A maioria das atletas mulheres no Quênia, na Tanzânia e em Uganda já sofreu violências sexuais ou de gênero, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (18).
As violências sexuais e de gênero são uma chaga recorrente nos países da África Oriental, especialmente no Quênia, onde foram registrados assassinatos de atletas de renome nos últimos anos.
O relatório, publicado pela Universidade Aga Khan, em Nairóbi (Quênia), ouviu 748 pessoas entre 18 e 34 anos, das quais 30% praticaram esportes em nível profissional ou semiprofissional.
De acordo com o estudo, 62% dos entrevistados “sofreram ou tinham conhecimento de colegas que sofreram algum tipo de violência”.
No Quênia, 69% dos entrevistados relataram ter sofrido ou ter conhecimento de episódios de violência, principalmente verbal, física e sexual. O índice representa um aumento em relação aos dados do governo em 2022, que apontavam 43%.
Na Tanzânia, a proporção foi de 62%, e em Uganda, de 48%.
“A violência sexual e de gênero no esporte na África Oriental está profundamente enraizada em um ecossistema precário, movido por atitudes patriarcais, pela impunidade dos agressores e pela cultura do silêncio”, afirma o relatório.
Segundo o estudo, os treinadores são os principais responsáveis pelos abusos. Muitas vítimas abandonaram o esporte após o afastamento das competições, devido aos “traumas sofridos”, à “falta de proteção” e a um “ambiente hostil”.
O relatório também destaca que muitos casos não são denunciados. Cerca de 35% das vítimas apontaram “medo de represálias” e receio de impactos negativos em suas carreiras.
“As vítimas enfrentam estigmatização, falta de credibilidade e obstáculos legais”, conclui.
“Se há um esporte que foi particularmente afetado pelas violências sexuais e de gênero, é o atletismo”, declarou à imprensa o presidente da Federação de Atletismo do Quênia, Jackson Tuwei.
Nos últimos cinco anos, o Quênia perdeu seis atletas de alto nível, como a maratonista de origem ugandense Rebecca Cheptegei, que foi queimada viva pelo namorado queniano em 2024.
Em 2021, a campeã queniana Agnes Tirop, duas vezes medalhista de bronze nos mundiais dos 10 mil metros (em 2017 e 2019), foi encontrada morta a facadas em sua casa. Foi emitido um mandado de prisão contra seu marido, mas ele desapareceu e não compareceu ao tribunal.
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