Estado prévio do edifício que desabou em Miami gera dúvidas

Estado prévio do edifício que desabou em Miami gera dúvidas

O prédio que desabou na quinta-feira em Miami estava em reforma e havia afundado ligeiramente, ao menos na década de 1990, segundo um estudo, à medida que aumentam as dúvidas sobre as causas de uma tragédia tão complexa.

Antes de cair, o edifício passava por reformas no telhado, seguindo as leis do bairro em que está, exigidas a cada 40 anos, informaram autoridades locais na quinta-feira pela manhã. Elas descartaram que essas obras poderiam ter causado o desabamento.

A atenção então se voltou para um estudo de 2020 mostrando que o edifício sofreu um colapso “muito sutil” na década de 1990, a uma taxa de cerca de 2 milímetros por ano entre 1993 e 1999.

No entanto, um dos autores do estudo, Shimon Wdowinski, professor da Florida International University (FIU), disse à CNN que não sabia “se o colapso era previsível”.

“Por si só, o afundamento não causaria o colapso de um prédio”, explicou sua universidade em um comunicado parafraseando o pesquisador.

“Mas, neste caso, o sinal de [desabamento] está muito localizado neste edifício. Isso significa que não é necessariamente o edifício que afundou no solo. Pode ser que o edifício tenha desabado sobre si mesmo, caso tenha havido danos estruturais no prédio”, explicou ele nesta sexta-feira à CNN.

O afundamento em terrenos medido em Miami leva muito mais tempo do que em outras partes do mundo também estudadas por Wdowinski, como a Cidade do México, que afunda 38,1 centímetros por ano, quase 2.000 vezes mais rápido, segundo nota da instituição.

“Não demos muita importância a isso”, afirmou Wdowinski ao USA Today, dizendo que parecia improvável que as autoridades municipais estivessem cientes do estudo antes do colapso.

Mas alguns milímetros, “quando somados ao longo de muitos anos, é um número grande”, ressaltou Matthys Levy, professor de engenharia da Universidade de Columbia, citado pelo USA Today.

E quando uma parte do prédio desaba, geralmente cria uma reação em cadeia, como nos ataques de 11 de setembro, observa ele.

“Isso não se detém, é imparável (…) Não há nenhum elemento [na estrutura] forte o suficiente para conter o colapso”, explica Levy, referindo-se a um mecanismo em “cascata”.

A imprensa americana também noticiou que um proprietário do prédio havia feito uma reclamação, em 2015, de que uma parede externa foi afetada por rachaduras e danos causados pela água.

A investigação sobre as causas da tragédia deve continuar.

“Nestes casos, os engenheiros estruturais (…) olham as plantas, como foi construído o edifício, recolhem amostras de aço, cimento, procuram por sinais de corrosão”, acrescentou outro especialista da FIU, Atorod Azizinamini, especialista em infraestruturas.

Um processo que “leva tempo” e que não será concluído em alguns “dias” ou “semanas”.