Os partidos de esquerda lançaram nesta terça-feira (20) um “manifesto de unidade”, pensando em uma eventual aliança para as eleições de outubro, após a derrocada do PT e o futuro incerto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A ideia é tentar aproximar os programas partidários da esquerda para que a gente possa ter uma unidade de ação se não no primeiro, no segundo turno”, disse à AFP o deputado do PT por São Paulo Carlos Zarattini, pouco antes do início do evento.

Em uma sala da Câmara dos Deputados lotada de militantes, dirigentes e deputados – e também com algumas ausências notáveis neste espaço público – os oradores atacaram o governo do presidente Michel Temer e seu programa de ajustes e baixa intervenção do Estado na economia.

O texto entregue propõe “livrar o Brasil desse regime ultraliberal, autoritário, contra o povo e contra a Nação, que vem sendo imposto pelo governo Temer e pelos partidos conservadores e as grandes forças econômicas internas e externas que lhe dão apoio”.

Sem menções explícitas a Lula, diferentemente dos discursos repletos de reivindicações do ex-presidente (2003-2010), o manifesto exige “a defesa da soberania nacional e do patrimônio do Brasil contra as privatizações criminosas, em especial da Petrobras e da riqueza do pré-sal”.

“Este é um ato, mais que nada, de unidade política”, disse Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.

– Lula, democracia e impeachment –

A esquerda entrou em crise em 2016, quando o Congresso depôs a presidente Dilma Rousseff (2011-2016) por manipulação das contas públicas, um julgamento político que interrompeu um período de mais de 13 anos de governo do PT, seguido de uma avassaladora derrota nas eleições municipais naquele mesmo ano.

Os problemas deste espectro político se aprofundaram com as acusações de corrupção contra Lula, que ao deixar o poder era o presidente mais popular da história recente do Brasil.

Condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e com sua candidatura tão ameaçada quanto sua liberdade, o caso de Lula levou o PT a dar os primeiros sinais de uma possível candidatura alternativa à do homem que lidera com folga as intenções de voto para 7 de outubro.

“Lula é o favorito. Tem uma probabilidade muito grande de se eleger, caso ele consiga ser candidato. Agora, um candidato da esquerda com apoio de Lula, ele vai estar no segundo turno. Como vamos costurar isso, qual vai ser esse nome, caso Lula não possa ser candidato, é uma outra questão que ainda tem que ser discutida. Hoje só podemos avançar na unidade programática”, acrescentou Zarattini.

As forças de esquerda lançaram vários pré-candidatos. Estes incluem a deputada Manuela d’Ávila, do PCdoB; o ex-deputado Ciro Gomes, do PDT; e muitos nomes associados ao PSOL e ao PSB.

Tanto o PDT quanto o PSB apoiaram majoritariamente o impeachment de Dilma durante o julgamento no Congresso, um reflexo do vai-e-vem da política brasileira, que demonstra as discrepâncias no âmbito da própria esquerda, embora por enquanto nenhum candidato forte apareçam no campo adversário.

Por estes motivos, as eleições de outubro se anunciam como as mais incertas desde o retorno do País à democracia, em 1985.