Estamos chegando próximo ao limite de longevidade das populações?

Um estudo liderado por pesquisadores europeus revela que a expectativa de vida, embora ainda em crescimento, está desacelerando em países ricos. Segundo a pesquisa, publicada em agosto na revista PNAS, a longevidade está perto de estacionar — e nenhuma geração nascida entre 1939 e 2000 deverá atingir a média dos 100 anos, como se acreditava.

Isso não significa uma redução da expectativa de vida, mas sim de seu crescimento. Os cientistas analisaram dados sobre mortalidade em 23 países de alta renda e empregaram seis métodos estatísticos para prever tendências de longevidade em coortes de gerações anuais ainda vivas. Como resultado, descobriram que o ganho de expectativa de vida é menor a cada ano: desde a década de 1990, não passa de dois meses em relação ao ano anterior, o que não chega a 30% do que era registrado a cada geração no início do século 20. 

“Este estudo foi muito ambicioso por pensar em estimativas para grupos contemporâneos e com um volume de dados grande. Isso nos oferece um direcionamento de onde olhar para intervir e investir como sociedade para conseguir prolongar a vida e o bem-estar”, afirma a geriatra Erika Satomi, do Einstein Hospital Israelita. “Entretanto, temos que olhar para esses dados com cuidado, já que a pesquisa foi feita em populações de países muito desenvolvidos e que são distantes do contexto brasileiro.”

O trabalho mostra que, em 1900, uma pessoa podia esperar viver em média 62 anos, um recorde para aquele período que veio sendo progressivamente alongado até 1938, ano em que os nascidos já tinham previsões de chegar aos 80. Entretanto, o ritmo desse ganho de tempo de vida vem caindo desde então e está crescendo lentamente. A expectativa é de que se mantenha entre 85 e 90 anos. 

Seguindo o ritmo do início do século, os nascidos em 1980 em diante teriam uma expectativa de vida média de 100 anos. Na prática, porém, os modelos matemáticos revelam que não há indícios disso — mesmo as gerações mais recentes, do século 21, não devem chegar a essa idade.

“Esse crescimento do início do século se deu principalmente pela melhora na mortalidade infantil, com mais acesso a saúde, novos medicamentos e saneamento básico. Em vários países, especialmente nos com alta renda como observado no estudo, já se chegou ao teto de acesso a esses serviços, por isso os impactos diminuíram. No Brasil, ainda temos onde melhorar”, analisa Satomi.

Embora a expectativa média não deva atingir os 100 anos, está se tornando mais comum que casos isolados cheguem a essa marca. “A expectativa é um dado populacional de referência, mas as realidades dos indivíduos são totalmente distintas. A maioria dos meus pacientes ultrapassaram a média da geração deles. É possível chegar lá, com saúde e independência, e esses são os focos de tratar o envelhecimento. Ninguém quer viver mais se não tiver qualidade de vida”, observa a geriatra.

Um novo foco para envelhecer bem

Considerando que a mortalidade infantil já está controlada nos países pesquisados, o estudo sugere que a nova fronteira para aumentar a expectativa de vida seria combater males relacionados ao envelhecimento, como câncer, doenças coronárias e neurodegenerativas. Entretanto, esse desafio pode ser mais difícil de cumprir, já que muitas das ações para a prevenção dessas doenças dependem de comportamentos individuais mais do que de ações coletivas.

“Claro que há como intervir para facilitar o check-up ou melhorar o acesso a uma alimentação saudável, mas o que temos na velhice é reflexo de uma série de comportamentos da vida e que não podem ser mudados. Nosso foco é no que podemos fazer no presente para melhorar o futuro e, muitas vezes, isso vai depender do indivíduo, de comer melhor, praticar atividades físicas, entre outros cuidados”, afirma a médica. 

Universalizar o acesso a essas práticas entre pessoas idosas poderia melhorar significativamente a qualidade de vida delas, mantendo-as independentes e produtivas mesmo após os 80 anos. “Há um desgaste muito grande do organismo nesse intervalo, mas se temos um paciente de 65 anos que fuma e é obeso e um de 85 anos ativo e que foi atleta, muitas vezes o mais velho estará mais saudável e com prognósticos melhores que o mais jovem. A resposta parece estar nesse acúmulo de coisas boas que fazemos por nós”, pontua Erika Satomi.

No consultório, não faltam pacientes que declaram ter o sonho de superar as previsões e alcançar um século de existência. “As datas redondas têm uma áurea, né? Há alguns anos o sonho dos pacientes era cumprir 90, agora vejo que o objetivo se alongou até os 100. É um número que impressiona, até pelo dígito extra, e fico feliz de ver que mais gente está chegando lá”, conclui a especialista do Einstein.

Fonte: Agência Einstein

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