Estudantes judeus denunciam antissemitismo em faculdades alemãs

Estudantes judeus denunciam antissemitismo em faculdades alemãs

"OcupaçãoRelatório aponta aumento de ataques contra universitários judeus em instituições de ensino superior na Alemanha desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Líder estudantil aponta para "tsunami de antissemitismo".Lahav Shapira foi severamente espancado em uma rua de Berlim no início de fevereiro passado – provavelmente porque se posicionou na universidade sobre o conflito no Oriente Médio. Um suposto ataque antissemita. Dentro de algumas semanas, em 8 de abril, deve começar no Tribunal Distrital de Tiergarten o julgamento do suposto agressor (23 anos), um ex-colega de faculdade de Shapira.

O ataque a Shapira foi provavelmente o incidente mais dramático numa universidade motivado por questões antissemitas na Alemanha desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 do Hamas contra Israel e após quando soldados israelenses invadirem a Faixa de Gaza. Desde então, universitários judeus têm se queixado de um clima de medo nas instituições de ensino superior alemãs. Eles se sentem abandonados, temem ataques e intimidações. A União de Estudantes Judeus da Alemanha (JSUD) e o Comitê Judaico Americano (AJC) de Berlim publicaram um Relatório sobre a situação do antissemitismo nas universidades alemãs.

A presidente em fim de mandato da JSUD, Hanna Veiler, 27 anos, fala de um "tsunami de antissemitismo" no ambiente universitário e cita uma longa série de incidentes antissemitas. Ela também menciona o ataque brutal a Shapira, várias ocupações de universidades e "os chamados acampamentos de protesto pró-palestinos" nas universidades, onde as pessoas pediram que Israel seja varrido do mapa.

Quase nenhuma pesquisa sobre o assunto

Um "desafio realmente central" para a JSUD foi o fato de não haver quase nenhuma pesquisa ou estudo sobre antissemitismo nas universidades. É por isso que o novo relatório seria tão importante, de acordo com Veiler

O documento de 26 páginas não contém nenhum número registrado recentemente. Os autores usam dados da Associação Federal de Centros de Pesquisa e Informação sobre Antissemitismo (Rias). De acordo com o relatório, o número de incidentes antissemitas relacionados a instituições de ensino superior alemãs aumentou de 16 em 2021 e 23 em 2022 para 151 em 2023. O período do relatório termina no final de 2023. Nenhum representante da Rias estava presente na apresentação atual que poderia ter explicado tendências mais recentes.

No entanto, segundo Veiler, o relatório é um "recurso" importante para os universitários judeus. Ela destaca que todos eles têm que, de uma forma ou de outra, lidar com o assunto, querendo ou não. "Os universitários judeus foram obrigados a se tornarem especialistas em antissemitismo nos últimos 17 meses." Ela diz que, para alguns deles, o simples medo de ter que entrar em prédios universitários teve um impacto no curso de seus estudos, talvez até mesmo em seu apoio financeiro como estudantes.

O diretor da AJC Berlin, Remko Leemhuis, também fala de uma "explosão" de incidentes antissemitas no meio universitário alemão desde 7 de outubro de 2023. Muitos estudantes judeus evitaram suas universidades por muito tempo.

Judeus de toda a Alemanha relatam medo e preocupação com os ataques. O relatório deixa claro que, embora também tenha havido incidentes, declarações antissemitas ou intimidações em outras universidades alemãs, Berlim é o ponto mais crítico. Houve várias ocupações temporárias de prédios universitários na cidade. Depois que os prédios foram evacuados, muitas vezes foram encontradas pichações anti-israelenses e antissemitas.

O relatório formula uma série de reivindicações políticas. Como, por exemplo, a persecução penal consequente de crimes antissemitas, a necessidade de um treinamento adicional obrigatório nas universidades sobre as formas modernas de antissemitismo. E pede também que pessoas sejam claramente nomeadas para atender e aconselhar universitários judeus. O texto reivindica, ainda, que eventos, grupos e ações antissemitas sejam evitados nos campi universitários, entre outras providências.

"Falta determinação"

Veiler acusa falta de coragem e determinação das administrações universitárias, afirma não haver uma disposição para agir.

O ataque brutal a Lahav Shapira levou a outros processos legais, que estão pendentes no Tribunal Administrativo (VG) em Berlim desde junho de 2024. Nele, o estudante entrou com uma ação judicial contra a Universidade Livre de Berlim (FU).

Em meados do ano passado, o programa Frontal, da emissora de televisão ZDF, citou a peça de acusação. Ela afirma que a universidade "não tomou medidas adequadas" para prevenir ou eliminar estruturalmente a discriminação antissemita contra o autor da ação e outros estudantes judeus. A FU permitiu que "a linguagem antissemita se materializasse em atos". Em essência, isso seria uma violação das obrigações previstas na lei que rege as instituições de ensino superior alemãs.

O processo deve começar ainda no meio deste ano. Talvez ele traga mais clareza para os estudantes judeus sobre a questão: que responsabilidade os representantes das universidades têm na luta contra o ódio aos judeus?

Neste domingo (02/03), o JSUD elegeu Ron Dekel como seu novo presidente. Veiler não quis se candidatar novamente. Ela diz que planeja viajar para o exterior por um tempo. Em uma entrevista ao jornal Jüdische Allgemeine, ela explicou: "Preciso me distanciar um pouco da Alemanha".