"RelatórioSegundo pesquisa, 30% dos adultos alemães apostam em jogos de azar, sendo que 7,7% sofrem com problemas financeiros, sociais ou de saúde associados à jogatina. Apostas esportivas são as que mais viciam.

Um relatório apresentado pelo comissário federal da Alemanha para Toxicodependência e Drogas, Burkhard Blienert, nesta segunda-feira (13/11), relevou que 1,3 milhão de alemães sofre de transtornos associados aos jogos de azar e outros 3,3 milhões demonstram sinais iniciais de propensão ao vício.

Segundo o estudo intitulado Glücksspielatlas (“Atlas dos Jogos de Azar”), que reúne dados de 2021, 30% dos adultos alemães aderem à jogatina, o que representa uma diminuição significativa do percentual de 55% registrado em 2007.

Mesmo assim, 7,7% dos adultos sofrem com problemas financeiros, sociais ou de saúde associados com a os jogos de azar no país de 84 milhões de habitantes.

“Jogos de azar raramente deixam os participantes felizes”, observou Blienert ao apresentar o relatório em Berlim. “Trata-se de uma doença”, explicou a especialista do Centro Alemão para Toxicodependência Christina Rummel.

Risco maior para jovens e migrantes

O relatório identifica os homens com idades entre 21 e 35 anos como sendo particularmente vulneráveis aos problemas decorrentes dos jogos de azar, assim como pessoas com transtornos psicológicos e com alto consumo de álcool.

O vício nos jogos de azar é definido como uma “participação excessiva e destrutiva”, durante a qual, os jogadores perdem o controle, aumentam as apostas e despendem cada vez mais dinheiro, além de mentir para ocultar o vício e se isolar de seus círculos sociais.

Pessoas de origem migratória também estão sob risco, segundo o relatório. O especialista em jogos de azar Tobias Hayer explica que a jogatina pode se tornar um tipo de automedicação para migrantes que sofreram traumas ou que se veem marginalizados da sociedade e com problemas financeiros.

A pandemia de covid-19 também forneceu terreno fértil para a jogatina, enquanto pessoas vulneráveis se viam em condições de isolamento e sob pressão financeira.

O perigo das apostas esportivas

Ao lado das tradicionais máquinas caça-níqueis, o relatório identifica o crescimento das apostas esportivas online como o maior campo para o desenvolvimento do vício.

O futebol, em particular, é bastante problemático. A empresa de apostas Bwin possui parcerias oficiais com a Associação Alemã de Futebol (DFB) e com vários clubes do país, incluindo Borussia Dortmund, Union Berlin, Colônia, St. Pauli e Dynamo Dresden.

O ex-goleiro e ex-capitão do Bayern de Munique e da seleção alemã Oliver Kahn – que atuou na derrota para o Brasil na final da Copa do Mundo de 2002 – foi garoto-propaganda do site de apostas Tipico durante oito anos, entre 2012 e 2020. É quase impossível assistir futebol na Alemanha e sem ser exposto a comerciais de portais de apostas.

“Quando se busca os resultados da Bundesliga [Campeonato Alemão] no smartphone, somos imediatamente confrontados com ofertas de empresas de apostas”, observou Blienert, ao alertar contra a banalização dos jogos de azar quando associados aos esportes. O comissário pediu restrições mais duras contra esse tipo de publicidade.

Lucros bilionários

“Quando os mais jovens são tentados a apostar através de jogos aparentemente inofensivos, algo não está certo”, afirmou. Ele defende a proibição dos anúncios televisivos de portais de jogos de azar antes das 23h.

Mas, com a indústria obtendo lucro de 13,4 bilhões de euros (mais de R$ 70 bilhões) no ano passado, e com o Estado alemão arrecadando 5,2 bilhões de euros em impostos com a jogatina legal somente em 2021 – mais do que o dobro do obtido com bebidas alcoólicas – o lobby dos jogos de azar acumula grande poder.

O relatório foi elaborado em parceria com o Instituto para Pesquisa Interdisciplinar em Vício e Drogas de Hamburgo, o Centro Alemão para Toxicodependência em Hamm e o Departamento de Pesquisas em Jogos de Azar da Universidade de Bremen.

rc (SID, KNA, dpa)