SÃO PAULO, 26 MAI (ANSA) – Por Lucas Rizzi – Nos 8.827 dias entre sua estreia e aquele que será seu último jogo na Série A, o maior ídolo da Roma, Francesco Totti, dividiu os vestiários do clube giallorosso com 34 brasileiros, desde os inesquecíveis Aldair e Cafu até aqueles de passagens fugazes, como o imperador Adriano.   

Ao longo desses 24 anos e dois meses, “il Capitano”, ou “o Capitão”, jamais passou uma temporada inteira sem conviver diariamente com jogadores do chamado “país do futebol”, alguns dos quais destacam características diferentes do craque, de acordo com a época em que estiveram a seu lado.   

O ex-volante Marcos Assunção, 40 anos, a mesma idade de Totti, defendeu a Roma entre 1999 e 2002 e fez parte do histórico time campeão italiano em 2001, o último scudetto levantado pelos giallorossi. Na época, ambos tinham entre 23 e 25 anos, por isso não é de se estranhar que Marcos Assunção descreva o Capitão como alguém extrovertido, brincalhão, divertido.   

“Do Totti eu só tenho coisas boas pra falar. Quando fui pra lá, éramos jovens, mas já se via que ele era um cara sensacional, me recebeu muito bem”, conta o ex-volante em entrevista à ANSA.   

Quando o brasileiro desembarcou na “cidade eterna”, Totti já era capitão, camisa 10 e ídolo romanista, um espaço conquistado com gols, assistências e uma habilidade rara para usar o calcanhar.   

“Mas ele jamais deixava de exercer sua liderança quando necessário. Era um cara extrovertido. Independentemente de ter usado a faixa naquela época, Totti sempre foi um cara muito gente boa”, acrescenta o ex-jogador de Palmeiras e Santos, sem esconder a alegria em falar de seu “grande amigo”.   

Juan, 38 anos, é da mesma faixa etária, porém jogou na Roma mais tarde, entre 2007 e 2012, quando o meia-atacante já havia passado dos 30. Pode ser efeito da experiência e do avançar da idade, mas o zagueiro do Flamengo já via Totti como um cara mais calado e reservado, embora gostasse de brincar e se desse bem com todos.   

“Dentro de campo, tivemos uma relação muito boa. Os gols que fiz eram sempre jogadas dele, foi um grande prazer jogar ao lado dele, porque o que ele representa para a Roma dificilmente alguém vai representar para um time, é uma bandeira, um cara da cidade”, diz o defensor rubro-negro.   

Segundo Juan, Totti é uma pessoa simples no dia a dia e que jamais admite ser “diferente”. “É um jogador que, quem vê de fora, talvez pense que o clube vive em função dele. Mas quem vive lá dentro sabe o quanto ele se sacrifica pelo clube dele.   

Sempre se sacrificou”, salienta o zagueiro.   

Nascido em Roma, em 27 de setembro de 1976, Totti tem sua imagem confundida com a do clube e da própria cidade. Romanista de coração, nunca defendeu outros times, mas esteve perto de se transferir para o Real Madrid em 2002. Acabou ficando e talvez não tenha conquistado tudo aquilo que seu futebol seria capaz de lhe dar. Esse foi o preço por alcançar uma idolatria quase sem parâmetro no futebol.   

“Acho que Totti foi feliz em sua estadia como jogador da Roma.   

As pessoas o amam. Ele gosta de estar na cidade dele, gosta do clube. Temos que buscar nossa felicidade, se ele não jogou em outras equipes, pode ter certeza que foi porque não quis: não quis ter outros torcedores que não fossem os da Roma. É um cara pra quem temos de tirar o chapéu”, afirma Marcos Assunção.   

O fim da passagem do Capitão pela equipe giallorossa talvez não tenha sido como ele gostaria: poucos minutos em campo, quase sempre entrando nos instantes finais e um relacionamento frio com o técnico Luciano Spalletti. A própria Roma anunciou que não via mais futuro para Totti como jogador antes mesmo que ele se manifestasse sobre a aposentadoria – que, até esta sexta-feira, 26 de maio, não está oficialmente confirmada.   

“Jogadores como ele, que dão a vida por um time, merecem um acordo no momento de parar. Ele merecia aproveitar de uma forma mais intensa esse ultimo ano”, declara Juan. Com o tempo, é provável que eventuais ressentimentos esmoreçam. No fim das contas, ficarão na história as mais de 780 partidas, os 307 gols, cinco títulos e 24 anos de dedicação. Mais do que um ídolo da Roma, Francesco Totti é a Roma. (ANSA)