Uma equipe da Organização Internacional para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) chegou à cidade síria de Duma, nesta terça-feira (17), para investigar os ataques químicos que teriam sido lançados contra essa localidade.
Os especialistas da Opaq aguardam o aval de uma equipe de avaliação de segurança da ONU antes de começar as investigações, informou o embaixador sírio nas Nações Unidas, Bashar Jaafari.
“Se essa equipe de segurança das Nações Unidas decidir que a situação é segura em Duma, a missão de investigação começará seu trabalho amanhã”, declarou Jaafari ao Conselho de Segurança.
Dez dias após o suposto ataque, os especialistas da Opaq chegaram a Duma, onde mais de 40 pessoas teriam morrido sob efeito de gases tóxicos em 7 de abril. Nessa data, a cidade ainda estava nas mãos dos rebeldes.
Em 14 de abril, Estados Unidos, França e Reino Unido lançaram ataques à Síria, em represália ao governo, o qual acusam de estar por trás da ofensiva de uma semana antes.
O governo Bashar al-Assad e a Rússia negaram qualquer envolvimento, acusando os rebeldes de “encenação”, e reivindicaram uma missão da OPAQ para investigar essas “alegações”.
Os especialistas da OPAQ começaram sua missão no domingo, dez dias após o ocorrido, fazendo reuniões com autoridades locais na capital síria. Ainda não tinham visitado Duma.
– ‘Problemas de segurança’ –
Em um contexto diplomático já sensível pelos ataques de sábado, os países ocidentais mantêm suas dúvidas quanto à possibilidade de se encontrar provas.
“Os russos podem ter visitado o local do ataque. Tememos que eles o tenham alterado na intenção de frustrar os esforços da missão da OPAQ para fazer uma investigação eficaz”, declarou o embaixador americano na OPAQ, Ken Ward, na segunda-feira.
“Isso ressalta sérias questões sobre a capacidade da missão de investigação de fazer seu trabalho”, estimou.
Hoje, em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, a França também considerou “muito provável que provas e elementos essenciais tenham desaparecido”.
Já o Reino Unido exortou a OPAQ a “pedir uma prestação de contas aos autores do ataque”, ainda que os inspetores tenham recebido a missão de investigar o uso de armas químicas, mas não de identificar seus responsáveis.
Para os franceses, a prioridade é o desmantelamento total do programa químico sírio.
“A Síria conservou um programa químico clandestino desde 2013”, garantiu ontem o embaixador francês em Haia, Philippe Lalliot.
Em 2013, após um ataque de gás sarin na Guta Oriental, onde fica Duma, que já havia deixado centenas de mortos segundo os ocidentais, o governo Assad acabou aderindo à OPAQ, sob pressão internacional, e assumiu o compromisso formal de declarar todas as suas reservas e não usar mais armas químicas.
Em 2014, a OPAQ afirmou que a Síria havia se livrado de suas armas químicas. Em 2017, porém, uma missão conjunta com a ONU concluiu que Damasco usou gás sarin contra a cidade de Khan Sheikhun (noroeste). Pelo menos 80 pessoas morreram nesse episódio.
Foi nesse contexto de alta tensão que a imprensa síria anunciou, na madrugada de hoje, uma “agressão”, afirmando que mísseis foram abatidos. Retratou-se pela manhã.
“Um falso alerta referente a uma violação do espaço aéreo durante a noite levou à deflagração das sirenes de defesa aérea”, reconheceu a agência Sana, citando uma fonte militar.