De um lado, a frieza nórdica de Björn Borg, tenista sueco apelidado de “IceBorg” (“Homem de Gelo”) pela conduta metódica e inabalável. Do outro, o explosivo John McEnroe, o americano chamado de “Fogo” pelos ataques dentro das quadras, por xingar juízes e quebrar raquetes.

A histórica rivalidade entre as duas lendas do tênis é o que impulsiona a trama de “Borg vs McEnroe”, que reconstitui com autenticidade os melhores momentos do duelo épico na final do torneio de Wimbledon em 1980. “Não é apenas um filme de tênis, já que a solidão, a competição e a pressão sofrida pelos jogadores servem de metáfora da vida”, disse à ISTOÉ o cineasta dinamarquês Janus Metz Pedersen, responsável pela produção que será lançada no Brasil no dia 9. “Além de propiciar momentos de graça e beleza, o tênis apresenta ingredientes dramáticos, como a busca do poder”, completou o diretor, que falou durante a 65ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha.

GIGANTES Borg e McEnroe, os atletas no auge: confrontos épicos

A câmera de Pedersen segue os passos dos jogadores desde a infância até a partida histórica de Wimbledon. Borg saiu vencedor do torneio após um jogo emocionante, de 3 sets a 2, incluindo um tie-break de 22 minutos e 34 pontos, que foi descrito |à época como “o episódio mais fascinante da história do esporte”. Aos 24 anos, Borg, o então melhor jogador do mundo, disputava a final pela quinta vez consecutiva. Já McEnroe, de 20 anos, tinha muito o que provar (além da reputação de encrenqueiro), brigando pela primeira vez pelo título do Grand Slam.

À primeira vista, Borg e McEnroe representavam a antítese nas quadras. Borg, vivido pelo ator Sverrir Gudnason, era pura concentração, não deixando transparecer as suas emoções. McEnroe (Shia LaBeouf) dominava a técnica, mas não o temperamento, sendo muitas vezes vaiado pela torcida pela atitude antiesportiva. “Mas os dois tinham muito em comum, à medida que procuravam dar sentido às suas vidas praticando o esporte. Apesar das origens distintas, cada um tentava ultrapassar uma barreira”, contou o cineasta, lembrando que Borg e McEnroe acabaram se tornando grandes amigos.

“Borg ajudou no filme e McEnroe nunca atendeu os meus telefonemas” Janus Pedersen, diretor (Crédito:Carlos Alvarez)

AUTENTICIDADE

Os dois tenistas foram procurados por Pedersen antes do início das filmagens. A ideia do diretor era “contratá-los” como consultores na produção, para garantir a autenticidade da história. “Queria checar as informações, para ter certeza de que tudo o que mostramos aconteceu daquele jeito mesmo. Muito da rivalidade entre os tenistas foi instigada na época pela mídia esportiva, que adora esse tipo de narrativa.”

O único que participou foi Borg, conseguindo até colocar o seu filho, Leo, de 12 anos, no filme, interpretando a sua versão mirim. “Quando Borg pediu que seu filho participasse do teste para o papel, tive medo de que aquilo fosse uma tentativa sua de controlar o filme. Mas foi paranóia minha”, afirmou o diretor. McEnroe, irascível até hoje, nunca atendeu os telefonemas de Pedersen. “Foi uma pena, justamente por ele ter sido um tenista tão polêmico. Queria a sua versão sobre a imagem caricata que recebeu.”

Apesar de ter tido a chance de conhecer Borg, o ator islandês Sverrir Gudnason preferiu deixar o encontro para a première do filme. “Como ele foi uma espécie de Papa no mundo do tênis, achei que eu pudesse me intimidar ao conhecê-lo, o que prejudicaria a minha performance”, disse Gudnason, que passou por um treinamento intensivo de tênis durante oito meses, antes de começar a filmar. “Deu para ter uma ideia do tamanho da dedicação que Borg e McEnroe precisaram ter. O universo do Grand Slam não é para qualquer mortal.” Saber o resultado do jogo épico da dupla, revivido em cenas de tirar o fôlego no final do filme, não diminui o impacto para o espectador, na visão de Gudnason. “Assistimos a eventos esportivos na esperança de presenciar algo extraordinário, algo que nos faça sentir maior do que somos. E é isso que Borg e McEnroe fazem.”

Rixas para a história

Ayrton Senna x Alain Prost

O brasileiro e o francês, os dois melhores pilotos de sua geração, se odiavam dentro e fora das pistas. Depois da morte de Senna, Prost disse que sentiu como se uma parte dele tivesse “partido também”

Muhammad Ali x Joe Frazier

AP Photo

“Nunca dois atletas se odiaram tanto” é a frase memorável de Frazier sobre o maior rival. No confronto entre os dois boxeadores, Ali levou a melhor: venceu duas lutas e perdeu uma

Larry Bird x Magic Johnson

Larry Bird, o melhor jogador branco da história do basquete, e Magic Johnson, o mago das jogadas impossíveis, eram os ícones dos lendários Boston Celtics e Los Angeles Lakers. A rivalidade entre eles inspirou dois documentários

Fotos: Divulgação; AP Photo/Pierre Cleizes; Carlos Alvarez/Getty Images; AP Photo