São tantas histórias sobre Marilyn Monroe que é difícil separar a realidade do que virou lenda. Norma Jean Mortensen nasceu em 1.º de junho de 1916 – há 90 anos. Morreu no auge da fama, em 5 de agosto de 1962, aos 36 anos. Há mais de meio século! Nunca houve, para os viúvos de Marilyn – seus inúmeros fãs -, outra imagem que não a da mulher eternamente jovem, e desejável.

Para muita gente, foi, e ainda é, o maior mito sexual do cinema. Um de seus diretores, Roy Ward Baker, dizia que ela tinha um apetite insaciável por sexo. Seria, por mais que a palavra pareça crua, uma ninfômana. Conheceu o sucesso, mas não foi reconhecida como atriz dramática, como queria. E morreu sozinha, em circunstâncias até hoje polêmicas.

Morreu de uma dose excessiva de barbitúricos, o que pode fazer sentido, considerando-se a mistura de depressão e solidão. Mas há uma lenda de que foi assassinada – uma queima de arquivo providenciada pela CIA. Nenhuma mulher, nem mesmo a mais cobiçada do mundo, pode ser ao mesmo tempo amante de um mafioso e do presidente dos EUA, como Marilyn foi.

Sua história é conhecida. Filha de mãe solteira, mais tarde diagnosticada como esquizofrênica, Norma Jean passou a infância entregue a diferentes famílias. Dizia que era órfã, com vergonha de revelar que a mãe estava internada. Casa-se, aos 16 anos, com James Jim Dogherty, e, quando o marido vai para a guerra, ela trabalha numa fábrica de equipamentos militares. Sua beleza chama a atenção de fotógrafos do Exército. A imagem de Norma Jean, que ainda não é Marilyn, multiplica-se. Ela posa nua para um calendário.

Chamada para um teste na Fox, ela encontra oposição do poderoso Darryl Zanuck. Uma ‘tramp’ que posou nua não pode ser estrela de Hollywood. Por ele, Norma Jean, rebatizada como Marilyn – Miller, depois Monroe -, seria apenas mais uma garota para divertir executivos. Mas Marilyn começa a filmar, e com grandes diretores. Um papel com Joseph L. Mankiewicz em ‘A Malvada’, outro com John Huston em ‘O Segredo das Joias’.

Em dezembro de 1950, é tema de uma reportagem de capa em ‘The Photoplay Magazine’ – ‘Como nasce uma estrela?’ Nessa altura, e contra a vontade de Zanuck, a Fox investe nela. Marilyn passa pelo bisturi. Corrige os seios, o rosto. E filma muito. Os primeiros papéis são de loira burra, o que ela, definitivamente, não é. Marilyn filma com Fritz Lang, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Otto Preminger. ‘Só a Mulher Peca’, ‘Torrente de Paixões’, ‘O Inventor da Mocidade’, ‘Como Agarrar Um Milionário’.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Os filmes chamam-se ‘Os Homens Preferem as Loiras’, ‘O Rio das Almas Perdidas’. Encontra Billy Wilder, e ele lhe oferece papéis gloriosos – em ‘O Pecado Mora ao Lado’, com a célebre imagem do vento no metrô que levanta seu vestido e mostra a calcinha, e como Sugar/Docinho em ‘Quanto Mais Quente Melhor’.

Marilyn casa-se com o astro do futebol americano Joe DiMaggio e com o dramaturgo Arthur Miller, que escreve para ela o roteiro de ‘Os Desajustados’, que será dirigido por John Huston. Miller é seu passaporte para o respeito dos intelectuais, ela pensa. Marilyn vai estudar arte dramática (no Actors Studio). Decepciona-se quando Richard Brooks lhe recusa o papel de Grushenka em ‘Irmãos Karamazov’. Mais tarde, Miller exorcizará essa união na peça ‘Depois da Queda’.

Chamada a cantar no aniversário de John Kennedy, Marilyn, naquele vestido, deita-se sobre o piano e se oferece toda – ‘Happy Birthday, Mr. President’. Mas, enquanto o presidente despacha na Casa Branca, a amante recebe em seu leito o mafioso Sam Giancana. Em 1962, faz seu segundo filme consecutivo com George Cukor, após ‘Adorável Pecadora’. ‘Something Gotta Give’ permanecerá inacabado por sua morte prematura. Acidente ou assassinato?

As sucessivas revelações sobre Marilyn somente aumentam o mito. As feministas protestam – Marilyn foi vítima do machismo de Hollywood. Esse é outro estereótipo como o da loira burra. Como a Cherrie de ‘Bus Stop’, de Joshua Logan, Marilyn ‘nunca foi santa’.

Ward Baker, que a dirigiu no sombrio ‘Almas Desesperadas’, dizia que ela não era normal. Mas, de perto, há que pensar como Caetano Veloso – quem é normal?

Tudo se combinou para o desastre – o desejo dela de perfeccionismo, a baixa autoestima, a insegurança afetiva e profissional que a lançou nas drogas e no álcool. Mas você pensa nela e se esquece de tudo. Vem sempre a mulher bela e desejável. O que teria sido Marilyn aos 40, aos 50, aos 70? Nunca saberemos. Nos 90 anos de seu nascimento – daqui a pouco será um século -, o vento continua levantando seu vestido. Marilyn é eterna.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias