O professor de esquerda Pedro Castillo se aproxima nesta segunda-feira (12) de garantir sua vaga no decisivo segundo turno eleitoral, ao liderar com 17,49% os votos as eleições de domingo, embora a disputa pela outra vaga ainda esteja em aberto entre três candidatos de direita.

A disputa pelo segundo turno em 6 de junho continuava acirrada entre três candidatos: Keiko Fujimori (direita populista) com 13,09% dos votos, o economista de direita Hernando de Soto com 12,77% e o ultraconservador Rafael López Aliaga com 12,46%, segundo a última contagem do Escritório Nacional Eleitoral (ONPE) com 73% da apuração.

O presidente que emerge das urnas tomará posse no dia 28 de julho, dia em que o Peru comemora o bicentenário de sua independência, e terá o desafio de superar a emergência de saúde, com números recordes de infecções e mortes nos últimos dias, uma profunda recessão econômica e crise política em um país de 33 milhões de pessoas.

– A luta apenas começou –

“A mudança e a luta estão apenas começando”, disse Castillo, de 51 anos, que saiu do anonimato em 2017 ao liderar milhares de colegas em uma prolongada greve nacional.

Esse professor de escola rural começou a aparecer com possibilidades nas pesquisas e a se destacar entre os 18 candidatos há apenas uma semana, após percorrer silenciosamente o país e apresentar bom desempenho nos debates eleitorais na televisão.

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“Com Castillo, temos uma esquerda anti-establishment que é socialmente conservadora e rejeita a economia de livre mercado”, disse o cientista político Carlos Meléndez, que antecipa uma “votação complicada”, disse à AFP.

Muitos se surpreenderam com o resultado da votação, que busca encerrar um período turbulento de cinco anos em um país sem partidos políticos fortes e onde o candidato é mais importante do que a ideologia.

Os peruanos, que tiveram quatro presidentes desde 2018, foram às urnas no domingo para eleger um novo presidente entre 18 candidatos, sem nenhum favorito.

“Infelizmente fomos surpreendidos por Castillo e estamos, portanto, preocupados, mas ao mesmo tempo, também, vendo que o país está realmente dividido”, disse à AFP Rumi Cahuana, de 38 anos, de Lima.

– Bolsa e dólar –

Na Bolsa de Lima, o Índice S&P/BVL Peru Geral, o mais representativo, caiu 2,29% por volta do meio-dia. Nove índices caíram e dois permaneceram estáveis, enquanto o dólar subiu ligeiramente para 3,64 soles (0,44% a mais que na sexta-feira).

Um chefe do setor bancário, que pediu para ter sua identidade preservada, disse à AFP que “o resultado do primeiro turno não está deixando uma reação negativa no mercado, como poderia ser previsto em princípio”.

Embora os números sejam negativos, eles não são uma catástrofe. Não há leilões de títulos e nem o preço do dólar disparou, explicou.

– “Keiko será a segunda” –

A mídia local agora especula sobre possíveis alianças para o segundo turno, mas De Soto disse que “tudo isso fará sentido quando tivermos os números finais” da votação.


A empresa de pesquisas Ipsos antecipou que Keiko terminará em segundo lugar, embora inicialmente essa posição fosse ocupada por De Soto.

“Quando [os registros de votação] chegarem às áreas rurais, veremos que Keiko tem mais apoio do que o registrado pelo ONPE e vai deslocar gradativamente De Soto e López Aliaga”, disse à AFP o chefe da Ipsos Peru, Alfredo Torres.

A filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori (1990-2000) concorre pela terceira vez e diz ter “muita fé em que nossa passagem para o segundo turno seja confirmada nas próximas horas”.

– “Anti-voto” –

Torres prevê que “será um segundo turno polarizado, porque ambos [Castillo e Keiko] têm bastante anti-voto. Há um sentimento anti-Fujimori em um setor da população e em outro há um sentimento anticomunista”.

“O anticomunismo se deve à terrível experiência com [a guerrilha maoísta de] Sendero Luminoso […] e, em certa medida, também se deve às evidências do fracasso do regime chavista na Venezuela”, disse Torres.

“No Peru há um milhão de imigrantes venezuelanos e isso é visto como um mau sinal pelos peruanos”, acrescentou.

Mas também haverá um confronto geográfico, segundo o Meléndez: “A eleição deixa uma divisão Lima/litoral norte contra o resto do país andino e rural”.


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