PERDIDO Tarcísio afirma que a iniciativa privada é protagonista: incapaz (Crédito:Amanda Perobelli )

O problema do alto preço dos combustíveis não é o único que caminha pelas estradas brasileiras. Os motoristas também precisam se preocupar com a qualidade das rodovias federais que estão abandonadas e terão, em 2022, o menor investimento dos últimos 17 anos. Quem mais sente são os caminhoneiros que amargam queda nos rendimentos e estão mais expostos a acidentes por trajetos esburacados e atolados em todo o País. Alheio à realidade, o presidente da República escalou o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para ser candidato ao governo do Estado de São Paulo. O ex-capitão acredita que Tarcísio seja seu melhor representante para o povo paulista. É um bom retrato da qualidade dos ministros no governo federal.
Seriam necessários R$ 12,3 bilhões para fazer a manutenção preventiva e não piorar a malha viária pública, que já está muito ruim. No entanto, apenas R$ 4,2 bilhões estão empenhados no Orçamento. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) identificou que o montante de recursos utilizados nas rodovias públicas ficou sempre aquém do essencial no mandato de Bolsonaro. Em 2019, foram investidos R$ 7,5 bilhões, quando seriam necessários R$ 11,1 bilhões. Já em 2020, perante a exigência de R$ 12,2 bilhões, apenas R$ 7,3 bilhões foram gastos. Em 2021, seguiu-se a tendência e R$ 6 bilhões foram desembolsados frente aos R$ 12,4 bilhões que eram precisos.

“O ministro Tarcísio de Freitas é mentiroso. Ele enganou uma parte dos caminhoneiros, mas ainda tem gente com vergonha na cara e uma hora ou outra esse País vai parar” Dedeco, líder dos caminhoneiros (Crédito:Divulgação)

Parte dos cortes é atribuída à redução do orçamento da União, mas a política é mantida desde antes da pandemia. Tarcísio publicou na sua página no Twitter que: “O protagonismo da iniciativa privada está fazendo a diferença em prol da infraestrutura do Brasil”. Foi um ato falho, mas ele está certo. A iniciativa privada tem administrado as melhores estradas do País. E as piores sofrem com um governo omisso. Contudo, a equação não é simples. Somente 15% das rodovias federais funcionam com administração de concessionárias e a previsão de entrada da iniciativa privada é de apenas mais 15%. Os outros 70% restantes não são atrativos o suficiente e não adianta o Estado se eximir da responsabilidade. O ministro deveria ser protagonista.

Custo do transporte

A logística brasileira está fundamentada na malha viária. Segundo estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 65% das mercadorias chegam por meio das rodovias. O transporte de pessoas é ainda mais expressivo e 95% dos passageiros utilizam o recurso. Já a pavimentação é de apenas 12,4% na extensão de 1.720.909 km. O impacto da negligência sai do bolso dos consumidores. O agronegócio, que mantém apoio ao mandatário, já reclama do aumento do custo dos transportes. Itens da cesta-básica sofrerão aumentos imediatos e consequentemente na inflação. O custo do frete aumentou 12% no último mês e só o óleo diesel subiu 24,9%, em média. Há ainda os custos de manutenção da frota que sucumbem ao desleixo das rodovias cheias de buracos.

O líder dos caminhoneiros Wanderlei Alves, Dedeco, como prefere ser chamado, contou à ISTOÉ sobre as dificuldades de transitar pelas estradas brasileiras. Ele diz que existem muitos buracos em todo o País e que a segurança dos profissionais está ameaçada. A ironia, segundo o motorista, é que em alguns trechos, como por exemplo do Mato Grosso ao Pará, “você sai do pedágio e cai dentro de um buraco”. Dedeco não poupa críticas ao ministro e ao presidente e diz que o atual governo abandonou os caminhoneiros e acusa Freitas de “fazer uma campanha de marketing mentirosa”. Ele se refere às propagandas do ministro nas mídias sociais. O prognóstico de Dedeco é que com a proximidade das eleições exista uma mobilização para paralisações no setor “uma hora ou outra esse País vai parar”, afirma o caminhoneiro.

As dificuldades em gerir as estradas podem afetar a campanha de Tarcísio para o governo de São Paulo. O estado têm as melhores rodovias e a população tem grande apreço por esse patrimônio. Os adversários já identificaram esse ponto fraco e devem explorá-lo à exaustão. Também vão levar a conversa do botequim para o palanque eleitoral. O ministro é um torcedor fanático do Flamengo e a rivalidade futebolística entre os estados alimenta o deboche dos torcedores. Um governador paulista flamenguista é quase que uma heresia. É algo similar a um governador carioca preferir uma escola de samba paulista. Prestes a se desincompatibilizar do cargo no governo federal, o ministro está prestes a marcar mais um gol contra.