A empresa de recrutamento Robert Half divulgou recentemente uma pesquisa na qual mostrou que 49% dos profissionais entrevistados desejam por uma nova oportunidade de trabalho em 2023. Questionados sobre os possíveis desafios profissionais, 61% disseram que pretendem mudar de empresa, mas continuar na mesma área de atuação, enquanto 39% afirmaram que almejam migrar para uma nova área.

Mirando no último recorte da pesquisa, a especialista em gestão de pessoas Rosana Daniele Marques explicou em entrevista à IstoÉ que o primeiro passo fundamental é o profissional fazer uma autoavaliação para compreender o que deseja com mudança de carreira. “Em seguida, é fundamental realizar um planejamento, organizar detalhadamente como deve ser essa transição de carreira e não agir por impulso”, acrescentou.

O outro ponto é entender o motivo do descontentamento com o atual emprego. “Trata-se da cultura da empresa? Os valores que ela possui não são compartilhados pelo colaborador? Tem a ver com a atividade em si? Trata-se de questões como salário, benefícios ou tempo de deslocamento de casa até o local de trabalho? Todos esses questionamentos precisam ser respondidos e compreendidos”, destacou a consultora de carreiras Karine Camuci.

Essa indagação fez a advogada Larissa Nunes começar a planejar a sua mudança para a área de tecnologia. Ela percebeu que não estava mais se identificando com a atual profissão e notou que esse mercado está cada vez mais saturado. “Vejo muitos escritórios pagando pouco e exigindo demais, o comum é trabalhar além de 8 horas por dia. Isso a longo prazo me frustra bastante. Percebo que na área de tecnologia há mais oportunidades empregatícias”, relatou em entrevista à IstoÉ.

O mesmo aconteceu com Marcos Lima, de 29 anos, que era empregado concursado da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na área de gestão de contratos de manutenção e, em 2018, migrou para a área de tecnologia. Essa mudança ocorreu após perceber que a gestão da empresa pública não condizia com os seus valores. “Também percebi que os meus objetivos de crescimento não seriam realizados na CPTM”, afirmou.

Atualmente, trabalha como consultor SAP, profissional que oferece suporte para as empresas durante a implementação e uso do software de gestão. Para isso, Marcos realizou cursos, buscou por conteúdos no YouTube e, enquanto estava na CPTM, procurou se inserir em áreas que exerciam atividades semelhantes.

Procurar adquirir novos conhecimentos é fundamental durante a transição de área. Com o avanço tecnológico, é possível conseguir materiais gratuitos sobre a profissão desejada. É isso o que a advogada Larissa Nunes tem feito, ela voltou a estudar e faz cursos sobre a carreira que deseja exercer.

Desafios

Mesmo com toda a preparação acadêmica, o profissional pode enfrentar algumas dificuldades no momento de tentar uma colocação no mercado. Existem alguns empecilhos como idade e experiência.

Para a advogada Larissa Nunes, o maior desafio tem sido aprender tudo do zero. “É um pouco difícil montar um currículo, sendo que minhas experiências anteriores não contarão muito para a nova área. Além disso, tem a insegurança de que pode dar errado”, desabafou.

Já para Marcos Lima, a maior dificuldade foi abrir mão de um emprego estável e migrar para um outro regime de trabalho. “Também sentia hostilidade por parte dos recrutadores, que viam em um concursado um perfil de risco para a empresa. Chegaram a comentar que a vaga não era para um concursado que teria metas arrojadas. Mas sempre deixei claro que prestei concurso para ajudar a pagar e concluir a faculdade de engenharia na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)”, disse.

Durante a atuação na nova área, ele sentiu hostilidade por parte dos colegas de trabalho, “pois eu demonstrava mais experiência do que eles e isso gerou um senso de concorrência”, acrescentou.

Apoio familiar

A especialista em gestão de pessoas Rosana Daniele Marques frisou que é importante envolver os familiares e outras pessoas ao redor e fazê-las compreender sobre a decisão de mudar de carreira.

Mas isso pode ser um pouco complicado, pois o apoio pode não vir de imediato, como aconteceu com a advogada. Ela relatou que foi necessário explicar aos seus familiares o quanto estava frustrada com a atual profissão para só depois receber o suporte necessário.

Isso se repetiu com Marcos Lima. Segundo ele, a sua família foi contra a sua decisão e dizia que ficaria desempregado e não conseguiria pagar as suas contas. “Mas alguns amigos com mais experiência me incentivaram, pois sabiam que me sentia mal trabalhando em um ambiente desmotivador.”

Para evitar esse tipo de argumento, Rosana Daniele ressaltou que também é importante se organizar financeiramente para realizar a mudança de carreira.

Já a consultora de carreiras Karine Camuci aconselhou a partilhar a decisão apenas com algumas pessoas, pois “a opinião alheia cabe apenas aos outros. Caso a pessoa não queira lidar com esse tipo de situação, ela não precisa compartilhar os seus objetivos com os outros. Apenas com quem realmente será impactado diretamente pela mudança”.

Expectativas com a mudança

Após passar por essas etapas é importante o profissional compreender quais são as suas expectativas com a mudança de área.

“Eu sugiro que a pessoa escreva em detalhes quais são as suas expectativas para a nova carreira. Fazer realmente uma lista do tipo de vida que pretende desfrutar a partir da mudança”, relatou Karine Camuci.

“Sei que isso soa como clichê, mas nunca é tarde para concretizar os seus projetos e alcançar os seus objetivos”, acrescentou.

É isso o que as pessoas esperam quando desejam migrar para outra carreira. “Espero conseguir novas oportunidades, sair da zona de conforto que estou e não me deixa feliz. Só de tentar algo novo já me deixa motivada. Por mais que seja difícil, sinto que é um grande passo”, afirmou a advogada Larissa Nunes.

“Acredito que foi a melhor e mais difícil decisão que já tomei. Depois de cinco anos, vejo que valeu a pena. Ter amor pelo o que eu faço me motivou a crescer na área de tecnologia”, finalizou Marcos Lima.