Vários atletas ucranianos de destaque criticaram Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), por cogitar a participação de atletas russos e bielorrussos nos Jogos de Paris-2024, e pedem que ele faça um exercício de memória histórica sobre a Segunda Guerra Mundial.

“Vamos relembrar o que aconteceu em 1936 nas Olimpíadas de Berlim”, disse à AFP Olha Saladukha, ex-campeã mundial do salto triplo e agora deputada. “A guerra na Ucrânia começou depois dos Jogos de Inverno de Sochi em 2014”.

“Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha (que não foi convidada em 1948) foi excluída dos Jogos”, acrescenta a campeã, por email, à medida que se aproxima o aniversário da tentativa de invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. “Depois de tantos danos, era complicado fazer outra coisa”.

Bach é “inteligente” e “quer que haja o maior número possível de atletas” em Paris, acredita Saladukha. “Seu raciocínio é compreensível, mas não podemos concordar. Um estado assassino, cujo povo, incluindo atletas, apoia seus crimes, deve ser afastado”.

Stanislav Horuna, medalhista de bronze nos últimos Jogos de Tóquio, considera “inadequada” a declaração de Bach, que disse que “nenhum atleta deve ser excluído por causa de seu passaporte”. “Pode se justificar em tempos de paz, mas não corresponde à situação atual”, diz o karateca.

“Há uma guerra! E o país que provocou essa guerra irracional deveria ser excluído do movimento olímpico”, acrescentou, dizendo ainda que seria ingênuo acreditar que uma bandeira neutra seria vista como uma punição para os russos.

O COI provocou a ira da Ucrânia em janeiro ao anunciar que estava explorando “um caminho” com vistas a autorizar a participação de atletas russos e bielorrussos nos Jogos de Paris-2024, mesmo sob uma bandeira neutra.

Por sua vez, o presidente do comitê olímpico russo, Stanislav Pozdnyakov, indicou que é inaceitável que regras diferenciadas sejam aplicadas à sua delegação.

“Mas a guerra continua, as pessoas morrem e as cidades são destruídas todos os dias”, insiste Saladukha, que afirma que 220 atletas e treinadores ucranianos morreram desde o início do conflito.

“Eu sei o que é perder tudo o que você tem e dizer adeus à sua vida anterior, mas o mais difícil é perder as pessoas que você ama”, continuou a deputada, que perdeu um parente em Mariupol e um colega perto de Bakhmut.

“E o que vemos na Rússia? Centenas de atletas que apoiam a guerra. Não ouvimos ninguém se levantar contra a guerra. Nessas condições, é justo autorizar os russos, mesmo sob uma bandeira neutra?” pergunta.

A ex-campeã acredita que os bielorrussos que protestaram contra seu presidente autocrático Alexander Lukashenko, e aqueles que vivem no exterior, devem ser integrados à equipe de refugiados, como a Polônia propôs.

Saladukha aplaude a coragem de “Lord Sebastian Coe”, presidente da federação internacional de atletismo, que fechou a porta aos russos e bielorrussos durante a tentativa de invasão.

“Mais de 40 países estão prontos para boicotar os Jogos se admitirem russos e bielorrussos sob uma bandeira neutra. Lutaremos até o último momento com os países democráticos para convencer o COI a excluir atletas russos e bielorrussos”, disse o lutador Zhan Beleniuk. medalha de ouro em Tóquio-2020 e agora também deputado na Ucrânia.

pi/cd/hgs/psr/aam