou remuneradas. Apenas em novembro do ano passado, 4,5 milhões de pessoas disseram “eu me demito”.

Isso acontece ao mesmo tempo em que o número de novas vagas de emprego aumenta, sendo a maior desde os anos 2000, segundo dados do U.S Bureau of Labor Statistics. O fenômeno atinge também o maior parceiro comercial, americano, a China, que tem visto seus jovens talentos optarem por ficar em casa em vez de sair para trabalhar em condições que não julgam ideais. O vizinho Japão, conhecido por suas longas jornadas profissionais diárias, já estuda a possibilidade de adotar a semana útil de apenas quatro dias.

A tendência começou com a pandemia e a adoção do trabalho remoto, mas esses não foram os únicos fatores responsáveis. Nos Estados Unidos, onde o problema é mais grave, os jovens reclamam que o salário é tão baixo que não permite sequer que eles aluguem um apartamento e saiam da casa dos pais. O medo de contrair Covid-19 também é outra razão alegada, uma vez que muitos trabalhadores não querem ter contato direto com clientes, muitos deles sem máscara, agressivos e até armados.

O esgotamento emocional e o aumento nos casos de depressão só agravaram o cenário. Se no Brasil acontece o movimento inverso, a “pejotização” e a derrubada de diversos direitos trabalhistas, por lá acontece o contrário: sem grandes vínculos trabalhistas, os profissionais em cargos como garçonete, recepcionista, cozinheiro e atendente cansaram. Quem se demite geralmente possui dinheiro guardado ou simplesmente troca um estabelecimento por outro. Há ainda quem volte a morar com a família e se organize para ficar um tempo sem trabalhar, até que uma posição melhor apareça no horizonte.

Nas pequenas telas

Além de pedirem demissão, muitos jovens estão usando as redes sociais para desabafar ou até filmar o pedido de demissão. A profissional de marketing Joanna Lai viralizou no TikTok após fazer uma série de vídeos sobre sua demissão. Mesmo trabalhando em sistema de home office, ela não estava feliz. Organizou um plano para sobreviver financeiramente por um tempo e exibiu ao vivo a reunião virtual com seu chefe na qual pediu para ser desligada. De maneira educada e honesta, agradeceu a Deus, à empresa e ao superior pelo apoio, mas avisou que iria seguir novos projetos. O vídeo já foi visto 1,6 milhões de vezes.

Publicados sob a hashtag #IquitMyJob (Eu pedi demissão), nem todos os vídeos são tão bem educados. Tem gente que simplesmente desaparece do local de trabalho e há até quem tome a decisão na hora, caso da influencer transgênero Mercury Stardust. Em seu vídeo, com a voz embargada, ela diz: “Pedi demissão hoje, sem aviso prévio e com efeito imediato”. Ela trabalhava com reparos na construção civil e, depois de completo esgotamento, decidiu criar a sua própria marca de reparos e publicar vídeos com dicas para quem quer reformar a casa. Alcançou quase dois milhões de seguidores; seu vídeo de demissão teve mais de meio milhão de visualizações.

A solução para o problema parece distante, mas, com a alta rotatividade de empregos, a aposta do FED, o banco central americano, é que a economia só vai se recuperar de fato quando a pandemia chegar ao fim. Até lá, os patrões vão lutar para manter seus colaboradores.

EM FALTA Mercado em alerta: falta de mão de obra obriga empresas a dar benefícios (Crédito:JOE RAEDLE)

O QUE AS EMPRESAS OFERECEM
Com milhares de vagas abertas e poucos candidatos à vista, redes norte-americanas oferecem brindes para atrair trabalhadores

Amazon
Novos contratados recebem US$ 1 mil para começar a trabalhar. Há ainda um adicional de US$ 25 para quem estiver totalmente vacinado contra a Covid

McDonald’s
Algumas franquias da rede oferecem US$ 50 para quem participar de uma entrevista

Chipotle
Funcionários que atraírem novos trabalhadores ganham US$ 200 de comissão por contratação

General Dynamics
Empresa de engenharia oferece US$ 10 mil para recém-contratados e US$ 8 mil aos funcionários que trouxerem novos talentos