Nesta terça-feira, dia 21, às 16h, a calçada do Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, no Ceará, vai receber o espetáculo As Peripécias do Bode Ioiô, de Evan Teixeira. A ação faz parte da programação do Estouro Cultural, um projeto que une arte, acolhimento e cidadania no coração de Fortaleza. A peça, que tem entrada gratuita, conta a história do Bode Ioiô, um verdadeiro símbolo do Ceará, que foi eleito vereador nas eleições de 1922, em um ato de protesto da população.
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De acordo com o autor, diretor, produtor e protagonista da peça, Evan Teixeira, o bode icônico “é um símbolo de resistência e irreverência do Ceará“. “É um animal que saiu do sertão cearense com os sertanejos que fugiram da seca de 1915, rumo a Fortaleza, em busca de oportunidades. E, na capital, dentre várias histórias peculiares que ele vivenciou, tem a de que foi eleito vereador pelo povo, como voto de protesto contra o descaso político da época“, explica.
Teixeira também lembra que, mesmo o caso tendo acontecido há muito tempo, a história é relevante e importante de ser contada no dias atuais. “Essas narrativas, mesmo tendo ocorrido há mais de 100 anos, ainda se mantêm atuais em nossa sociedade. Apesar dos avanços sociais conquistados, a luta por condições mínimas de dignidade — como acesso à alimentação, moradia, saúde, educação, trabalho e lazer — continua sendo uma necessidade constante”, diz.

Evan Teixeira em ação durante a peça. Foto: Tac Filho
De acordo com a atriz Ana Moreno, que também faz parte do elenco, a peça “é puro suco de cultura cearense e de Brasil”. “A história do Bode Ioiô é um excelente exemplo do senso de humor crítico e irreverente do cearense. De uma gente, que como a maioria dos brasileiros, usa o humor para protestar uma classe política por quem não se sente representada”, reflete.
“Ele era o verdadeiro mascote de Fortaleza dos anos 1920, tendo acesso a restaurantes, bares, andando de bonde, e sendo eleito o vereador mais bem votado em 1922. E além do viés político, é muito importante para o público infantil ver obras sobre animais que transitam pelas ruas sendo bem tratados e queridos pela população local”, diz.
Hoje, o bode encontra‑se empalhado e em exposição no acervo do MUSCE (Museu do Ceará). O museu registra que o acervo, incluindo esse item, está atualmente sob o Anexo Bode Ioiô. De acordo com Teixeira, o personagem “ajuda a contar um pouco para as novas gerações de como se construiu boa parte da sociedade cearense, sobretudo de Fortaleza”.

O Bode Ioiô depois de restauro completo, em 2024. Foto: Jeny Sousa/Divulgação/Secretaria da Cultura do Ceará
Segundo ele, sua pesquisa sobre o tema passou por dois espetáculos: O Bode Quer, uma
versão mais livre, e As Peripécias do Bode Ioiô, uma versão infantojuvenil. “Em O Bode Quer, há uma maior imersão em suas histórias burlescas, como por exemplo, a do Ioiô boêmio, que
tomava cachaça com os poetas, artistas e intelectuais da época”, conta.
A versão já foi apresentada em diversos centros culturais e festivais do Ceará, como também fora do estado, como o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, em São Paulo e o Festival de Teatro da Amazônia, no Amazonas. “Em As Peripécias do Bode Ioiô, passeamos pelo enredo do Ioiô mascote da cidade, para contar de maneira mais voltada para o universo infantojuvenil, as aventuras que esse animal vivenciou e que até hoje marcam o imaginário popular de Fortaleza“. explica.
A versão já foi apresentada em diversos espaços culturais cearenses, como também, em ambientes educacionais. “É nessa mistura entre a inquietude que o animal bode tem em sua natureza, as histórias vividas pelo Bode Ioiô e a irreverência do povo cearense, impulsionado pelos diversos artistas parceiros que contribuíram com essa pesquisa, que construí a dramaturgia, a encenação, bem como o corpo e a voz do personagem, que fala, que canta, que interage e que provoca o público“, reflete.
Além do personagem principal, a peça também conta com outros dois personagens ícones da cultura do Ceará, interpretados por Ana Moreno. O primeiro é o advogado, escritor e cabo eleitoral de Ioiô, Quintino Cunha, tão importante pra Fortaleza que há um bairro com seu nome, e que era conhecido por sua irreverência e por contar anedotas mesmo enquanto atuando como advogado. “Para mim, foi importante incluir essa dualidade de um homem culto, mas que leva a vida com leveza”, diz a atriz.

Ana Moreno, que interpreta Quintino Cunha e Rachel de Queiroz. Foto: Alex Valladares
Além dele, Moreno também interpreta Rachel de Queiroz, a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras e detentora do Prêmio Camões. “Além de ser uma das grandes escritoras brasileiras da história, Rachel era uma pessoa muito politizada e foi representante do Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas) em 1966. Eu tentei construir ela, ainda muito jovem nos anos 1920, com uma verdadeira sede em colocar a mulher nordestina no mapa, um grupo que é historicamente marginalizado duas vezes – pela geopolítica brasileira e por questões de gênero”, explica.
De acordo com Evan Teixeira, a peça é voltada principalmente para o público infantojuvenil, mas encanta pessoas de todas as idades, pois “além de encenar uma das histórias mais fascinantes do Ceará, ela mistura teatro e música ao vivo de forma leve, divertida e cheia de energia”. Além disso, ele destaca a importância de o projeto poder ser exibido em um local aberto e para todos os públicos. “Acho incrível, pois possibilita que pessoas em qualquer local possam assistir, o que fortalece a democratização do acesso à arte, e constrói pontes entre a cultura, memória e socialização”, afirma.
A colega de Teixeira concorda e diz que “qualquer pessoa de 8 a 108 que aprecia boa música e boas histórias pode esperar se divertir, aprender e participar ativamente da peça, pois o Evan teceu essa história lindamente e com muito dinamismo“, explica Ana Moreno, que acredita que “a escolha da Praça do Ferreira, coração popular de Fortaleza, como palco para essa história é muito simbólica e muito significativa“.
Ficha técnica
Dramaturgia, direção, performance e produção: Evan Teixeira
Atriz convidada: Ana Moreno
Percussão: Thais Costa
Violão: Victor Hugo
Figurino e cenotecnia: Glauber Lima
Serviço
Endereço: Cineteatro São Luiz – Rua Major Facundo, 500 – Centro (Fortaleza/Ceará)
Dia e horário: 21 de outubro de 2025, às 16h
Ingressos: Entrada franca
Classificação indicativa: Livre
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