Em junho, Kamala Harris tornou-se a primeira vice-presidente americana a participar de uma parada do orgulho gay. Acompanhada pelo marido, Doug Emhoff, ela desfilou pelas ruas da capital dos EUA, Washington, DC, vestindo uma camiseta com a inscrição “Love is Love” (Amor é Amor). No dia seguinte, modelos similares esgotaram-se nas lojas online. Kamala Harris é hoje mais que uma política: é um ícone pop. A decisão de escolhê-la para compor a chapa presidencial foi do próprio candidato, Joe Biden. Político experiente, ele percebeu que sua imagem agregaria valor à campanha pelo histórico dela como senadora e procuradora-geral da Califórnia, o estado mais populoso dos EUA, com 39 milhões de habitantes. Kamala ainda incorporava o elemento “cool” californiano, a atitude jovem e moderna da qual Biden passava longe.

MARKETING Peças promocionais de Kamala Harris: associação intencional com o estilo despojado da marca All-Star (Crédito:Divulgação)
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O primeiro livro de Kamala chega aoBrasil em edição da Intrínseca. “As Verdades que nos Movem” conta sua trajetória da infância ao Senado, mas ainda não inclui a campanha presidencial. A obra, no entanto, revela como seu perfil a tornou um símbolo do século 21. A começar pela moda: apesar da seriedade dos cargos que ocupou, ela nunca se vestiu de maneira tradicional, optando pelo visual despojado dos jeans, camisetas e aquela que virou sua marca registrada: o visual retrô do tênis All-Star, mais próximo dos adolescentes roqueiros que dos políticos de Washington.

Na próxima campanha presidencial dos EUA, em 2024, não causará surpresa se Kamala for escolhida para encabeçar a chapa democrata

A característica que mais aproxima Kamala do público jovem, no entanto, é a diversidade de sua origem. Sobre esse tema, a vice-presidente não se baseia em teoria, mas na prática. Seu pai, Donald Harris, nasceu na Jamaica e estudou economia na Universidade da Califórnia, em Berkley. Lá ele conheceu Shyamala Gopalan, estudante indiana que cursava a pós-graduação. Essas circunstâncias ilustram de onde vem o ativismo herdado pela filha: o casal fazia parte do movimento que lutava pelos direitos civis nos anos 1960. O lado revolucionário de Kamala, no entanto, pode ter vindo de mais longe: P.V. Gopalan, seu avô materno, lutou pela independência da Índia e, mais tarde, virou diplomata na Zâmbia para poder ajudar os refugiados no país africano.

A popularidade de Kamala atingiu seus maiores índices durante a campanha presidencial. Basta dizer que seu material promocional era mais procurado que o do próprio Joe Biden. Com frases de efeito como “posso ser a primeira, mas não serei a última”, referindo-se à sua inédita posição na chapa majoritária, e “Yes, We Kam”, trocadilho do seu nome com o slogan de Barack Obama, “Yes, We Can” (Sim, nós podemos), suas camisetas ganharam as ruas e anteciparam o espírito que rendeu a vitória democrata contra Donald Trump.

LANÇAMENTO
“As Verdades que nos Movem”, Kamala Harris
Ed. Intrínseca
Preço: R$ 49,90

Obstáculos

Kamala viu sua fama explodir após a vitória. Biden nunca se importou em dividir as glórias com ela nas redes sociais, por exemplo – ambos têm quase o mesmo número de seguidores no Instagram: ele possui 17 milhões, ela, 16. Esse equilíbrio nunca foi tão grande entre presidente e vice. Trump, por exemplo, tinha mais de vinte vezes o número de seguidores de seu VP, Mike Pence. A identificação de Kamala com o visual informal foi, porém, alvo de críticas na internet quando a equipe da revista “Vogue” decidiu apresentá-la na primeira capa após a posse com o tradicional figurino de terninho preto, camiseta branca e All-Star. No título, uma brincadeira com o próprio nome do país: “United States of Fashion” – “Estados Unidos da Moda”, em português.

Em 2024, na próxima campanha presidencial, Joe Biden terá 82 anos e já se especula que ele poderá ceder-lhe a liderança na chapa. Kamala, hoje com 56 anos, enfrenta um problema: ela está à frente das medidas de controle das fronteiras e combate à imigração ilegal, tema sensível ao eleitor americano que pode minar sua popularidade. Isso, no entanto, é apenas o retrato do momento: carismática e adaptável, ela tem tudo para ser a primeira mulher a ser eleita presidente dos EUA – uma vitória ainda mais histórica para quem já é um ícone pop.