Infelizmente não são incomuns os casos de mulheres que foram agredidas física ou verbalmente por homens. Em algumas situações isso acontece após o indivíduo ter sido rejeitado, como, por exemplo, o empresário Thiago Brennand, que empurrou uma mulher em uma academia no Shopping Iguatemi (SP), e Kzam Matos Martins, de 30 anos, que passou a ser investigado por ser suspeito de atacar oito mulheres, em Manaus (AM), depois de elas se recusarem a manter relações afetivas com ele.

A IstoÉ conversou com duas especialistas para saber os motivos pelos quais alguns homens têm essas atitudes agressivas.

A neurocientista Juliana Niza explica que para o indivíduo chegar às vias de fato contra uma mulher existem dois fatores: “O primeiro é a forma como a mente dele, especialmente o subconsciente, foi construída desde a infância. O segundo motivo se trata da criação desse sujeito”.

“O nosso cérebro produz bioquímicas que influenciam diretamente o nosso organismo e, por consequência, também vai influenciar no comportamento. A questão é que depende das informações que foram armazenadas no subconsciente desde a infância. Por meio delas alguns homens vão criar padrões comportamentais e acreditar que aquele é o jeito correto de reagir. É como se, dentro da cabeça dele, não fosse errado aquilo que está fazendo”, completa.

Ainda na questão da maneira como aquele homem foi educado, a especialista em Desenvolvimento Humano Branca Barão associa a agressividade com a nossa cultura machista, mesmo que já tenhamos evoluído em alguns aspectos. “O homem em uma cultura machista tem mais poder, direitos e espaço que uma mulher. É claro que isso mexe com a cabeça do indivíduo. Eu vejo que, ainda nos dias atuais, algumas meninas são criadas para serem delicadas, educadas, cuidadosas e ajudarem nos afazeres domésticos. Enquanto alguns meninos ficam sentados no sofá jogando videogame. Por isso eles entendem que as mulheres existem para satisfazer as suas vontades.”

“Uma criança que não aprende a ter limites e tem apenas o seu sim respeitado pode se tornar um adulto que invade o espaço do outro. Então quando uma mulher fala que não quer mais ter relações com aquele homem, isso se torna um gatilho para uma reação violenta.”

Em alguns casos, o ambiente agressivo em que aquele homem foi criado também pode influenciar no seu comportamento. “Se caso ele teve um pai que era violento de alguma forma com a mãe, isso pode auxiliar a criar padrões na sua mente. Então muitas vezes ele tem o comportamento agressivo por conta de rupturas de padrões. Não é algo externo, e sim de dentro dele que, naquele momento, está colocando para fora. Isso é algo sério que precisa ser analisado”, informa a neurocientista.

Outro ponto que pode contribuir para isso são os traumas. “Se esse indivíduo tem traumas no passado, medos ou inseguranças, ele vai reagir de forma negativa, infelizmente. No caso de um homem rejeitado, pode existir uma questão psicológica que precisa ser analisada. Ele tem alguma culpa, medo ou insegurança e a rejeição é o gatilho para uma reação agressiva”, acrescenta Juliana Niza.

Vale ressaltar que, caso exista uma questão psicológica, cada ocorrência deve ser analisada por um profissional competente.

Contudo, para a especialista em Desenvolvimento Humano, também é fundamental saber como lidar com essa rejeição. “É natural sentir raiva ou frustração ao ouvir um não. Mas não saber reagir e, por conta disso, agredir um outro ser humano significa que existe uma questão a ser trabalhada, que não seja necessariamente uma doença. Às vezes pode ser uma dificuldade em se criar uma maturidade emocional, o que também não é fácil.”

Porém, se tiver um problema psicológico, a neurocientista Juliana Niza afirma que é possível corrigir esse comportamento agressivo. Mas, para isso, o homem precisa identificá-lo e assumir que necessita de ajuda. “Nós trabalhamos na neurociência com o lado da reprogramação mental, que seria a ressignificação dos padrões mentais para lá na frente alterar os comportamentais. Existem tratamentos que podem ser realizados para trabalhar esses casos de agressividade”, finaliza.