14/04/2021 - 21:59
Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) está tentando entender melhor as variantes do novo coronavírus presentes no Distrito Federal (DF). Para isso, estão sendo feitos sequenciamentos dos genomas de cepas encontradas na capital. No mundo todo foram identificadas cerca de mil cepas do vírus.
Nas amostras do Distrito Federal foram identificadas cinco cepas do vírus Sars-Cov-2, causador da covid-19. Entre as cepas já sequenciadas, três delas chamam atenção de pesquisadores e cientistas pela alta capacidade de replicação, pelo alto poder de transmissão e ainda pela possibilidade de causar quadros mais graves da covid-19. São elas: P-1, encontrada originalmente em Manaus e predominante no DF; a P-2, no estado do Rio de Janeiro; e a N9, em São Paulo.
A professora do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (CEL/IB) e integrante da equipe na Universidade que tem sequenciado o vírus, Anamélia Lorenzetti, explica que a avaliação da diversidade genômica é importante para conhecer quais variantes virais estão circulando no Distrito Federal e poder correlacionar com a epidemiologia da doença.
Segundo o coordenador do Laboratório de Microscopia Eletrônica e Virologia do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, Bergmann Ribeiro, a partir do sequenciamento do genoma é possível desenvolver terapias e vacinas específicas para essas novas mutações, ainda podendo prever o nível de transmissão de cada cepa. “O sequenciamento é importante para conhecer o vírus e saber como ele está se adaptando e mudando”,
Conhecendo o genoma do vírus, também é possível chegar a uma vacina direcionada às variantes. ”As plataformas de vacina podem ser modificadas rapidamente e eu consigo fazer vacinas para essas variantes, mesmo que elas mudem, se tornem mais patogênicas”, explicou o pesquisador.
O cientista comparou com a vacina contra o vírus da gripe. “[Com o sequenciamento do genoma] eu consigo fazer vacinas específicas para cada variante, e essas vacinas vão ser provavelmente modificadas a cada ano para se adaptar ao vírus. Como o vírus está mudando, você vai produzir novas vacinas, como acontece hoje em dia com o vírus da gripe, no caso H1N1 e outros vírus, que surgem todo ano”. Segundo o pesquisador, todos os anos são feitos sequenciamentos dos genomas desses vírus para saber quais estão circulando e produzir a vacina para combatê-lo.
Para este estudo das variantes do novo coronavírus, outro grupo fundamental é o da informática. Eles desenvolvem programas que ajudam na análise do sequenciamento e na comparação das sequências virais com as sequências que foram produzidas nos bancos de dados do mundo.
Crise
Ainda em março de 2020, um grupo de professores do Instituto de Ciências Biológicas (IB-UnB), realizou o primeiro sequenciamento do genoma do novo coronavírus no Distrito Federal. A UnB foi a terceira universidade brasileira a realizar o procedimento no país. Mas com a alta no consumo de insumos e a pequena oferta no mercado global, hospitais, laboratórios e centros de pesquisa do mundo inteiro tiveram de refazer seus cálculos para que a produção e os atendimentos aos sistemas de saúde não fossem totalmente paralisados.
Levando em consideração o aumento do valor de insumos necessários para dar continuidade ao sequenciamento do Sars-Cov-2, os procedimentos foram pausados por um período em 2020 e retomaram em janeiro de 2021.
“Os recursos são essenciais para a realização desta iniciativa, pois os insumos são importados. Para se ter uma ideia, o custo por amostra sequenciada sai entre 600 e mil reais. Não é barato. Além disso, é necessário ter pessoas especializadas na preparação das amostras e para a realização das análises dos dados gerados no sequenciamento”, pondera Bergmann Ribeiro. E ainda sinaliza a demora na chegada dos insumos no Brasil. “Nossa equipe realizou a compra de materiais ainda no começo de 2020, mas acabou sendo feita a entrega pelos fornecedores apenas no fim do ano em novembro.”
Pesquisa
De acordo com Bergmann Ribeiro, o Brasil ainda faz pouco sequenciamento do novo coronavírus. “O Brasil fez no máximo 5 mil sequências, e no mundo mais de 1 milhão de coronavírus já foram sequenciados”.
O pesquisador salientou a importância de o país investir em pesquisa. “O país como nação deveria pensar mais na ciência e investir mais na formação de recursos humanos capazes de responder rapidamente a esses problemas”, ressaltou e completou: “nós conhecemos vários vírus novos nas últimas décadas, nós não sabíamos o que era zika vírus em 2015, não sabíamos o que era o chikungunya, surgiu o H1Ni, o coronavírus. Então esses vírus vão aparecendo ao longo do tempo e precisamos estar preparados, e para isso tem que ter gente boa, gente formada pelas universidade, e para isso tem que ter pesquisa científica, tem que ter dinheiro pra financiar essas pesquisas”, pontuou.
*Com supervisão de Aline Leal