O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, manifestou preocupação pela detenção de Juan Pablo Guanipa, opositor do governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, e denunciou uma “nova onda repressiva” antes da eleição de governadores e deputados marcada para este domingo, 25, no país latino.
Guanipa estava na clandestinidade e é um aliado importante da opositora María Corina Machado, que chegou a ser presa em janeiro durante um protesto contra o líder autoritário.
Rubio classificou como “injustificada e arbitrária” a prisão do ativista, bem como as de mais de 70 pessoas, segundo uma nota do Departamento de Estado. O chefe da diplomacia americana reconheceu “a tenacidade” de Corina Machado, que permanece na Venezuela.
Nesta sexta, Rubio se reuniu com os cinco opositores venezuelanos que ficaram por mais de um ano refugiados na embaixada da Argentina em Caracas diante de uma escalada de prisões às vésperas das eleições que reconduziram Maduro ao cargo, em julho de 2024.
O americano elogiou os opositores por “sua coragem diante da repressão implacável e da tirania de Maduro“, expressou gratidão “a todos os envolvidos” na operação de resgate, cujos detalhes são mantidos em sigilo e reiterou o apoio da Casa Branca à “restauração da democracia venezuelana”.
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Maduro e a repressão crescente à oposição
Maduro tomou posse em 10 de janeiro de 2025 para seu terceiro mandato de seis anos à frente da Venezuela. Com a presença reduzida de lideranças internacionais, o evento ocorre com a marca de uma eleição contestada por entidades internacionais, protestos reprimidos violentamente e opositores perseguidos pelas forças policiais no país.
Em 29 de julho de 2024, Maduro foi reeleito pela segunda vez após receber 51,2% dos votos, de acordo com a promulgação do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), controlado pelo regime do incumbente.
O chavista derrotou Edmundo González Urrutía em um processo marcado por acusações de fraude, do cancelamento de registros de candidaturas de oposição à recusa das autoridades eleitorais a divulgar as atas da votação. O resultado não foi reconhecido por Estados Unidos, União Europeia e pelo Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos.
Na semana que antecedeu o pleito, Maduro afirmou que o país poderia enfrentar um “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso não fosse reeleito. Enquanto o político vociferava, a oposição registrava observadores para as mais de 30 mil mesas eleitorais do país com o objetivo de evitar a coação de integrantes do governo.
A oposição local, entidades internacionais de transparência e os governos de Colômbia, México e Brasil — apesar de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser um aliado histórico de Maduro — pediram a divulgação das atas eleitorais. Não há qualquer sinal de que o movimento tenha surtido efeito.

Manifestantes são presos pela Guarda Nacional Bolivariana em Maracaibo após protesto contra Maduro | Reuters
Com o chefe de Estado oficialmente habilitado para um terceiro mandato, ao menos 25 civis foram mortos e centenas ficaram feridos em protestos nos dias que sucederam a eleição.
Francisco Bueno, um dos manifestantes que foram às ruas no estado de Carabobo, afirmou que os policiais deslocados para reprimir os atos “não estavam atirando com balas de borracha, mas com balas reais”. Victor Bustos, seu primo, foi um dos mortos.
Nos meses que se seguiram, manifestações em diferentes regiões do país tiveram registros de repressão violenta por parte da Guarda Nacional Bolivariana, corporação subordinada ao Ministério da Defesa de Maduro. A ONG (Organização Não Governamental) Human Rights Watch publicou relatos de ao menos 20 mortes em manifestações contrárias ao trabalho de Maduro. O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, afirmou que ao menos 1.062 pessoas foram presas em protestos no país desde que o presidente foi reeleito.

Edmundo González Urrutía vota no pleito em que foi derrotado por Maduro | AFP
Derrotado por Maduro na eleição de 2024, González optou por uma estratégia já utilizada pela oposição ao chavismo e se autoproclamou presidente dias após o pleito. “Nós ganhamos essa eleição, sem dúvida alguma. Foi uma avalanche eleitoral, com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e resultados irreversíveis”, escreveu em um comunicado no qual também pedia que o governo cessasse a repressão violenta aos protestos no país.
Nos meses seguintes, o político denunciou episódios de perseguição e prometeu seguir combatendo o regime. Com a escalada de violência contra manifestantes e lideranças, González se refugiou na embaixada espanhola em Caracas e, no mês de dezembro, conseguiu asilo na Espanha. “A posição do Estado espanhol, conforme estabelecido no documento do Conselho Europeu, no qual a organização pede a libertação de todos os presos políticos e exige que a Venezuela cumpra seus compromissos com o direito internacional”, afirmou na ocasião.
González permaneceu no asilo até os primeiros dias de 2025, quando foi à Argentina, ao Uruguai e, no domingo, 5, se reuniu com o presidente Joe Biden e Michael Waltz, futuro conselheiro de Segurança de Donald Trump, nos EUA.
O político prometeu retornar a seu país para a posse presidencial de Maduro. Na terça-feira, 7, Rafael Tudares, genro de González, foi sequestrado quando levava os netos do opositor à escola.
Na quinta-feira, 9, a filha do político, Mariana González, afirmou ainda não ter informações a respeito do paradeiro do marido e classificou o sequestro como uma ação de retaliação política a seu pai. O relato da filha foi republicado por González no X (antigo Twitter).

María Corina Machado discursa durante protesto em Caracas antes de ser presa | Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
Às vésperas da posse de Maduro, uma grande manifestação foi realizada em Caracas pedindo a deposição do presidente. No ato, a principal líder da oposição, Maria Corina Machado, foi presa e libertada horas depois.
Essa foi a primeira aparição pública da ex-deputada após meses de reclusão, período em que relatou sofrer perseguição do regime e “temer pela sua vida”.
O histórico de restrições a Corina é conhecido na Venezuela. Fora do Legislativo desde que teve seu mandato cassado pela Mesa Diretora da Assembleia Nacional, a política liderava pesquisas de intenção de voto para concorrer contra Maduro nas eleições de 2024, mas teve os direitos políticos cassados por 15 anos pela Controladoria-Geral do país e acabou substituída por González na disputa.
Diretor da Human Rights Watch para as Américas, Juan Pappier afirmou que Corina teve de “gravar vários vídeos” nas horas de detenção e pretende se dirigir à população para explicar o que ocorreu assim que possível. Até a publicação desta reportagem, a opositora não havia se pronunciado.
O governo venezuelano chamou as notícias da prisão de Corina de “distração da mídia”. “A tática de distração da mídia não é nova, portanto ninguém deve se surpreender. Menos ainda vindo de fascistas que são os arquitetos do engano. Há poucos minutos, a direita vendeu a ideia de que (Machado) havia sido atacada e detida por ‘motociclistas do regime’”, escreveu Freddy Ñáñez, ministro da Informação de Maduro.
*Com informações de AFP