Ao buscar tratamento para um resfriado, a advogada aposentada Gasparina Fernandes, de 72 anos, descobriu um nódulo no pulmão. Era um câncer em fase inicial, mas ela não tinha o perfil para o tratamento mais eficaz nesses casos, que é a cirurgia, por ter outras complicações de saúde. Porém, estava no grupo de pessoas que podem ser submetidas à Radioterapia Estereotáxica Corporal, conhecida como radiocirurgia.

Segundo estudo do Hospital Sírio-Libanês publicado no Journal of Global Oncology – revista científica da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) -, o procedimento, não invasivo, é capaz de destruir o tumor em 89% dos casos.

A pesquisa, que teve início em 2007 e durou até 2015, avaliou os resultados em 54 pacientes do hospital classificados como frágeis, geralmente idosos que já tiveram problemas de saúde, como doenças associadas ao cigarro ou cardíacas. Eles também precisavam estar com o tumor em fase inicial, com menos de 5 centímetros.

“A radiocirurgia traz oportunidade de cura que se aproxima do resultado de uma cirurgia. No nosso estudo, 89% tiveram um controle do tumor no local e, em dois anos, 80% dos pacientes estavam vivos”, diz Carlos Vita Abreu, radio-oncologista do Hospital Sírio-Libanês. A média de idade das pessoas submetidas ao procedimento era de 75 anos. O especialista diz que nenhum paciente morreu nem teve complicações graves após fazer o procedimento.

O câncer de pulmão atinge principalmente fumantes e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o tipo mais comum entre os tumores malignos – e altamente letal. Para este ano, a estimativa de novos casos, de acordo com o instituto, é de 31.270.

“A radiocirurgia é uma modalidade de radioterapia que, graças à precisão e à quantidade de dose de radiação utilizada, apresenta resultados semelhantes à cirurgia. Esta técnica consiste numa modalidade de tratamento não invasiva, sem necessidade de cortes na pele ou anestesia. Em virtude da grande potência deste tratamento, é indispensável a utilização de tecnologia de última geração para a sua realização e normalmente são realizadas de uma a cinco aplicações de radioterapia. Os pacientes submetidos a este tratamento não necessitam de internação”, explica Rafael Gadia, diretor de Radioterapia na unidade de Brasília do hospital.

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Abreu afirma que o tratamento também cobre uma lacuna entre os pacientes com câncer de pulmão. Segundo ele, até os anos 1990, os pacientes considerados frágeis não tinham alternativas eficazes. Uma parcela não recebia tratamento. “Para outra parte, era indicada radioterapia convencional, mas os dados não eram brilhantes e a chance de curar era na ordem de 30%. São pacientes que ainda produzem, que estão cuidando dos netos e são figuras importantes dentro do núcleo familiar. Com a técnica, a gente preserva essa pessoa.”

“A radiocirurgia veio adicionar uma expectativa de cura para pacientes que ficavam sem alternativa e não é uma proporção pequena. De 10% a 15% dos pacientes não podem receber a cirurgia por causa da fragilidade”, diz Ricardo Terra, cirurgião torácico.

O engenheiro elétrico Jorge Marques, de 76 anos, fez o procedimento em janeiro, após descobrir um tumor no pulmão esquerdo. “A cirurgia ia ser agressiva, e três sessões liquidaram o câncer.” Marques mantém uma vida ativa e diz que não deixou de fazer o que gosta depois do diagnóstico e do tratamento. “Continuo fazendo esteira para manter a capacidade respiratória e não paro de estudar. Quero fazer uma pós-graduação em Psicologia. Tenho muitos amigos e canto em um coral.”

No SUS. Na rede pública, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) tem o serviço de radiocirurgia desde 2011. Até agora, 264 pacientes já receberam o tratamento, dos quais 116 tinham câncer de pulmão. Os demais eram pacientes com câncer de fígado, nos ossos, sarcoma e no pâncreas. O Icesp afirma ter sido pioneiro nas técnicas de radiocirurgia intracraniana e radiocirurgia corpórea no Sistema Único de Saúde (SUS). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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