Em julho, Patrick Stewart completa 80 anos. Mas não parece: a voz continua forte como sempre, e o corpo, em forma invejável. O ator, que ficou marcado por Jean-Luc Picard a despeito de uma extensa carreira anterior no teatro, confessa em entrevista com participação do jornal O Estado de S. Paulo, em Los Angeles, que não tinha vontade de retornar ao personagem.

Você hesitou em voltar ao personagem. O que o fez mudar de ideia?

Aceitei me encontrar com os roteiristas e, quando eles me apresentaram suas ideias, fiquei intrigado, pois o mundo que descreviam não era o de Star Trek: A Nova Geração. E isso me empolgou, porque o mundo em que vivemos hoje não é o mundo de 2002, quando terminamos Star Trek: Nêmesis. Vi ali um potencial de fazer algo positivo, otimista e benéfico, algo que Star Trek sempre procurou fazer.

Papéis icônicos podem ser uma bênção e uma maldição. Qual sua opinião?

De verdade? Sim, pode ser um peso. Uns dois anos depois de fazer Star Trek: Nêmesis, finalmente consegui uma reunião com um diretor com quem queria trabalhar. Ele foi muito bacana, aí disse: “Eu gosto do que você faz, mas por que eu iria querer Jean-Luc Picard no meu filme?”. Fiquei destruído. Isso me assombrou por um bom tempo. Pensei: “Deus, o que fiz a mim mesmo? Apaguei minha carreira ao fazer este papel”. Mas depois vi que não era bem assim.

Acha que os fãs enxergam Picard como uma figura paterna?

Achava que ele estava mais para sex symbol (risos). Vá lá, figura paterna. Brincadeira. Sou pai e avô, então tenho muito orgulho dessa descrição.

Picard perdeu sua família em ‘Star Trek: A Nova Geração’. Mas em ‘Star Trek: Picard’, vemos como ele tinha uma relação quase paternal com Data. Ele está à procura de uma família?

Picard teve alguns poucos relacionamentos românticos, que nunca deram certo. E ele reconhecia que a Enterprise era sua casa, e que a tripulação era sua família. Sentia uma tremenda responsabilidade, socialmente, profissionalmente, cientificamente. Quando ele conhece Dahj, as circunstâncias são outras, mas fazem com que Picard se lembre de suas maiores derrotas.

Data era de uma época em que a inteligência artificial não dava medo. Agora, as coisas mudaram, não?

Na política, sou de esquerda. Então minha preocupação é como a inteligência artificial vai afetar o número de empregos, o quanto as pessoas vão sofrer. Elas já estão sendo substituídas por máquinas. Eu, pessoalmente, só gostaria de ter um daqueles robôs aspiradores (risos).

Acredita que ‘Star Trek’ seja mais relevante hoje do que nunca por causa de sua mensagem?

Acho que sim, porque o mundo é um lugar perturbador no momento. O que vou dizer vai soar extremamente pomposo e vou me arrepender amargamente pelo resto da minha vida, mas eu acho que o mundo precisa de ‘Star Trek’ no momento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.