Técnico do Ceará em 2018, Lisca foi responsável por uma das campanhas mais históricas para salvar um clube da zona de rebaixamento. Naquele ano, o Vozão ocupava a lanterna do Brasileirão com apenas cinco pontos somados até a 12ª rodada – situação parecida com a do Fluminense em 2024 – e foi a única equipe a se salvar nessas condições.

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Em entrevista ao Lance!, o comandante deu a receita para Mano Menezes livrar o Tricolor da lanterna e, consequentemente, sonhar com a permanência. Dentre diversos fatores, treinador, elenco e torcida precisam estar em sintonia.

– Primeiro é mostrar motivação, mostrar tesão por aquilo que ele está fazendo, amor, paixão, respeitar demais o clube que ele está representando. Mostrar para os jogadores que a permanência é uma grande conquista apesar de não ter medalha. Talvez seja mais importante do que um título estadual, regional. Levantar a moral dos jogadores, fazer a sintonia entre torcida e atletas, trabalhar muito, mostrar conteúdo, fortalecê-los muito mentalmente. Sebo nas canelas, muito trabalho, muita confiança e achar alternativas. É o grande desafio do treinador. Encaixar bem as peças, fazer com que elas juntas cresçam, que todo o grupo aceite aquilo e jogar pelo Fluminense, com o coração, com alma. Ser um pouco amador na concepção da palavra.

No entanto, Lisca entende que a recuperação do Fluminense é uma missão muito complicada, visto que o clube tem 83,6% de chances de cair para a Série B, segundo a UFMG. Ainda assim, o treinador relembrou a histórica campanha de 2009 para não deixar de acreditar.

– É bem difícil. Eu comandei um time que foi o único em toda a história dos pontos corridos a se livrar com seis ou menos pontos após a 12ª rodada. Impossível não é, porque nós conseguimos. O Fluminense tem o exemplo do time de 2009. Tinha 99% de chance de cair, era outra fase do campeonato. Agora eles tem 85% (de chance de queda), então está um pouco melhor a probabilidade. É bem difícil dar essa virada bem grande, mas é viável. Ainda mais com os jogadores que têm, com o treinador que está chegando. O torcedor tem que comprar a bronca, que há seis meses estava comemorando o maior título da história… Talvez essa permanência seja tão grande quanto isso. Muito difícil, mas pode acontecer.

Outro fator que Lisca destaca como chave para mostrar a diferença entre a virada de chave do Ceará em 2018 para a do Fluminense é a questão do tempo de trabalho. Há seis anos, o técnico contou com a paralisação do Brasileirão por conta da Copa do Mundo, o que foi determinante para conhecer o plantel e fazer as mudanças necessárias.

– Em 2018, o Ceará começou muito mal e me chamou de novo. Foi quase como uma convocação. Eu tinha saído do Paraná. A diferença daquele trabalho para esse que o Fluminense vai ter que realizar é que naquele ano tinha a Copa do Mundo. Uma parada de 40 dias depois da 12ª rodada. Isso me motivou. É uma notícia ruim para o Fluminense. Foi um campeonato diferente, tive uma pré-temporada e pude mudar muita coisa dentro da equipe, do clube, modelo de jogo, característica da equipe, mudança no plantel. Acho importante o treinador ter carta branca para poder adequar os jogadores aquilo que ele tá pensando para o período de recuperação. A gente trocou o grupo e treinamos demais no período da Copa. Oportunizamos muitos jogadores novos, como Everson, Felipe Jonathan, Leandro Carvalho, Arthur Cabral… Nenhum desses meninos tinham jogado a Série A. Jogadores com fome, necessidade de crescer. Bem diferente do que é o Fluminense.

Nesta terça-feira (2), Mano Menezes comanda seu primeiro treino no Fluminense e faz sua estreia diante do Internacional, na quinta-feira (4), no Maracanã. Em caso de vitória, o Tricolor não deixa a zona de rebaixamento, mas respira mais aliviado em relação a fase atual.

CONFIRA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA COM LISCA:

DIFERENÇA DO FLUMINENSE PARA O CEARÁ

– São muitas diferenças. A pujança do Fluminense. O Ceará é enorme, mas o Fluminense tem uma história muito forte na Série A. Quando chega esses momentos em que cai na zona de rebaixamento e que tem dificuldade, talvez os clubes mais emergentes, como Cuiabá, Juventude, Atlético-GO, estejam mais preparados para esse momento. O primeiro objetivo desses clubes é a permanência e depois uma Sul-Americana e talvez até a Libertadores. Os clubes grandes sofrem mais, sentem mais. Os jogadores não conseguem agir com tanta naturalidade. O Fluminense foi montado dentro do padrão do Fernando (Diniz), que gosta da bola, joga curto, em aproximação. Não é um time de transição, vertical. Vai ganhando por etapas, por fases, por espaço. Bem diferente do que apliquei no Ceará. Também não vai ter aqueles 40 dias e a mudança de estilo é muito grande. A diferença do Mano para o Diniz é muito grande. E o tempo para se mudar isso é trocar o pneu do carro com ele andando, bem difícil. O Ganso, Cano, Marcelo, Martinelli, Felipe Melo são jogadores que jogam mais tecnicamente. O Arias, Keno são mais rápidos, de mais transição. São características de mudar no time do Fluminense, mas o tempo é muito mais curto. A concorrência está muito forte.

CHEGADA DE MANO MENEZES

– São jogadores muito experientes. O John Kennedy também é bem importante. Fluminense perdeu peças importantes, como o Nino, André (lesionado) e Arias (na Copa América). Com a volta do André e Arias vai ser muito importante, assim como a chegada do Thiago Silva. O Mano tem que ser muito escutado na maneira como ele quer jogar, de alguma situação que ele sinta falta para ele colocar o que pensa em campo para essa recuperação. Talvez um time mais objetivo, que saiba transitar mais rápido. Talvez não tão técnico. Eu acho que ele tem que ter toda a liberdade, dar uma olhada nos meninos de Xerém. Fazer essa mescla entre maturidade e juventude. O Mano é um cara muito experiente. Trabalhamos juntos na base do Inter, acho que ele tem totais condições, mas acho que o Fluminense vai trazer até três jogadores. É uma tarefa difícil porque tem que subir de 15% para 52% de aproveitamento. Aproveitamento de pré-Libertadores, mas o Fluminense já mostrou que pode fazer isso. Vamos ver se com essa mudança radical de estilo de jogo, consegue fazer a recuperação.