A colombiana Jennifer Rojas gelou quando ouviu falar do aumento exorbitante de matrículas para estrangeiros nas universidades francesas. “Não podia acreditar”, conta à AFP Rojas, que há um ano trabalha para custear o mestrado que cursa na França.

“Com o que economizei dava para fazer toda a papelada, comprar as passagens, pagar o mestrado e sobreviver durante dois anos… Agora não dá”, explica, preocupada, a jovem de 25 anos. “Vou ter que tentar uma bolsa ou pedir um empréstimo”.

O aumento nos preços das matrículas para os estudantes estrangeiros extracomunitários (de fora da União Europeia), anunciado em meados de novembro pelo governo francês, foi como um balde d’água fria para os latino-americanos que planejavam estudar na França.

Para eles, a matrícula em licenciatura passará, a partir de setembro deste ano, para 2.770 euros (3.153 dólares), e em mestrado ou doutorado, para 3.770 euros (4.291 dólares) – um custo 16 vezes superior ao atual.

“É um golpe muito duro, muitas famílias não vão conseguir pagar”, diz María Quintero, mãe de Daniel Ángulo, aluno da Aliança Francesa em Caracas, aceito para estudar Ciências Políticas em Grenoble, leste da França.

Apesar do anúncio inesperado, esta mãe de família está decidida a mandar o filho à Europa “com um pouco de sacrifício”.

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“As opções para estudar na Venezuela são cada vez menores”, argumenta Quintero, em alusão ao êxodo de professores universitários venezuelanos.

No segundo ano de licenciatura em História da Arte em Paris, Ana Ángel, não será imediatamente afetada pela medida. Segundo o ministério da Educação, o aumento não será aplicado a quem já estuda na França, a menos que mudem de ciclo universitário. Apesar disso, não esconde sua preocupação.

“Quando escutei a notícia, todos os planos que tinha para o meu futuro vieram abaixo. A vida na França já é suficientemente cara para um estudante estrangeiro e agora o simples fato de ter que pensar em conseguir mais dinheiro me angustia muito”, explica esta colombiana, que considerou o aumento “desmedido”.

“Tinha previsto estudar meu mestrado aqui e agora tenho que reorganizar todo o meu futuro”, acrescenta, aflita.

– “Discriminação geográfica” –

Desde o anúncio desta medida que, segundo o governo, busca instaurar uma “equidade financeira” entre os estudantes franceses, cujos pais pagam impostos no país, e os estrangeiros, os estudantes se mobilizam para pedir que este aumento, que consideram injusto, seja deixado de lado.

“É um tipo de discriminação geográfica. Por ter nascido no México, tenho que pagar mais!”, protestou, indignado, Alfonso Domínguez, membro de um coletivo da prestigiosa École Normale Supérieur (ENS) de Paris, que se posicionou contra a medida.

“Se esta reforma entrar em vigor, eu não poderia custeá-lo, nem meus pais”, afirma este jovem de 25 anos, que chegou à França graças a um programa de seleção internacional organizado pela ENS, que permite a 30 estudantes estrangeiros estudar durante três anos neste estabelecimento seleto.

“Há um grande sentimento de injustiça”, concorda seu colega Juan Salvador Velecela, estudante de Teoria da Literatura na mesma universidade. “Pagamos impostos como qualquer outro estudante francês e de certa forma contribuímos com a economia… Alugamos apartamentos, comemos, compramos livros”, enumera este equatoriano de 23 anos.

Segundo um estudo do Instituto BVA, os estudantes estrangeiros aportam, em média, 4,65 bilhões de euros e custam aos cofres públicos 3 bilhões de euros anuais. Sem contar que 41% deles ficam na França para trabalhar depois concluírem seus estudos.

– “Seleção econômica” –


Para calar as vozes críticas, o governo prometeu triplicar o número de bolsas para os estudantes estrangeiros (de 7.000 para 21.000). Mas este dispositivo é insuficiente para a Unef, um dos maiores grêmios estudantis da França.

“Está sendo feita uma seleção econômica, razão pela qual serão sempre os mesmos que virão estudar em nossas universidades”, lamenta a vice-presidente do grêmio, Mélanie Luce, em declarações à AFP.

Assim como os grêmios estudantis, vários professores ergueram a voz para expressar sua preocupação. É o caso de Gilles Bataillon, sociólogo especialista em América Latina, que considera uma aberração introduzir uma desigualdade entre os alunos, segundo sua origem.

Os únicos que poderiam se ver livres desta medida são os estudantes de universidades que têm convênio com instituições francesas, caso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Mas estas são uma pequena minoria no universo de mais de 300.000 estudantes estrangeiros que chegam à França todos os anos.


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