29/11/2017 - 17:36
O mítico Yeti, também conhecido como o Abominável Homem das Neves, é na verdade um urso das altas montanhas da Ásia, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (29) na revista científica Proceedings of the Royal Society B.
Os cientistas concluíram que o DNA dessa imensa e furtiva criatura meio-humana que, segundo a lenda, habita pontos inacessíveis do Himalaia, pertence a três subespécies de ursos: negro asiático, pardo tibetano e pardo do Himalaia.
Cada uma dessas subespécies habita diferentes nichos no Himalaia, e é provável que todas elas tenham sido confundidas em diferentes momentos com o Yeti, disseram os cientistas.
“Nossa descoberta sugere fortemente que os elementos biológicos que sustentam a lenda do Yeti podem ser encontrados em ursos locais”, disse Charlotte Lindqvist, da Universidade de Buffalo, que dirigiu o estudo.
Embora não seja o primeiro a reduzir o mito do Yeti a ursos, este estudo reúne uma riqueza sem precedentes de evidências genéticas obtidas a partir de ossos, dentes, pele, cabelos e amostras fecais anteriormente atribuídas à criatura misteriosa.
Todos estes elementos – procedentes de coleções privadas e de museus ao redor do mundo – são, na realidade, os restos de 23 ursos distintos, segundo os pesquisadores.
Lindqvist e sua equipe reconstruíram os genomas mitocondriais completos de cada espécime, o que levou a descobertas importantes sobre esses carnívoros da região e sua história evolutiva.
“Os ursos pardos que vagam pelas altas altitudes do planalto do Tibete e os ursos pardos nas montanhas ocidentais do Himalaia parecem pertencer a duas populações separadas”, disse à AFP.
“A divisão ocorreu cerca de 650.000 anos atrás, durante um período de glaciação”, acrescentou.
– “Homem-urso das neves” –
As duas subespécies provavelmente permaneceram isoladas uma da outra desde então, apesar de sua relativa proximidade, afirmou Lindqvist.
O urso pardo do Himalaia (Ursus arctos isabellinus), cujo pelo castanho avermelhado é mais claro do que o do urso pardo tibetano, está listado como “criticamente ameaçado” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Durante o século XX, o fascínio no Ocidente, principalmente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, pela lenda do Yeti foi intenso.
Em um livro que narra sua caminhada pela passagem de Lhagba La, perto do Monte Everest, em 1921, o tenente-coronel Charles Howard-Bury descreve “pegadas bastante semelhantes às de um homem descalço”.
Ele as atribuiu a um lobo grande atravessando a neve macia, mas seus guias disseram que tinham sido deixadas por um “metoh-kangi”, ou seja, um “homem-urso das neves”.
O relatório de um membro da Royal Geographical Society em 1925 alimentou ainda mais o mito, ao afirmar que tinha visto uma figura humana atravessando uma geleira a uma grande altitude.
Pelo menos duas expedições foram organizadas na década de 1950 com o objetivo de encontrar o Yeti, descobrindo pegadas e espécimes de cabelo, com relatos de observações que continuaram ao longo da segunda metade do século.
“O trabalho científico pode ajudar a explorar mitos como o Yeti”, afirmou Lindqvist.
“Mesmo que não haja provas” da presença de criaturas cuja existência continua a ser contestada, “é impossível descartar completamente que elas existem”, acrescentou. “As pessoas adoram um mistério”.