Sem energia, sem água, com muitas filas e aglomeração em meio a uma pandemia. É assim que a capital e outros 13 municípios de Amapá estão há mais de três dias. Quando a energia caiu na terça-feira (3), em Macapá, o tatuador Hian Marcondes pensou que era mais uma queda de luz costumeira de noites chuvosas e com raios na cidade. No entanto, o problema era muito maior do que ele imaginava.

De acordo com a ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a interrupção do fornecimento de energia foi causada por um incêndio no transformador 1 da subestação de Macapá, de propriedade da LMTE (Linhas de Macapá Transmissora de Energia). O problema atingiu 14 das 16 cidades do estado e  acabou afetando também o fornecimento de água para a população.

“Durante a tarde (quarta-feira), começou a faltar água. Aí dificultou tudo. Ficamos preocupados com nossos parentes, não conseguimos falar com ninguém”, relatou Marcondes.

“Fila para tudo”

Em entrevista à ISTOÉ, Marcondes explicou que no quarteirão onde ele mora, no centro da capital, a energia foi reestabelecida. Por conta disso, ele resolveu ir nas casas das suas duas mães para poder recarregar o celular delas e levar água.

“As ruas estão sem sinalização, as pessoas estão ao Deus dará. Está todo mundo querendo comprar água, alguns estão pegando até água do Rio Amazonas que não é potável. Está todo mundo desesperado. Em vários lugares já não tem (água para vender)”, afirmou o tatuador.

“O pessoal estava indo no shopping e no aeroporto para poder carregar o celular, quem ainda tem energia em casa está se oferecendo para carregar. Na rua está tendo fila para tudo, a farmácia estava com uma fila enorme por conta do caixa eletrônico, já que nenhum banco está funcionando. As pessoas estão tentando comprar coisas e não estão conseguindo porque nenhum lugar está aceitando cartão, a gente não tem nem sinal de celular.”

Segundo o tatuador, por conta da falta de energia e de sinal de telefone, ele não pode nem sequer desmarcar com a cliente agendada para quarta-feira. “Eu tinha um cliente que ia me dar uma boa grana, ia levar o dia todo, e não tive nem como me comunicar com ela”, contou.

Quem também teve a rotina afetada pela falta de energia foi o analista administrativo Lucas Pinheiro. Morador de Pedra Branca do Amaparí, a cerca de 19km da capital, ele teve que deixar o home office de lado e trabalhar presencialmente na empresa, que possui gerador.

Conforme Pinheiro, a situação em Pedra Branca está um pouco mais calma do que na capital. “A cidade enfrenta problemas com energia elétrica há anos, então a população já tem um certo preparo. Mas nunca tinha enfrentado algo dessa natureza. Geralmente, a falta de energia dura 24h aqui (as mais longas). Ainda não tá tendo disputa por água como em Macapá, mas gelo não tem mais e em breve o combustível vai acabar também”, relatou.

“Por enquanto temos água no poço, mas em breve vai acabar e vamos ter de procurar outros meios. Talvez nos rios próximos da cidade”, afirmou Pinheiro que mora com a esposa.

Medidas do governo

Os dois moradores do Amapá ouvidos pela reportagem dividem a mesma preocupação: “quanto tempo a falta de energia ainda vai durar?”. “Minha maior preocupação é com absolutamente tudo. A gente está no meio de uma pandemia. E a gente está ao Deus dará, não tem luz, não tem água, as coisas na geladeira estão estragando. São problemas muito básicos”, desabafou Marcondes.

“Haviam informado que tentariam resolver 70% da energia do Estado até amanhã, mas são duas preocupações: 1) saber se vão conseguir e 2) saber se a cidade de PBA está inclusa nesses 70%”, comentou Pinheiro.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, um gabinete de crise foi montado para restabelecer o fornecimento de energia no Amapá. Uma das medidas anunciadas na tarde desta sexta-feira (6) foi a chegada de uma máquina de purificação à subestação Macapá (AP) para o processo de descontaminação do óleo do transformador número 3 da instalação.

Ainda conforme o ministério, um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) deve levar ainda hoje mais duas máquinas que estão em São Luís (MA) para a capital do Amapá, para acelerar o processo de purificação.

A expectativa é de que o óleo usado no transformador alcance até a noite de hoje o nível de pureza necessário para a operação do equipamento. Isso vai permitir o restabelecimento de cerca de 70% da carga de energia para atendimento dos 14 municípios atingidos pelo apagão.

Ainda conforme o ministério, uma segunda aeronave da FAB vai transportar quatro geradores para a capital “para atender, de forma emergencial, as atividades essenciais que serão designadas pelo Governo do Estado”.