A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, decretada em 16 de fevereiro deste ano, chega a nove meses de duração, com conquistas e críticas na avaliação de especialistas. O assunto é tema de seminário no Rio, promovido pelo Ministério Público Federal, que reúne pesquisadores no tema, representantes da Justiça e ministérios públicos, assim como moradores de comunidades. O evento começou nessa quarta-feira (28) e vai até amanhã (30). 

A cientista social e coordenadora-geral do Observatório da Intervenção do Centro de Estudos de Segurança Pública e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Sílvia Ramos, chamou a atenção para o aumento de tiroteios próximos de escolas e também de balas perdidas durante o período. Para ela, o legado, até o momento, é principalmente na redução no número de crimes ao patrimônio, como a diminuição no roubo de cargas. Porém, classificou que falta trabalho de inteligência nas operações promovidas pelas Forças Armadas, que envolvem grande número de militares, são caras e têm feito poucas apreensões de armas pesadas, como fuzis.

“Foram muitos tiros e pouca inteligência”, disse Sílvia Ramos. O interventor, general Braga Netto, foi convidado para o evento, porém no dia anterior avisou que não poderia comparecer.

O Ministério Público Federal, discute a proteção dos direitos humanos e atividade  policial durante a Intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

O Ministério Público Federal discute efeitos da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro – Fernando Frazão/Agência Brasil

A representante da Anistia Internacional no Rio, Renata Neder, destacou que 63 mil homicídios foram registrados no país em 2017, o que mostra falha do Estado brasileiro em proteger a população. Segundo ela, as maiores vítimas são jovens, pobres e negros.

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“O foco tem sido a guerra às drogas, com operações ostensivas, que nem sempre seguem uma estratégia ou são frutos de investigações”, disse. Ela lembrou o exemplo do México, que desde 2006 utiliza as Forças Armadas no combate ao tráfico, resultando no aumento de homicídios e crescimento da corrupção entre os militares, por causa da maior exposição ao crime.

O antropólogo Luiz Eduardo também criticou a política de guerra às drogas como solução para diminuir a violência. Ele argumenta que não é prendendo os chamados “aviõeszinhos”, jovens que vendem pequenas quantidades de drogas, que o problema será solucionado. Soares, que foi secretário nacional de Segurança Pública, em 2003, frisou que o tráfico de drogas evoluiu financeiramente, com uso de empresas para lavagem internacional de dinheiro, o que obriga uma abordagem com mais inteligência policial.


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