Quase 200 anos depois, talvez seja difícil imaginar o impacto provocado pela 9ª Sinfonia de Beethoven na estreia. Melhor, então, recorrer ao relato dos presentes nesse momento único na história da música ocidental.

“O último movimento é tão monstruoso e de mau gosto”, anotou Louis Spohr. “A peça revelou segredos mágicos da arte sagrada jamais imaginados”, dizia crítica de um jornal de Leipzig. Pois é. Em 1824, houve quem adorasse, mas também houve quem a considerasse um “pesadelo interminável”.

Mas é bem provável que o desconforto viesse das novidades trazidas pelo compositor. A duração era uma delas: o último movimento da sinfonia dura tanto quanto uma sinfonia inteira de Mozart. Mas não só: pela primeira vez um compositor incluía, em um tipo de peça até então puramente instrumental, um coro e um time de quatro cantores solistas.

Eles estão presentes porque Beethoven tinha uma mensagem clara a passar, de fraternidade e união entre as pessoas, encontrada no poema À Alegria, de Friedrich Schiller: “Abraçai-vos umas às outras, multidões”.

Não era um tema estranho a Beethoven. Sua ópera Fidelio termina com hino em defesa da liberdade e solidariedade. Da mesma forma, musicalmente o fim da Nona já é intuído no final da Missa Solene (que será apresentada 6ª (13) e dom. (15), no Teatro Municipal de São Paulo).

Mas a Nona é a Nona. E o que a torna tão especial?

O dramaturgo Bernard Shaw dizia que o mais interessante em Beethoven era sua “qualidade perturbadora”. Já para o maestro Georg Solti, a obra mostrava que “apenas a voz humana era capaz de desafiar a morte”. Para o escritor Romain Rolland, o canto nos lembra que a arte nasce do “diálogo entre o indivíduo e o mundo”.

O ano Beethoven, com muitas outras respostas, está só começando.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.