“Vou lutar pelo meu país, a Etiópia! Sou um soldado da Etiópia!”. Em frente à prefeitura da capital Adis Abeba, atores vestidos com as tradicionais túnicas brancas brandem lanças e espadas de mentira.

Em um palco com a bandeira etíope e fotos de soldados de elite, os vinte atores, homens e mulheres, entoam cânticos militares que datam das campanhas contra os colonizadores italianos.

Esta trupe respondeu ao apelo à mobilização geral lançado na terça-feira pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed para contribuir com o esforço de guerra, enquanto o Exército federal luta contra os rebeldes há nove meses na região norte de Tigré.

O conflito assumiu uma nova dimensão nas últimas semanas: os combates se espalharam por novas regiões, os líderes de Tigré anunciaram que fizeram uma aliança com outro grupo rebelde, enquanto a crise humanitária piora.

“Agora é a hora de todos os etíopes saudáveis e maiores de idade se juntarem” às forças pró-governo, disse o líder, acrescentando que os cidadãos podem ajudar de várias maneiras.

Esses atores, de quatro teatros da capital, vão viajar no fim de semana por todo o país para entreter os novos recrutas que partem para o front, segundo a prefeitura de Adis Abeba.

O apelo “não significa que todos tenham que lutar com armas”, afirma Arega Ayalkat, de 23 anos, que faz parte da trupe teatral.

“Nosso papel é encorajar e motivar e também dar coragem àqueles que têm medo através da música”, afirma, acrescentando: “A Etiópia nos chama. Temos que responder”.

– “Em guarda” –

Os combates começaram em novembro, depois que o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou o Exército federal ao Tigré para expulsar as autoridades regionais da Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF).

De acordo com o Nobel da Paz de 2019, esta operação foi em resposta a ataques a acampamentos do Exército federal ordenados pela TPLF.

Ele proclamou vitória no final de novembro, após a captura da capital regional, Mekele.

Mas os rebeldes recuperaram Mekele e grande parte do Tigré no final de junho, e apesar de um cessar-fogo unilateral declarado pelo governo, os rebeldes continuaram sua ofensiva contra as regiões vizinhas de Amhara, ao sul, e Afar, a leste.

O porta-voz da região de Amhara, Gizachew Muluneh, disse na quinta-feira que combates intensos estavam em andamento em pelo menos quatro áreas, incluindo a estratégica cidade de Woldiya.

No mesmo dia, os rebeldes confirmaram um acordo com os rebeldes da região de Oromia, a mais populosa do país e que circunda Adis Abeba, aumentando a pressão sobre o governo.

Já o porta-voz do primeiro-ministro disse que o pedido de mobilização “não tem nada a ver com a capacidade militar” do Exército e garantiu que “milhões” de pessoas responderam positivamente, de maneiras diferentes, mas sem dar mais detalhes.

O apelo de terça também oferece aos cidadãos “trabalhar em estreita colaboração com as forças de segurança para serem os olhos e ouvidos do país”.

“Todos estão em guarda e prontos para repelir as ameaças e atividades terroristas que a TPLF e seus operadores estão implementando para desintegrar a Etiópia”, acrescentou Billene.

A guerra ceifou milhares de vidas, deslocou dois milhões de pessoas e deixou centenas de milhares na fome, de acordo com as Nações Unidas.

Esta situação suscitou inúmeros apelos da comunidade internacional pelo fim dos combates, mensagem recentemente reiterada pelo subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, e pela diretora da Agência de Ajuda Internacional dos Estados Unidos (USAID), Samantha Power.

Jeffrey Feltman, emissário dos Estados Unidos para o Chifre da África, deve viajar à Etiópia na próxima semana para exigir o fim dos combates neste período descrito como “crucial” pelo conselheiro de segurança nacional americano, Jake Sullivan.