Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo não acreditam em novos picos da doença na capital paulista. Com a reabertura do comércio de forma gradual, na avaliação do clínico Paulo Olzon, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Município pode enfrentar um pequeno aumento de casos de infecção, que depois tende a diminuir.

Denize Ornelas, diretora de Exercício Profissional da Associação Paulista da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC), considera que, “aparentemente”, não haverá uma explosão de casos – uma estabilização no número diário de mortes ocorre desde o início de maio.

Ela comenta que essa desaceleração está acontecendo da mesma maneira que ocorreu em outros países e de forma geral, mesmo em lugares onde não se fez isolamento absoluto. “Chega uma hora que a gente atinge um ponto meio que de equilíbrio.”

Ela explica que o curso epidêmico vai se atenuando com o tempo e após cinco meses de pandemia as equipes de saúde estão mais treinadas.

Na avaliação de Olzon, da Unifesp, nem haveria tantos problemas em deixar as pessoas circulando pelas ruas. “Quando há pessoas circulando, há espaço maior para dispersão do vírus. Qual é a lógica de fechar parques e as pessoas estarem trabalhando dentro de metrô e ônibus fechado?”

Para ele, a imunidade de grupo vem à medida que se entra em contato com o vírus e as pessoas vão adquirindo essa imunidade.

Denize afirma ainda que era natural que a capital paulista tivesse mais óbitos – uma vez que a pandemia veio importada, via pessoas que viajaram ao exterior – e a expansão ocorresse do centro para a periferia. “Como São Paulo foi a capital que logo teve essa possibilidade de fazer quarentena, as primeiras pessoas a serem protegidas foram as que tiveram possibilidade de ficar em casa. Posteriormente, começa a haver, no começo de abril, uma expansão para os locais periféricos, entre pessoas que vão continuar circulando, andando de ônibus.”

Futuro

O levantamento da Secretaria Municipal da Saúde paulistana de 30 de abril mostra que as principais comorbidades – as doenças preexistentes nas pessoas que morreram por covid-19 – são cardiopatia crônica, diabete e doenças pulmonares. Em pessoas abaixo dos 60 anos, destacam-se a obesidade e a imunodepressão. Esses são fatores que precisam ser analisados para melhorar reações futuras a pandemias.

“É fundamental saber se a pessoa estava fazendo acompanhamento, exames. Quanto ao gênero, as estatísticas apontam que homens adoecem mais, têm hábitos que induzem mais à diabete, mais hipertensão e tendem a se cuidar menos”, analisa Denize Ornelas.

Outros fatores ainda precisam ser analisados, como destaca Márcia Alves dos Santos, pesquisadora na UFRJ e membro do GT Racismo e Saúde da Abrasco. “Houve uma pesquisa do Vigitel 2018 em que a população negra demonstrava maior prevalência de doenças cardíacas, hipertensão, diabete e tabagismo. Como muitas dessas doenças dependem do comportamento, é previsível que o acesso aos alimentos seja um componente importante. E a obesidade também tem sido apontada como fator de agravamento para morte”, explica.

Para Denize Ornelas, há de se considerar “situações relacionadas à estrutura da sociedade”. “Eu, se sou pessoa branca, garanto que consigo ficar recebendo (salário) nos 14 dias que fico afastada do trabalho. Se sou pessoa negra, que trabalha no mercado informal, não vou buscar atendimento de saúde logo no início. Quando se agravar, vou em condição pior.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.