O deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP) é um dos mais ferrenhos defensores do presidente Jair Bolsonaro, integra a bancada evangélica e politicamente se situa na extrema direita. Pastor da Catedral do Avivamento, uma igreja pentecostal ligada à Assembleia de Deus, Feliciano diz estar convencido de que há “um complô para derrubar Bolsonaro”, tendo como pano de fundo o fato de que o presidente faz uma administração que terá resultados econômicos importantes nos próximos dois anos, o que o tornará “imbatível nas eleições presidenciais em 2022 e o maior puxador de votos no Brasil.” Dentro dessa ótica, o deputado vê a existência de “um conluio” para incriminar o presidente no caso da execução de Marielle Franco. Aos 47 anos, ele é polêmico por suas declarações contra homossexuais e negros. Exatamente por isso, sofreu forte oposição quando foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em 2013 — o compositor e cantor Caetano Veloso é um dos artistas que mais o combate. Feliciano, no entanto, enfrenta os seus detratores dizendo que só é criticado por ser evangélico.

Como o senhor viu as suspeitas de que o presidente estaria envolvido, de alguma forma, com o caso Marielle?

Surreal. Trata-se claramente de um complô para derrubar o presidente, porque em apenas 10 meses de governo a taxa de homicídios teve a maior queda da história, a economia tem saldo positivo de 700 mil empregos, temos a menor taxa de juros já praticada no País, e o problema fiscal foi resolvido com a nova Previdência. O PIB vai a 3% no ano que vem e a 4,5% em 2021. Tudo isso faz do presidente Bolsonaro imbatível nas eleições e o maior puxador de votos do Brasil. Entendeu agora o motivo do complô?

O presidente disse que foi armação da Rede Globo, mas o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde ele morava, realmente afirmou que um dos assassinos entrou no local horas antes do crime, dizendo que ia à casa do “seu Jair”.

Há um conluio para incriminar o presidente. Forçaram o porteiro a mentir. Eu te pergunto: e se o presidente não tivesse marcado a presença com sua digital no plenário da Câmara, onde estaríamos agora? Discutindo o impeachment dele. Para isso que existe a Lei de Segurança Nacional, para proteger o Estado brasileiro, que tem um chefe: o presidente da República. Em favor do Brasil tem de federalizar a investigação da morte da vereadora Marielle Franco.

O que acha dos que pretendem pedir o impeachment de Bolsonaro sob a acusação de obstrução de Justiça pelo fato de seu filho Carlos ter pego os áudios da portaria do condomínio?

Penso ser uma irresponsabilidade. Crime não se presume, se prova. E diz a Constituição que não existe crime sem lei anterior que o defina. Obstrução da Justiça nem existe no Direito brasileiro. O nome correto é embaraço à investigação criminal, e só é usada em casos de organização criminosa, que nem é sobre o que estamos falando. Eu concordo com o ministro Sergio Moro, que foi o juiz criminal mais duro que esse País já teve, quando ele disse que seria crime de embaraço à investigação só se houvesse destruição de prova. Tirar cópia não é obstrução de forma nenhuma. E Carlos nem cópia tirou, apenas gravou o som com o seu celular.

O presidente disse que o governador Wilson Witzel também está manipulando o MP do Rio de Janeiro. O senhor acha que o governador está agindo em má-fé?

Penso que sim. Ele foi muito tempo juiz federal e tem experiência. Como ex-juiz ele sabe como manipular o sistema. Só o fato de ele saber detalhes de uma investigação criminal e ter avisado o presidente Bolsonaro sobre o que ocorreria semanas antes, já coloca Witzel na cena do crime.

O senhor estava com o presidente na viagem à Arábia Saudita, quando ele fez o vídeo em que acusa a Globo de incriminá-lo. Qual a lição que se tira do episódio?

Pude perceber a dor dele, não como presidente, mas como pai de família. Queriam envolver um homem honrado, um ex-militar, um cidadão que foi 28 anos deputado federal sem ter nenhuma acusação de desvio, em um assassinato. Qualquer um teria a mesma reação indignada que ele teve.

Sobre o vídeo do leão cercado por hienas, o senhor concorda que o presidente está sendo atacado pela mídia, pelos partidos e pelas instituições, como o STF?

Deixo bem claro aqui que essa resposta é minha. Não é do presidente. O establishment quase, como um todo, é contra ele. Dos ícones ali elencados no vídeo faço ressalvas apenas sobre o STF, a quem ainda devemos dar crédito pela lisura. Ele está mudando a forma de fazer política que imperava no Brasil há 500 anos.

Por que o presidente atacou o Supremo, já que a Corte mandou suspender a investigação contra o senador Flávio Bolsonaro no Rio?

Falo eu aqui e não o presidente. É a minha impressão. O presidente não havia percebido a sigla do STF ali no vídeo. Bolsonaro sofre perseguições e isso atinge também a parte institucional. Se pensasse só nele e nos filhos, bastava lotear o governo federal como sempre foi feito antes. Mas ele trabalha por mudanças, e por isso as instituições reagem, querem que fique tudo como estava. Mas o presidente luta por um novo Brasil.

O senhor vem se tornando um dos maiores defensores de Bolsonaro no Congresso. Acha que o presidente conseguirá terminar o mandato sem problemas?

Tenho certeza disso. Aliás, a gritaria da oposição e dos inimigos do Brasil nas últimas semanas é justamente por isso. Viram que a economia vai ter um boom e que ninguém mais segura esse País. O povo vai ter dinheiro no bolso depois de seis anos de dificuldades. Escreve aí: ano que vem o maior cabo eleitoral do Brasil se chamará Jair Messias Bolsonaro.

E o caso do deputado Eduardo Bolsonaro, que declarou que se a esquerda brasileira fizer o mesmo que a chilena haverá necessidade de um novo AI-5?

Eduardo foi mal interpretado e se desculpou. Se a esquerda fizer convulsão aqui temos leis e instituições para proteger a Nação. Eu inclusive já protocolei duas notícias-crime na PGR contra a deputada Gleisi Hoffmann e contra o senador Humberto Costa por crimes contra a segurança nacional por incitarem manifestações como as do Chile. Golpe é para quem não tem o poder, e o presidente Bolsonaro já o conquistou nas urnas. Ao longo de 30 anos o presidente disputou nove eleições e ganhou todas. Ele é um democrata.

O senhor defendeu o deputado e chegou a dizer que o senador Humberto Costa (PT-PE) fez pior, dizendo que a “hora do Brasil vai chegar”, pregando uma revolta popular. Há ameaça de grandes manifestações no Brasil?

Acho que não, pois a economia está melhorando. Grandes revoltas só ocorrem quando há carestia, piora na renda das famílias. Mas vejo a esquerdalha em um frenesi após o que ocorreu no Chile. Esquerdopatas ficaram excitados com o quebra-quebra no país e querem trazer a baderna para cá a todo custo, tomando o Brasil de assalto. Então temos de ficar de olho. Não passarão! Temos leis e instituições para proteger o nosso País.

Como o senhor vê a possibilidade do ex-presidente Lula ser solto agora em novembro?

Muito ruim para o Brasil. A prisão de Lula era um exemplo do fim da impunidade, e uma Nação se guia pelo exemplo.

Concorda com o início do cumprimento de pena em segunda instância?

Sou favorável à execução da pena com a condenação em segundo grau, como é em qualquer país civilizado.

O fim da prisão em duplo grau de jurisdição vai estimular a impunidade e dificultar o combate à corrupção?

Sem dúvidas. Será um estímulo ao crime de colarinho branco, que sempre teve os melhores advogados do País à disposição, para fazer às vezes mais de 30 recursos em um só processo.

Como vê a luta ideológica travada pelo presidente quase que diariamente? Ele está deixando de lado a administração dos problemas brasileiros?

Seria ingenuidade achar que uma coisa está descolada da outra. O presidente Bolsonaro trava a chamada luta ideológica justamente para melhorar a administração pública. Como já disse, o establishment não quer as mudanças, inclusive as administrativas. Quer que tudo fique como está, pois foi assim que sempre ganharam muito. O presidente luta contra tudo isso.

Jair Bolsonaro tem dito que vai “despetizar” o governo, sobretudo os órgãos mais aparelhados pelo partido, como a educação e a cultura. O que acha disso?

Ainda está muito aparelhado. Temos muitas melancias. Se fingem de conservadores, mas são vermelhos por dentro. Quando podem, sabotam. Estamos descobrindo quem são.

O senhor acaba de indicar Letícia Dornelles para a Casa Rui Barbosa. Ela vai afastar os petistas da instituição?

Em primeiro lugar, tem de diferenciar quem é servidor de carreira e quem é cargo de confiança. Uma coisa é o Estado, permanente, e outra é o governo, temporário. Cargo de confiança só pode ocupar quem estiver em total sintonia com o governo. É esse é o caso de Letícia.

De que forma julga a intervenção de Bolsonaro na Cultura, impondo censura a entidades como a Ancine, Funarte, etc. Concorda que não se pode mais fazer eventos culturais com espaço para temas profanos?

Eu defendo o liberalismo. Penso que filmes não devem ser feitos com dinheiro público, não importa sobre o tema que tratem. A população elegeu, junto com o presidente, uma agenda clara, que incluía uma nova política cultural. Então, nada mais normal um governo implementar políticas públicas em consonância com as bandeiras que o elegeram. Quase 90% da população é cristã e defende valores conservadores, principalmente em relação à proteção da família. Se querem fazer algo em desacordo com esses valores, penso que há liberdade de expressão assegurada às minorias, nos limites da lei, mas tem de trabalhar sem dinheiro público.

Acha que filmes religiosos, por exemplo, devem predominar no cinema brasileiro?

Se tiver público para sustentar, que seja assim feito. Quem tem de regular a produção de filmes é a demanda do mercado, não o governo.

Embora esteja no Podemos, vai defender a reeleição de Bolsonaro, que está no PSL?

Eu defendo a reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022. Ninguém tem melhores condições do que ele para continuar liderando o processo de mudanças no Brasil. Nada impede que lá na frente o Podemos venha a achar a mesma coisa que eu. Três anos em política correm como se fossem três séculos.