“Podem morrer as pessoas, mas nunca suas ideias”. Em Vallegrande, localidade boliviana onde Ernesto Che Guevara foi capturado há 50 anos, mantém-se viva neste domingo (8) a frase do guerrilheiro mais famoso da América Latina.

“Acharam, na época, que era só matar o Che e acabou. Mentira! Mataram o Che, e ele foi muito maior, multiplicou-se por milhões”, disse o cubano Eloy Fidalgo López, de visita a Vallegrande para relembrar as cinco décadas da morte do guerrilheiro, aos 39 anos, nas mãos do Exército boliviano.

Com o impulso do governo de Evo Morales, um dos poucos remanescentes da onda de esquerda que se espalhou pela América Latina nos últimos anos, busca-se transformar Vallegrande em uma lembrança viva da luta anti-imperialista.

Neste domingo, Morales liderou uma marcha para percorrer os caminhos trilhados há 50 anos pelo guerrilheiro argentino – de Lagunillas a Samaipata – executado pelo Exército em La Higuera, um dia após sua captura em Vallegrande.

“Estamos em outros tempos, tempos da libertação democrática”, ressaltou o presidente, enfatizando que, diferentemente de há meio século – quando se combatia com balas -, agora, a arma é “o voto”.

Ainda que os motivos possam ser diferentes, seja para atrair o turismo, seja para idealizar a Revolução, autoridades locais e nacionais se esmeraram nesta data comemorativa.

Em Vallegrande, onde antes estavam os restos mortais de Che e de seis companheiros, agora ergue-se um mausoléu.

Flores, “cubanos”, guimbas de cigarro e fotos de Che sobre uma pedra com os nomes manuscritos dos sete guerrilheiros mantêm viva a memória de um dos mitos da revolução anti-imperialista planetária.

“A peregrinação se deu, sobretudo, até 1997, quando não se sabia onde estava enterrado”, explicou a guia turística María Vargas.

Depois que seus restos mortais foram levados para Santa Clara, em Cuba, “diminuiu um pouco”, disse ela à AFP.

– Fazendo história –

Hoje, entre barracas instaladas ao lado do mausoléu (Evo Morales passará a noite em uma delas), não faltam os jovens e os nem tão jovens, vestidos com o tradicional uniforme verde-oliva, de barba e boina – os mesmos itens que imortalizaram Che pelas lentes do fotógrafo Alberto Korda.

Perto do monumento, rodeado por um parque com árvores plantadas, entre outros, por sua filha Aleida Guevara, por amigos e até por desconhecidos, há um pequeno museu com as fotos das últimas horas de Che morto e cópias de seus diários.

“Este centro foi construído há um ano. Tudo para fortalecê-lo por ocasião dos 50 anos e transformá-lo em uma atração turística”, reconhece a guia.

Estiveram nessa comemoração os quatro filhos de Che, delegações de Cuba e da Venezuela e admiradores de toda América Latina. Entre eles, seu amigo de alma Carlos “Calica” Ferrer, que conheceu o guerrilheiro quando este tinha quatro anos, e ele, três, há 85 anos.

Os destinos de ambos se separaram no Equador. Ferrer tinha ido a Quito jogar futebol, enquanto Che esperava em Guayaquil para embarcar rumo ao Panamá. Os dois viajaram juntos por quatro meses pela América Latina.

O primeiro país ao qual chegaram foi a Bolívia, em 1953.

“O destino fez que não seguíssemos a rota e, se você quer saber, lamento não ter seguido com ele”, disse, emocionado, vendo algumas fotos do amigo.

Ferrer seguiu para Caracas, onde se encontrou com Alberto Granado, o primeiro companheiro de viagem do argentino, e que inspirou o filme de Walter Salles, “Diários de Motocicleta”.

Che Guevara chegou à Guatemala e, depois do golpe de Estado contra o governo democrático de Jacobo Arbenz, seguiu para o México, onde encontrou Fidel.

“Ali começa a ser ‘o’ Che”, afirmou.