‘Estou começando’, diz Toquinho antes de homenagem da Itália

SÃO PAULO, 11 ABR (ANSA) – Por Beatriz Lia – “Tá certo isso?”, perguntou Toquinho ao seu empresário quando soube que receberá uma condecoração da Embaixada da Itália em Brasília nesta quinta-feira (12). Com 50 anos de carreira, o músico ficou surpreso pela homenagem – ele receberá do embaixador Antonio Bernardini a medalha de “Grande Oficial da Ordem da Estrela da Itália”. Mas, em entrevista, à ANSA, disse que “nada é gratuito” e que por trás da condecoração “há um grande esforço e trabalho”. Toquinho também falou sobre sua relação com a Itália, que teve início quando se mudou para lá com Chico Buarque na época da ditadura militar no Brasil, e de suas preferências na música dos dois países. O artista ainda comentou sobre o momento político atual brasileiro. Para ele, são tempos de “otimismo”, pois a justiça sendo feita é como “uma luz no fim do túnel”.   

Sobre a carreira, Toquinho diz que está só no “começo”, pois ainda tem muitos projetos arquitetados para o futuro. “Eu odeio aposentadoria… Se eu puder jogar futebol até os 90 anos, eu vou jogar”, brincou.   

ANSA: Como foi receber a notícia da condecoração? Toquinho: O Genildo, meu empresário, falou: “Tem um e-mail da Presidência da República da Itália, o que você acha?” Eu vi o e-mail e perguntei: “Isso está certo, Genildo?” E, ele foi averiguar e estava tudo certo. Resolveram fazer essa festa, com vários convidados. Espero que seja uma reunião agradável. ANSA: Como você se sente por ganhar essa homenagem? Toquinho: Eu não trabalho para ser reconhecido. Eu já me sinto reconhecido no carinho das pessoas e em como as minhas músicas resistiram à ferrugem do tempo. Minha trajetória começa hoje, eu não vivo no passado. De qualquer maneira, receber o reconhecimento de outro país, não é à toa. É muito gostoso saber que uma República reconhece o seu esforço. Mas nada é gratuito, nada foi por acaso, foi tudo graças ao meu esforço e ao trabalho do meu empresário.   

ANSA: Você tem uma relação muito forte com a Itália, desde sua parceria com Vinicius de Moraes, e até mesmo com Ornella Vanoni, além dos seus discos gravados em italiano. Quando começou sua relação com o país? Toquinho: Meu primeiro contato com a Itália foi com Chico Buarque. Começou em 1968, quando moramos juntos e fizemos nossos primeiros passos profissionais também juntos. Morei quase um ano com o Chico lá. A Itália foi muito importante para a gente, pois estivemos lá na época da intervenção militar no Brasil, momento em que ele teve de se afastar um pouco daqui e escolheu Roma.   

Foi nesse momento que ocorreu uma grade iniciação com o país e com os personagens de lá.   

ANSA: E o que você acha da música italiana? Toquinho: Sempre foi uma música muito importante no Brasil, desde Peppino di Capri e Nico Fidenco. Desde a minha infância, ela é predominante de uma forma incrível. Além disso, é uma música que emociona muito sempre, é muito visceral, e coloca um momento de êxtase na sua evolução. ANSA: Você tem algum artista de preferência? Toquinho: Eu gosto muito do Pino Daniele, Lucio Dalla, Ornella Vanoni, com quem gravei um disco lindíssimo e importantíssimo que está em catálogo até hoje, e que as pessoas veneram muito na Itália. ANSA: Quais são seus artistas italianos contemporâneos favoritos? Toquinho: Laura Pausini, que canta de uma forma lindíssima e é uma grande estrela; Fiorella Mannoia, uma cantora realmente muito boa com quem já trabalhei; e o Andrea Bocelli, um cantor fantástico com quem já fiz alguns shows na Itália. ANSA: E com relação ao Brasil, o que você acha da música do país atualmente? Toquinho: A música brasileira é sempre boa, nunca deixou de ser.   

A minha geração é muito forte. Temos uns 20 nomes de pessoas que fazem música boa até hoje. Além disso, existe uma diversidade muito boa no país. Hoje está tudo muito “pertinho”, a internet encurtou muitos caminhos, então a força da música brasileira ficou muito mais intensa: Desde as influências de negros, índios… Ela é riquíssima, temos várias opções. Em todos os gêneros há pessoas boas. Tudo que eu vejo em termos de “música de mídia”, vejo muita qualidade e arranjos bem trabalhados.   

ANSA: Você tem algum cantor ou banda de preferência no Brasil? Toquinho: Eu gosto de Skank, Jota Quest, MPB, do pessoal que começou junto comigo… E de sertanejo, como a dupla Chitãozinho e Xororó e Leonardo. (Continua)