Além de ameaçar a saúde dos atletas, a pandemia criou um problema bilionário para as maiores ligas esportivas do mundo, como a UEFA Champions League (futebol europeu) e a NBA (liga de basquete norte-americana). Elas tiveram que suspender suas competições nos últimos meses, prejudicando contratos vultuosos e transmissões para milhões de espectadores. Mas as organizações encontraram um antídoto para o temido rombo financeiro: a opção pelas “bolhas”. A estratégia de isolar equipes não é nova, mas nunca tinha sido usada de forma tão providencial — com transmissões de grande audiência a partir de estádios e ginásios vazios.

O complexo montado pela NBA em Orlando, na Flórida, foi inaugurado há mais de um mês e não registrou nenhum caso de Covid-19 até agora. De acordo com a ESPN norte-americana, a liga gastou mais de US$ 150 milhões (R$ 840 milhões) para retomar a competição, interrompida em março. O local escolhido para abrigar 16 das 30 equipes foi o Walt Disney World Resort, complexo de alto padrão composto por 18 hotéis de luxo, ginásios, quadras e hospitais, entre outras instalações. O valor é quase dez vezes menor do que o prejuízo estimado caso o calendário não fosse cumprido: US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões). A liga movimenta grandes cifras. A receita anual ultrapassa US$ 8 bilhões. Parte essencial desse valor é obtido através de receitas televisivas, produtos licenciados, ações de marketing e pela presença de torcedores nos ginásios — são mais de mil jogos por temporada. Agora, sem público, mas repleto de inovações tecnológicas, como telões de led ao redor da quadra formando uma arquibancada virtual, o complexo está fazendo sucesso. As transmissões de TV são feitas com exclusividade pela ESPN, ABC e TNT, detentoras dos direitos. Segundo a própria ESPN, o temor de multas derivadas do acordo televisivo firmado pela liga em 2014, no valor de US$ 24 bilhões até 2025, motivou a criação do complexo. O contrato rende mais de US$ 2,4 bilhões em receita por ano. As interrupções são raras — como aconteceu na última quarta-feira, 26, com o boicote contra a violência policial no país.

TRIUNFO O Bayern de Munique foi campeão na “bolha” de Lisboa (Crédito:MATTHEW CHILDS)

Lisboa, capital da bola

Já o futebol europeu transformou Lisboa. A cidade virou a sede oficial da fase final da UEFA Champions League, maior torneio desse esporte no planeta. Paralisada há mais de dois meses por conta da Covid-19, a fase decisiva da competição foi realizada na capital portuguesa por conta do bom retrospecto no combate da doença e das facilidades na logística. Se a competição fosse cancelada, a UEFA, órgão máximo do futebol europeu, teria que arcar com um prejuízo de 1,8 bilhão de euros (mais de R$ 11 bilhões). Graças à articulação eficiente do governo português, principalmente com medidas preventivas, a baixa foi de “apenas” 400 milhões de euros (R$ 2,4 bilhões). Transmitida para diversos países, a competição é uma vitrine para marcas milionárias como Heineken, Lays e Santander por meio de ações de marketing e cotas de TV. Mais de 2 bilhões de euros são distribuídos entre 32 equipes por temporada. A fase final contou com oito equipes e foi um sucesso. No domingo, 23, o Bayern de Munique sagrou-se campeão depois de bater o Paris Saint-Germain na decisão.