31/03/2017 - 19:00
O humorista Marcelo Madureira, 58 anos, teve seu nome citado em muitas das conversas da semana passada. No domingo 26, durante a manifestação em São Paulo em apoio à Operação Lava Jato, ele chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “vagabundo” e a ex-presidente Dilma Rousseff de “ladra”. Chegaram a atribuir a fala à atriz Regina Duarte, que também participou do evento, mas foi Marcelo quem fez a afirmação. E não se arrepende disso. “Disse baseado no que sabemos pelas delações”, sustenta. Figura popular desde que atuou no humorístico Casseta & Planeta, exibido pela tevê Globo, ele tem se destacado como uma das vozes mais críticas das administrações petistas. “Em 2010, quando Lula contava com a aprovação maciça da população, eu disse que ele era uma farsa e que o Brasil estava sendo governado por uma quadrilha de cafajestes. Vai custar muito tempo para que o País se reerga.”
Na manifestação em São Paulo no domingo, foi você quem chamou o ex-presidente Lula de “vagabundo” e a ex-presidente Dilma Rousseff de “ladra e vagabunda”?
Alguma vez você foi eleitor dele?
Decepcionou-se, então?
Por que achava isso?
Imaginava que a situação pudesse chegar a um nível tão crítico quanto o que vivemos agora?
Lula assumiu a presidência em um raro momento da história brasileira em que um presidente tinha apoio popular, político e empresarial. O que deu errado, na sua opinião?
Mas Lula aparece como um dos favoritos na campanha presidencial do próximo ano.
Como encara a sua candidatura?
E quanto à Dilma?
A pior coisa do mundo é uma incompetente com iniciativa. Ela não tem consciência da própria ignorância. Digo isso baseado nas sandices e imbecilidades que Dilma fez. Ela não consegue sequer verbalizar um raciocínio.
Você é muito criticado por suas posições?
Pelo contrário. Sou cumprimentado nas ruas. Mas hoje a sociedade está dividida. Uma das heranças malditas dos governos petistas foi a de criar um ambiente de intolerância geral, de raiva, de ódio. Eu vivi em um Brasil onde isso não acontecia.
Que perspectivas enxerga para o País?
O Brasil no qual eu cresci não existe mais e não voltará. O futuro dependerá muito do que será a Lava Jato. Caso a operação termine em um grande acordo, o destino será melancólico. Porém se formos fundo até as últimas consequências teremos a possibilidade de reconstruir a nação dentro de uma base ética de valores. Mas modernizar o País demanda trabalho.
O juiz Sergio Moro muitas vezes é acusado de praticar o que chamam de justiça “seletiva”, cujos alvos seriam os caciques petistas em detrimento de políticos de outros partidos. O que acha da colocação?
Moro está fazendo o papel dele, assim como os procuradores envolvidos na operação. Eles estão cumprindo o dever deles, fazendo o certo sem segundas intenções. Querem legar um País melhor para as próximas gerações. Por isso contam com a aprovação da maioria das pessoas. A população vê neles jovens com princípios, propósitos.
Por que as manifestações do domingo 26, que tinham por objetivo apoiar a Lava Jato, tiveram pouca adesão?
Os movimentos de massa passam por estabilidades. Não me assusto com isso. O povo não estava tão mobilizado, mas isso não quer dizer que não sairá em peso à rua novamente.
Projetos legislativos em discussão como o que não torna crime o Caixa 2 e o que propõe alterações na regulação da lei de abuso de autoridade são vistos como tentativas de minar a Lava Jato. O que acha dessa reação dos políticos, hoje os novos alvos da operação?
Eles estão acuados. Não estão entendendo que a sociedade não vai engolir mais essas coisas, assim como não engoliu a Dilma. Eles vão ter que recuar. Esses parlamentares não representam a sociedade, mas não se deram conta disso. Os partidos estão divorciados do povo brasileiro.
Muitos políticos dizem que atacar a classe política pode levar ao caos.
No caos nós já estamos.
Enxerga alguma alternativa que responda ao anseio da sociedade por uma política ética e afinada com as reais necessidades da população?
Não vejo nomes. Quero saber a agenda. Temos que buscar o que nos une para reconstruir o País que foi arrasado. O que nos separa vamos discutir depois.
Não teme que o vazio de representatividade permita a ascensão de líderes radicais de direita?
Existe uma extrema direita, mas tendo a acreditar que eles berram mais porque não são tantos assim. Defendo que, respeitando as regras do jogo democrático, todos os segmentos de pensamento têm que se expressar. Sou a favor do debate. Gosto de trocar ideias com pessoas de opiniões diferentes das minhas. Podem ir do Jair Bolsonaro (de saída do PSC) ao Jean Willys e Marcelo Freixo (ambos do Psol). Essa vida civilizada, de escutar o que outro tem a dizer, precisa voltar à sociedade.
De que forma recebe as informações que estão saindo a partir das delações na Lava Jato?
Elas revelam um cenário assustador. Não éramos um País. Éramos um consórcio do PT, do PMDB e de outros partidos com as empreiteiras. Nenhuma nação pode dar certo assim. E começamos a exportar esse modo de atuação para vários países. Quer dizer, começamos a infectá-los.
No meio do maior ataque ao erário de que se tem registro no Brasil, o caso dos requintes de luxo de Sérgio Cabral e de sua mulher, Adriana Ancelmo (dois dos acusados na Operação Lava Jato), chegou a chamar sua atenção?
Conheço o Sérgio Cabral desde quando eu tinha uns quinze anos. Ele era militante também. Mas o ser humano é isso, essa pequenez… Para que tantos ternos? Vaso sanitário com assento aquecido? Parece Versailles (palácio da família real francesa que virou símbolo da opulência dos nobres em contraponto à miséria da população da França à época da Revolução Francesa).
Como avalia o governo de Michel Temer?
Ele entende que precisa fazer um bom governo, que as reformas são necessárias. Por outro lado é refém do próprio passado, com sua história ligada ao pior do PMDB e à aliança com Dilma.
Em que medida isso pode travar as negociações para as reformas?
Ele tem alguns traços de estadista e quer deixar um legado. Mas percebe a complexidade dos problemas. Está tentando tocar, porém precisa trabalhar com um Congresso que é um refúgio de bandido. Na economia ele tem sido sensato, colocando pessoas certas nos lugares certos. O Pedro Parente, na presidência da Petrobrás, e a Maria Silvia Marques, no comando do BNDES, são exemplos disso. São gente boa, de princípios.
É a favor da reforma da Previdência como está proposta pelo governo?
É preciso uma reforma para que no futuro todos possam receber alguma aposentadoria. Porque se nada for alterado agora ninguém vai ter nada.
E quanto às críticas de que ela seria rigorosa demais?
As pessoas devem entender que terão que abrir mão de direitos. Ser cidadão é ter deveres também. É necessário um entendimento de onde estamos e onde queremos chegar. Mas a população fica assustada porque até agora não houve uma explicação didática sobre a reforma. Todos se sentem inseguros. Por isso é necessário explicar que não é bem assim.
Mas você não acha que a população já deu – e muito – sua cota de sacrifício?
As pessoas se sentem espoliadas porque o Estado não serve ao povo. A quantidade de desempregados hoje é imensa. Se o cidadão é pobre e fica doente, está ferrado. A febre amarela voltou, as facções criminosas dominam lugares que não fazem mais parte do Estado. Mas para construir uma grande nação é preciso ter sacrifício, vontade, trabalho. E a culpa por termos chegado a esse ponto é de todos nós, principalmente daqueles que não se interessam pela política, pela vida em comunidade. Não existirá nação enquanto não existir um projeto nacional.