Andrea Thomioka foi a primeira brasileira a conquistar a medalha de ouro na International Ballet Competition em Varna, em 1996. Completou 20 anos durante o concurso. Ao contrário de Amanda Gomes, ela ainda não era uma bailarina profissional quando participou do evento na Bulgária.

Thomioka, hoje curadora de dança do Centro Cultural São Paulo, era aluna de Toshie Kobayashi – um dos principais nomes da dança clássica nacional, que morreu em maio. Em 1995, a bailarina havia ganhado a medalha de bronze na 7ª Masako Ohya World Ballet Competition em Osaka, no Japão. No ano seguinte, aceitou o desafio de ir para Varna. “Tive de buscar em um mapa para saber onde era. Há 20 anos, as pessoas não sabiam o que a gente fazia aqui no Brasil.”

Cerca de 20 dias antes de embarcar, a bailarina teve de trocar de partner. Marcus Vinicius Lacerda precisou aprender às pressas as cinco obras que teria de apresentar com Thomioka na competição: os grands pas de deux de Cisne Negro, Dom Quixote e Diana e Acteon e os trabalhos contemporâneos Valsa sem Nome e Shogun – que também recebeu medalha de prata de melhor coreografia -, os dois de Ivonice Satie.

Mas os percalços continuaram. Na viagem para a Bulgária, as bagagens foram extraviadas. “Fazia 32º, a gente com a roupa do corpo, os tutus, as sapatilhas e a música. Ficamos quatro dias assim”, conta. “No primeiro passeio, fomos comprar uma roupa que a gente pudesse fazer aula.”

Improvisando, a dupla praticava no corredor do hotel, segurando na calefação. “Quando chegamos, o concurso ainda não havia começado e não tinha como ficar sem aula”, justifica.

Thomioka recorda as apresentações madrugada adentro, o sol escaldante durante os ensaios e a beleza do palco aberto. “Aquele palco é maravilhoso, divino.” Também lembra que, à medida que passava de fase, despertava a ira de outras concorrentes, principalmente as francesas do Ópera de Paris, que não se conformavam com a conquista de um país com menos tradição no balé.

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“A medalha serviu como reconhecimento do trabalho de muita gente. Sinto muita honra”, diz Thomioka. “Mas vinte anos depois, o que mudou? A Amanda já está lá fora, mas e se não estivesse? Quais seriam as perspectivas de carreira para ela aqui?”, questiona. “São vinte anos. Acho que a gente conseguiu bastante coisa. Tanto que existem muitas escolas (no exterior) que querem bailarinos brasileiros porque sabem que a gente tem muito talento.”

E conclui: “Não quero acreditar que, em 20 anos, o que a gente promoveu foi só a exportação dos nossos talentos”, diz. “E espero que não demore mais 20 anos para o Brasil ganhar outra medalha de ouro.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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