Apenas uma semana depois do bombardeio americano sobre uma base aérea na Síria, outro foco de tensão preocupa o mundo. Os governos dos Estados Unidos e da Coreia do Norte elevaram o tom do conflito histórico que coloca os dois países em lados opostos desde a Guerra Fria, deixando em alerta máximo os organismos internacionais. O agravamento do conflito começou no sábado 8, quando os EUA determinaram o envio para o Pacífico Ocidental do grupo aeronaval USS Carl Vinson.

Foi uma clara demonstração de força do presidente americano, Donald Trump, diante das ameaças crescentes do ditador norte-coreano Kim Jong-un de atacar aliados americanos na região – Coreia do Sul e Japão – ou o próprio território americano. Na segunda-feira 10, Jong-un afirmou, por meio da chancelaria de Pyongyang, a capital norte-coreana, que sua administração estaria pronta para o enfrentamento. “Nós responsabilizaremos os EUA pelas consequências catastróficas implicadas por suas ações ultrajantes”, disse um porta-voz. “Se os EUA ousarem escolher uma ação militar, clamando por um ataque preventivo ou a eliminação de instalações, a República Popular Democrática da Coreia estará pronta para reagir a qualquer modo de guerra almejado pelos EUA.”

Ao longo da semana, as tensões alcançaram o ponto máximo. Imagens de satélite teriam captado movimentações na base de testes nucleares de Punggye-ri, aumentando o temor de que o país estivesse preparando um ataque. A precaução era ainda maior porque o governo norte-coreano preparava para o sábado 15 a celebração pelo 105º aniversário do nascimento de seu fundador, Kim Il-Sung, morto em 1994.

“A Coreia do Norte busca problemas. Se a China decidir ajudar, isso será genial. Se não, resolveremos o problema sem eles” Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
“A Coreia do Norte busca problemas. Se a China decidir ajudar, isso será genial. Se não, resolveremos o problema sem eles” Donald Trump, presidente dos Estados Unidos

Nessas ocasiões, tornou-se tradição na ditadura coreana apresentar ao mundo sinais de força de seu poderio bélico. O país tem um importante programa de armas nucleares e é o que tem maior número de sanções devido a testes atômicos. Assusta o mundo também que o arsenal esteja à disposição de um ditador imprevisível e determinado ao isolamento.

O governo japonês manifestou sua preocupação na manhã da quinta-feira 13. O primeiro-ministro, Shinzo Abe, afirmou que a Coreia do Norte teria capacidade de lançar em direção ao Japão mísseis carregados de gás sarin, o mesmo usado pelo governo de Bashar Al-Assad, na Síria, contra bases militares controladas por rebeldes naquele país. Trata-se de uma intimidação particularmente sensível à potência oriental. Em 1995, o gás foi a arma usada em um ataque no metrô de Tóquio pelo grupo de fanáticos religiosos Aum Shinrikyo. E no mês passado a Coreia do Norte disparou quatro mísseis balísticos a cerca de 1 mil quilômetros de distância. Três deles caíram em águas que o Japão reivindica como sua zona econômica exclusiva.

Pressão

A frágil situação geopolítica no Pacífico é agravada pela posição da China, único aliado da Coreia do Norte na região, e de quem a ditadura asiática é dependente economicamente. A potência chinesa, no entanto, vem sendo pressionada pelo presidente Donald Trump para retirar seu apoio. “A Coreia do Norte busca problemas. Se a China decidir ajudar, isso será genial. Se não, resolveremos o problema sem eles!”, escreveu Trump no Twitter na semana passada.

O governo de Pequim se mantém contrário à imposição de força sugerido por Washington. “A força militar não pode resolver o assunto”, disse o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi. Apesar da clara divergência em relação à Coreia do Norte, China e Estados Unidos trabalham para intensificar suas relações comerciais, o que pressiona os dois países a não adotarem medidas mais duras entre si. Essa é uma das circunstâncias que acabou isolando a Rússia, que até então vinha sendo apoiada pela China na postura de não condenar o regime sírio de Bashar Al-Assad. O governo de Vladimir Putin vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando o ataque com armas químicas na Síria há duas semanas. A China, pela primeira desde o início da guerra civil no país árabe, em 2011, se absteve.

A mãe de todas as bombas 

Os Estados Unidos lançaram na manhã da quinta-feira 13 a sua bomba não nuclear mais potente. Foi a primeira vez na história que Washington usou a arma, chamada de “a mãe de todas as bombas”. Ela foi jogada sobre as montanhas da província afegã de Nangarhar, no Afeganistão, na fronteira com o Paquistão, território onde existem túneis que servem de abrigo para os extremistas do Estado Islâmico.72

A arma (na foto ao lado) é a GBU-43 e foi despejada sobre a região às sete horas da manhã, horário local. Ela tem mais de dez toneladas e foi desenvolvida pelo governo americano com o objetivo de ser usada na Guerra do Iraque.

O nome pelo qual ficou conhecida é uma alusão à frase do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, logo no início da Primeira Guerra do Golfo (1990/1991), conflito entre seu país e uma coalizão internacional de nações liderada pelos Estados Unidos. Na ocasião, Saddam afirmou que aquela seria a “mãe de todas as batalhas”.