A equipe econômica projeta uma década no Brasil de déficits primários nas contas públicas. Com o efeito da pandemia, que interrompeu o processo de ajuste fiscal, as estimativas do governo projetam resultados negativos nas contas do governo em 2021, 2022 e 2023.

“Estamos estimando para o oitavo ano de déficit primário em 2021. É algo inédito. Não tem similar na série histórica do Brasil e nem mesmo comparativamente no mundo. Pelo menos naqueles países há possibilidade de comparação direta”, alertou o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues.

Segundo ele, o governo herdou posições fiscais muito frágeis e fez o dever de casa em 2019, mas é muito longe ainda de todo o esforço fiscal necessário para economia. “Mesmo com o forte avanço do ajuste em 2019, na realidade em 2021, 2022 e 2023, teremos déficit”, disse.

O secretário afirmou que o governo fará todo possível para mudar esse cenário, depois de passada a crise da covid-19. “Mas há, sim, uma probabilidade de termos uma sequência de 10 anos de déficit primário”, reconheceu.

Diante desse cenário, Waldery e o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, alertaram para a importância de agilizar a agenda de reformas e de concessões/privatizações para mudar o quadro em 2021. Isso porque as receitas extraordinárias serão fundamentais para o pós-crise.

Mansueto Almeida destacou, por sua vez, que o atual governo será o primeiro a conseguir, num ciclo de quatro anos, reduzir despesas como proporção do PIB. “Ao contrário de todos os governos desde 1988, a piora do resultado primário não será por aumento de despesa”, afirmou.

A despesa primária era 19,8% do PIB em 2018 e deve encerrar 2022 em 18,33% nas projeções do governo divulgadas nesta quarta. “É a primeira vez desde Constituição de 88 que teremos num ciclo queda da despesa primária”, disse.

Já a receita líquida cairá de 17,8% do PIB em 2018 para 16,8% em 2022.

Segundo Waldery Rodrigues, a despesa primária total em 2021 deve subir com a previsão de R$ 319,36 bilhões em despesas não sujeitas ao teto, chegando a 22,35% do PIB. Mas ele tratou como algo provisório. “Precisamos ter ações que reduzam despesa como porcentual do PIB”, disse. Considerando as despesas sujeitas ao teto, elas somarão 18,43% do PIB.