Esquerda comemora e direita vê perseguição a Bolsonaro em indiciamento

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Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Foto: AFP/Arquivos

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) caiu com forte indigestão na cúpula bolsonarista raiz, embora os mais moderados já dessem como certa a inclusão do nome dele no relatório final. Aliados de Bolsonaro ouvidos pelo site IstoÉ acreditam que será difícil retirar o ex-presidente do centro das acusações no inquérito sobre a trama golpista.

Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal nesta quinta-feira, 21, junto com outros 36 suspeitos de participarem de um esquema para arquitetar um golpe de Estado. Todos foram acusados de tentativas de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Na direita, a repercussão foi predominantemente negativa. A ala mais moderada manteve um tom discreto nas declarações e admitiu que o indiciamento já era esperado. Na avaliação de um aliado, será difícil “tirar ele dessa enrascada”, embora haja esperança de que Bolsonaro não se torne réu antes do fim do ano. Ele destacou a estratégia de usar as eleições de 2026 para reforçar a narrativa de perseguição contra o ex-presidente, o que poderia mobilizar a base de apoio.

Já a ala raiz recorreu às redes sociais para questionar a legitimidade do inquérito da Polícia Federal. Deputados e senadores alinhados com Bolsonaro classificaram o relatório como uma “fantasia”.

Entre os bolsonaristas mais ferrenhos, a estratégia é desacreditar o relatório e questionar a imparcialidade do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz o caso. Eles argumentam que Moraes seria uma “suposta vítima” do plano golpista, o que comprometeria sua imparcialidade.

Enquanto isso, na esquerda, o indiciamento foi motivo de celebração e pressão para barrar projetos que possam beneficiar Bolsonaro. Governistas usaram as redes sociais para criticar o ex-presidente, chamando-o de “bandido”.

Líderes da base governista, como o deputado José Guimarães (PT-CE), aproveitaram para provocar a oposição e rejeitar o Projeto de Lei da Anistia, que tramita lentamente na Câmara. Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protocolaram um pedido ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), para arquivar a proposta.

No Palácio do Planalto, a reação foi de confiança. Interlocutores de Lula acreditam que será difícil Bolsonaro escapar de uma denúncia formal da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Um aliado do presidente avaliou, em declaração ao site IstoÉ, que a existência de documentos com planos para matar o então presidente eleito Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Moraes agrava ainda mais a situação. Ele destacou que o fato de Bolsonaro ter conhecimento do plano demonstra omissão e afirmou esperar uma tramitação célere do caso no STF.