A escritora Helena Lahis foi internada involuntariamente em 2018 pelo ex-marido, Paulo Lima, presidente da Universal Music, logo depois de pedir o divórcio. Para justificar a internação compulsória por 21 dias, foram usados um surto decorrente de um remédio usado para obesidade, depressão, transtorno bipolar e hipomania.

De acordo com o portal IG, no inquérito encaminhado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, foram ouvidos o psiquiatra e psicanalista que acompanha Helena desde sua depressão pós-parto, Manoel Castro Sá; o endocrinologista Pedro Assed, que receitou a sibutramina para ela em 2017; e a psicóloga Maria de Fátima Moreira de Sousa Nunes que, junto com seu marido e psiquiatra, acompanhou Helena no pós-trauma e deu laudo sobre o estado dela.

O portal falou com Pedro Assed e Maria de Fátima sobre a situação de Helena antes e depois de ser internada contra sua vontade.

“Quando ela me procurou com uma queixa de piora no estilo de vida, ganho de peso, sintomas também de uma pré-menopausa. Até hoje ela frequenta o meu consultório pelo menos uma vez por mês. Iniciada a mudança de estilo de vida, com uma paciente sempre motivada, disposta a perder peso, frequentou também uma nutricionista, estava fazendo atividade física. Na época, nós julgamos que valia a pena introduzir a medicação que funcionaria como uma espécie de ajuda”, disse Assed.

“Apesar da gente saber que a sibutramina é uma medicação muito sensível, que cada indivíduo tem uma resposta diferente, essa é uma resposta excepcional, tanto que ao longo de dois anos, ela perdeu 22 quilos. Em nenhum momento ela apresentou alteração de comportamento, não apresentou nenhum sintoma de efeito colateral, não teve nenhuma alteração do psique, nem instabilidade emocional”, afirmou.

Pedro diz que encontrou Helena três dias antes da internação involuntária e ele recorda que “Helena estava completamente assintomática, normal”. Foi só depois de ela ter saído da clínica e ter faltado à consulta mensal que Pedro teve conhecimento da internação.

“Eu fiquei muito chateado com essa versão fantasiosa que foi criada, porque estão criando um fato que não é verdade. Eu sou a prova viva, sou testemunha viva e ocular de que não aconteceu. Primeira coisa, quem está em surto de hipomania não tem atividade intelectual brilhante como a Helena tem. Ela estava com um livro preparado para ser lançado. São pequenas coisas que é só a pessoa reparar que todos os argumentos caem por terra. Eu sei que como médico, eu não devo nem tomar partido. Quando eu carimbo um tratamento, eu assumo a responsabilidade e esse tratamento eu me orgulho de ter conduzido porque foi um tratamento extremamente exitoso. Então eu não tenho medo da verdade”, disse.

Já Maria de Fátima conta mais sobre a situação: “A gente avaliou que ela tinha a inteligência preservada, uma atenção preservada, uma memória preservada. Ela não tinha nenhuma alteração cognitiva que pudesse justificar [a internação]. Então a gente foi para a parte da doença mental em si, quando a gente vai trabalhar a percepção, se tem alguma alguma ansiedade, depressão, transtorno de humor, alteração da personalidade”, afirmou.

“A única coisa que nós orientamos e isso está no laudo é que ela buscasse um acompanhamento médico para dormir melhor, pois ela estava com dificuldades. E ela precisaria voltar a terapia para continuar lidando com essas questões que acabaram de aparecer. Mas isso não invalidaria a vida dela laborativa, afetiva. Ela poderia ter uma vida como ela tinha antes dessa internação, só que tem que trabalhar algumas coisas que tentaram desconstruir. A gente não entra em internação involuntária e sai do mesmo jeito”, disse.

Depois que seus amigos conseguiram um habeas corpus para tirá-la da clínica, hoje Helena está livre e busca que os responsáveis pela sua internação respondam criminalmente pelo caso.